Numa iniciativa
organizada pelo Museu Municipal, o recuo às origens desta vila românica contou
com a participação de quase duas centenas pessoas, entre as quais meia centena
eram espanhóis.

A presidir às
actividades, D. Afonso Henriques, na pessoa de Luís Diamantino, Vereador da
Cultura da Câmara Municipal, que deu as boas vindas aos amigos galegos que se
encontravam em peregrinação a Santiago de Compostela, pelo caminho marítimo.
Aportaram na Marina da Póvoa de Varzim e tiveram a oportunidade de participarem
nesta recriação histórica em São Pedro de Rates, explicou. À Vereadora de Vigo,
Raquel Diaz, que acompanhava o grupo, o autarca dirigiu algumas palavras
manifestando que os nossos vizinhos espanhóis têm sempre as portas abertas e,
como tal, “que esta seja a primeira visita de muitos encontros que venhamos a
ter”, expressou.

Os representantes
das diferentes entidades envolvidas nesta peregrinação marítima do caminho de Santiago
também quiseram apresentar publicamente os seus cumprimentos e fazer algumas
trocas de ofertas.

Manuel Real,
Director do Arquivo Histórico Municipal do Porto e um dos maiores conhecedores
da história da Igreja de São de Rates, tomou da palavra e deu uma completa e
fundamentada lição sobre aquele que considera ser “um dos monumentos românicos
mais emblemáticos em Portugal”. Vários foram os motivos apontados pelo
Doutorando em Museologia para esta designação, nomeadamente: pela sua
antiguidade e dimensão; por estar ligada ao processo de formação de Portugal;
por Rates ser uma via do Caminho Português de Santiago; por ser uma referência
no estudo da arquitectura da época românica em Portugal de Manuel Monteiro.
Para além disso, Manuel Real referiu que a Igreja de São Pedro de Rates “é uma
janela de observação para o Passado e um bom exemplo de escultura popular pela
particularidade das esculturas estarem legendadas. As epígrafes são um caso
singularíssimo do Românico Português”.

É também um marco do
Românico estrangeiro em Portugal porque sendo uma produção de artistas
nacionais tem algumas tendências internacionais, designadamente, francesas,
informando que “este mosteiro foi doado pelo Conde D. Henrique e D. Teresa, em,
1100, ao Priorado cluniacense de La Charité-sur-Loire, em França. Os franceses
eram pessoas bastante cultas. Em Portugal, a escultura é muito simples e quase
não tem discurso. A Igreja de Rates fala bastante com ensinamentos do Evangelho.
A representação de cenas do Antigo e Novo Testamento é um detalhe da
arquitectura do românico em Portugal”, informou.

Para o investigador,
“o próprio monumento deixa ver-nos aspectos diferenciados da sua História” e
isso permite-lhe concluir que o monumento é anterior ao nascimento de Portugal.
Para além disso, “vários documentos da época evocam a existência de Rates”,
disse.

“Esta igreja é uma amálgama
e está cheia de anomalias”, afirmou Manuel Real referindo diversos aspectos do
seu processo de construção e reconstrução e algumas vicissitudes que o
justificam.

Depois da
conferência, a iniciativa continuou com um banquete com “sabor medieval”
servido na Casa do Lavrador acompanhado por música da Idade Média a cargo do
grupo “Jogralesca”.

Se não teve oportunidade de participar nesta
viagem, não perca a próxima que já sexta-feira, 5 de Agosto. Saiba mais aqui.