871 anos depois, a
Estela adoptou esta data como Dia Oficial da Freguesia. O programa comemorativo
decorreu durante um mês e terminou ontem à noite numa cerimónia que foi uma
autêntica viagem de regresso ao passado. Através da projecção de pequenos
filmes e fotografias, Alberto Eiras deu a conhecer lugares e tradições da
Estela dos anos 30, 60 e 70.

O retorno às origens
também foi testemunhado por Isaías Gomes dos Santos que, emocionado falou dos
seus conterrâneos, “povo bom que reza e trabalha” fazendo jus ao ora et labora cultivado pelos monges
beneditinos. Para além da influência beneditina, referiu-se à circunstância da
Carta de Couto e ainda a outros dois aspectos que completam as causas e
alavancas do povo estelense: Estela está numa das rotas da Via Láctea de
Santiago de Compostela e trata-se de um território pertencente à Casa de
Bragança. Sobre o carácter e maneira de ser das pessoas da sua terra, afirmou que
têm propensão para se associarem sem interesse e praticam o culto pela mãe,
facto provado pela padroeira da freguesia – Senhora do Ó (símbolo de
fecundidade). Sobre os costumes ancestrais do povo estelense, Isaías Gomes dos
Santos escreveu o livro Da Estela com
saudade
, lançado ontem.

Isaías Gomes dos Santos
Isaías Gomes dos Santos

Para além dos
testemunhos destes dois estelenses, a sessão contou ainda com uma recriação da
doação da Carta de Couto protagonizada pela Associação Cultural e Recreativa
Estelense e pelo Grupo Independente da Estela.

recriação doação carta couto

O Salão do Grupo
Desportivo Cultural e Recreativo Senhora do Ó estava repleto de uma plateia de
estelenses que orgulhosamente assistiram à sessão e reviveram as suas origens.
Estiveram também presentes José Macedo Vieira, Presidente da Câmara Municipal
da Póvoa de Varzim, bem como o restante executivo camarário, Armandino
Domingues, Presidente da Junta de Freguesia da Estela, José Ferreira Martins,
Pároco da Estela, e ainda os representantes de todas as associações da
freguesia.

De modo a reconhecer
o envolvimento e a dinamização das associações da Estela e a colaboração do
município no programa comemorativo, a Junta de Freguesia atribuiu-lhes medalhas
de reconhecimento. Foi ainda entregue a José Ferreira Martins, pároco da
freguesia, uma réplica da Carta de Couto como forma de agradecer toda a sua
dedicação à comunidade da Estela.

Profundamente
emocionado, o prior, que há 38 anos dirige a paróquia, afirmou que “não saberia
viver noutro local” e “amo a Estela como se fosse a minha terra”.

pároco Estela

Em jeito de balanço,
Armandino Domingues constatou que o programa comemorativo foi vivido pelos
estelenses com enorme entusiasmo e todas as associações deram o seu contributo
com dinamismo e força. Todas as iniciativas, que contaram com a colaboração do
município, “foram pequenos momentos com grande significado”, acrescentou. Por
fim, o responsável pela freguesia instigou o seu povo: “é necessário percorrer
um caminho por nós trilhado para chegar mais longe”, manifestando o desejo de
celebrar anualmente o aniversário da Estela.

José Macedo Vieira saudou a Junta de Freguesia da
Estela pelas iniciativas que organizou, reconhecendo a Estela como “uma terra
com tradição cultural” e que tem “um povo trabalhador”. Sobre a intervenção de
Isaías Gomes dos Santos, afirmou que “foi uma lição de vida pelos conhecimentos
e informações que transmitiu”. O autarca referiu-se também a Alberto Eiras que
“traduziu de forma sábia as memórias do tempo, a vida comunitária dos
estelenses, marcada pelo convívio e afectos” e ao prior que, “apesar de ser natural
de Bagunte, diz ser da Estela manifestando o amor à terra que serve há quase 40
anos”. O edil definiu como “uma injecção de optimismo e vitalidade” os
ensinamentos e vivências destas três personalidades.