Embora ambos tenham sido concebidos para o público mais jovem, os dois livros tratam de assuntos fraturantes da sociedade, o racismo, a xenofobia e o abuso de menores. Para os autores e editor de A Aldeia Verde e Vermelha, Paulo M. Morais (escritor), Sandra Sofia Santos (ilustradora) e Afonso Cruz (editor), a tolerância e a aceitação são facilmente compreendidas pelas crianças. O que os preocupa é quando os adultos não compreendem estes termos e não os praticam.

Tino Freitas escreveu Leila depois de ter visitado uma escola no Brasil e ter sentido o desconforto de uma menina de nove anos ao ouvir a sua voz de perto. A voz masculina tinha despertado memórias na criança que se escondeu atrás da professora: “eu, sem querer, tinha-a levado outra vez para um sítio mau das suas lembranças”. Abuso sexual pode, à primeira vista, parecer um tema complexo para um livro infantil mas Tino Freitas e Thais Beltrame, ilustradora, contam a história de Leila de maneira delicada, sem afugentar os leitores. A história é um ótimo instrumento para que todas as crianças entendam que ninguém pode tocá-las sem consentimento. 

Os autores presentes nesta sessão concordam que nem todas as crianças vão perceber exatamente do que tratam estes livros. Cada uma irá interpretar à sua maneira e é mesmo isso que se pretende, que as metáforas utilizadas em ambas as obras as remetam para experiências diferentes.