O Diana Bar foi o local escolhido para esta
homenagem, onde Régio passou muito do seu tempo. “Faz parte da
nossa vida”, reconheceu José Macedo Vieira, Presidente da Câmara
Municipal, que identifica o espaço 
  como “casa
de cultura que fez parte de muitos casamentos e do estudo de várias pessoas”.
Macedo Vieira
congratulou-se da “sorte que temos em termos entre nós alguém como o Professor
João Marques (a quem apelidou de ‘mestre’), a falar de Régio”. A edilidade
concluiu referindo-se à cultura comum que existe entre a Póvoa de Varzim e Vila
do Conde e ao facto de promoverem iniciativas conjuntas que só demonstra um
acto de maturidade e crescimento. A Vereadora do Pelouro da Cultura de Vila do
Conde, Elisa Ferraz, também manifestou o seu agrado por vir a este espaço, por
ela igualmente frequentado como local de estudo na sua juventude, e onde,
ontem, prestou sentida homenagem a José Régio declamando um dos seus poemas,
“Nossa Senhora”.

“Este
recinto é um café da nossa memória, de múltiplos encontros, múltiplos ócios,
múltiplos convívios mas já foi um café vivo, foi, noutros tempos, um café
animado com gente vinda de variadíssimos lados” assim se referiu o Professor João
Marques ao Diana Bar. Num roteiro de memórias, o Professor falou da ligação de
Régio à Póvoa referindo-se aos dias que este passava na nossa cidade em férias
e frequentava o Póvoa Cine para assistir a sessões diárias de cinema que lá
eram exibidas, passando ainda pelo café deste espaço onde se “sentava a fumar o
seu cigarro e tomar a sua chícara de café”. A sua presença também se verificou
na imprensa local quando em 1945, aquando do Centenário de Eça de Queirós, José
Régio escreveu um artigo sobre Eça no jornal “O Comércio da Póvoa”.

Em determinada altura, o Diana entra mais
fortemente na vida de Régio quando Agustina Bessa Luís vem morar para Esposende
e este café se torna o seu ponto de encontro, contou o Professor, referindo-se,
em seguida, aos temas mais pertinentes nas conversas do escritor, arte popular,
literatura, metafísica e política.  “Régio
foi um coleccionador inveterado de peças de arte, mais concretamente de arte
popular, e era frequentador assíduo da loja do Sr. Carneiro, de antiguidades,
onde ele comprava ou fazia permuta de artefactos” revelou João Marques. Este
aspecto da vida do escritor está retratado na exposição patente no Diana Bar
que faz alusão à sua paixão pelas antiguidades, idas a leilões e antiquários e
às colecções de cerâmica de cariz popular que reunia, objectos etnográficos,
escultura religiosa, nomeadamente figuras de Cristo na Cruz, e outras figuras
de santos. Sobre literatura, Régio “tinha pontos de vista muito seguros e
gostava de grandes romancistas russos como Tolstoi” e no que diz respeito à
metafísica, o escritor “gostava muito de falar da barreira entre o
transcendente e o imanente e logo vinham dois grandes assuntos, o bem e o mal,
dualismo que Régio não conseguia superar e aqui caíamos sempre em Deus”,
continuou o Professor. E a este propósito, João Marques afirmou que “Régio era
um crente, um homem religioso mas não era católico”. No entanto e apesar da sua
admiração pela Virgem Maria e dos títulos religiosos de alguns dos seus poemas,
Régio não aceitava que Jesus fosse uma pessoa ungida de divindade, filho de
Deus. A política era outra das temáticas discutidas e a este respeito o
Professor disse que “Régio foi sempre um opositor ao Estado Novo, que se
insurgia contra a asfixia de liberdade, mas ele foi sempre um homem comedido
nos seus juízos de valor”.

Por intermédio do Dr. Orlando Taipa e do Dr.
Luís Amaro, João Marques conheceu José Régio, no Café Marzim, em
1959, tendo com ele travado uma amizade que lhe permitiu, nesta
palestra, apontar um outro pormenor do temperamento do escritor,
  a sua
sensibilidade, testemunhada por ele em episódios emotivos que partilharam
no Diana Bar.

Homenagem Régio 01

Até 30 de Setembro, não deixe de visitar a exposição «(Re)Visitar José
Régio», patente no Diana Bar, organizada pelo Museu de Vila do Conde, e que tem
como finalidade promover a Casa de José Régio de Vila do Conde, reaberta ao
público. A Casa de José Régio beneficiou de obras que renovaram a fachada e
ampliaram os serviços, permitindo uma melhor apresentação do espólio existente.
Nesta exposição estão patentes a biografia síntese de José Régio, ilustrada com
fotografias de várias idades do poeta, e a obra, organizada por género,
ilustrada com capas dos títulos apresentados. Apresenta também a Casa de José
Régio, com os diferentes espaços que a constituem, através de imagens das
diferentes áreas domésticas, sociais e privadas do imóvel, assim como as
diferentes colecções desenvolvidas por José Régio ao longo da sua vida, agora
expostas no seu espaço de habitação.


José Régio, pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira, é natural de Vila do
Conde, onde viveu e publicou os seus primeiros poemas, nos jornais. Em Coimbra
licenciou-se em Filologia Românica, com a tese, «As Correntes e As
Individualidades na Moderna Poesia Portuguesa.