Póvoa de Varzim, 03.09.2012 - O Diana Bar acolheu, no passado sábado, a iniciativa “Escritores por Ciudad Juárez” que decorreu, em simultâneo com inúmeras cidades do planeta.
De acordo com o
Manifesto lido no início da sessão, o coletivo “Escritores por Ciudad Juárez”
surgiu em memória de Susana Chavez, assassinada a 6 de janeiro de 2011, e em
defesa da dignidade do povo de Ciudad Juárez, vítimas de crime organizado. “Celebramos, no dia
1 de setembro, o encontro “escritores por Ciudad Juárez”, um ato que vai muito
para além de literatura e criação artística, um encontro que pretende mover
consciências e despertar a solidariedade a todos os povos e cidadãos do mundo
que se queiram unir a esta manifestação contra a violência e a impunidade.
Desde a primeira edição do encontro, em setembro de 2011, lutamos com as únicas
armas que conhecemos, as palavras, para denunciar o silêncio cúmplice daqueles
que apoiam o crime, como forma de recuperar os espaços públicos e o convívio e
de fazer passar ao mundo outra mensagem e outra imagem de Ciudad Juárez, que
nada tenha a ver com os assassinatos e com o narcotráfico”. (Manifesto por Ciudad
Juárez)
Na nossa cidade,
deram voz a esta causa Valter Hugo Mãe, Eduardo Faria (Varazim Teatro), Ivo Machado, Inês Botelho, Joana de
Sousa (Varazim Teatro), Paulo Lemos (Varazim Teatro), Joana Soares (Varazim
Teatro), Alberto Serra e Miguel Miranda. Aurelino Costa, João Manuel Ribeiro,
Manuel Rui, Rui Zink e Salgado Maranhão, na impossibilidade de estarem
presentes, enviaram textos.
Valter Hugo Mãe leu alguns poemas do poeta brasileiro Lêdo Ivo, selecionados
a pensar na violência, nas várias formas de violência e por ser Lêdo Ivo, um
dos seus poetas de eleição e ter escrito alguns poemas que se adequam à
situação.
Eduardo Faria optou por ler um poema de Joaquim Castro Caldas, que se
estivesse cá, estaria ali, no entender de Eduardo Faria, “porque era um homem
de causas”, e declamou os poemas escritos e enviados por Rui Zink e por João
Manuel Ribeiro.
Ivo Machado leu dois poemas seus, um dos quais escrito para assinalar o
momento, e um poema do espanhol Uberto Stabile, um dos grandes impulsionadores
desta iniciativa à qual aderiram centenas de pessoas e que se realizou em muitas
cidades dos cinco continentes. Deu ainda voz ao poema “Relíquia” de Salgado
Maranhão.
Já Inês Botelho recitou um tríptico de sua autoria, inspirado na realidade
violenta de Ciudad Juárez.
Joana de Sousa, acompanhada à guitarra por Paulo Lemos, escolheu os poemas enviados pelo Aurelino Costa e pelo
poeta angolano Manuel Rui, enquanto Joana
Soares escolheu dois textos do blogue escritoresporciudadjuarez,
poemas de Dunia Sánchez Padrón e de Manuela Bodas
Puente (Espanha), tendo terminado a sua intervenção com um poema de sua autoria
com uma mensagem de Esperança, contra a violência do silêncio de quem já não
responde.
Por sua vez, Alberto Serra trouxe
Sophia de Mello Breyner Andresen, que “estaria e está através dos textos”,
explicou, com esta e com todas as outras causas.
Miguel Miranda terminou a sessão com a
leitura do seu texto “Mulheres de Ciudad Juárez, mártires de causa nenhuma”,
escrito para assinalar o momento e como forma de repugnância pelos feminicídios: “Neste insensato talho em que Ciudad Juarez está
transformada, todos estão à espera. Uns, de atingir o sonho; Alguns, de lucrar
com os sonhos dos outros; muitos apenas de viver. De viver em paz e segurança.
De poder adormecer com um sorriso, a pensar no dia de amanhã. Outros estão à
espera que se faça justiça. E nós, de que estamos à espera?”.