“Escolhi seis mitos
a que vou responder com seis verdades”, iniciou o Eurodeputado, que tratou logo
de apresentar o primeiro mito, o do “orgulhosamente sós”. Explicando que o
regime ditatorial de Salazar “fechou o país”, levando à crença de que os
problemas de Portugal se resolveriam apenas em Portugal, Carlos Coelho
rapidamente fez ver que “a globalização destruiu esta ideia e hoje os países mais poderosos sabem
que não podem resolver os seus problemas sozinhos.” E para ilustrar esta ideia
valeu-se do exemplo da Islândia, um país que até há três meses gozava de uma economia
estável e de uma moeda forte. “Hoje está quase na falência, apresenta problemas
políticos e já quer entrar na União Europeia.” Por isso, o Eurodeputado
acredita que no mundo global em que vivemos, defender o “orgulhosamente sós” é
condenar um país ao insucesso. “Nós dizemos que a união faz a força”, reforçou.

A transferência de
soberania é outro dos mitos apontados, segundo o qual na União Europeia há decisões
que deixam de ser tomadas pelos órgãos de poder nacionais e são tomadas por
outros países. “Estamos a garantir que os órgãos comunitários façam o que nos
interessa”, contrabalançou Carlos Coelho, servindo-se da frase “não se está a
transferir soberania, está-se a partilhá-la”, de François Mitterrand.  

O terceiro mito,
relacionado com o mercado comum, tem como base a livre circulação de
mercadorias, de capital e de serviços e, posteriormente, a livre circulação de pessoas. “Não
há fronteiras internas, o que significa que as fronteiras externas passaram a ser comuns.” Isto coloca desde
logo um problema de segurança a todos os países do Espaço Schengen e, como tal,
foi criado o SIS – Sistema de Informação de Schengen, que possibilita o acesso
à mesma informação por parte de todas as fronteiras sobre um cidadão que queira
entrar num determinado país. Por isso, a livre circulação de fronteiras levou a que haja
“um reforço da nossa segurança” e não o contrário. Este mito está relacionado
com o mito da Política de Imigração Nacional. “Num espaço de livre circulação
sem fronteiras isso é condenado ao fracasso”, afirmou, pois cada país tem a sua
própria política. Logo, nada impede uma pessoa de entrar num país onde essa
política seja mais branda e depois circular por outros países da União
Europeia. A regulação da imigração legal e o combate à imigração ilegal é a
solução apontada por Carlos Coelho, até porque não se pode esquecer o
envelhecimento da Europa. “Na última década 11% dos novos habitantes são
‘nossos’. Os restantes são imigrantes”, acrescentando ainda que “até 2030 nós
vamos precisar de 21 milhões de imigrantes para resolver as necessidades do
mercado de trabalho.”

Carlos Coelho

O mito de que o Tratado
de Lisboa não é necessário também foi focado. De facto, com o alargamento da
União Europeia, que de 15 países passou para 25 em 2004 e logo de seguida para
27, surgiu uma crise institucional. Isto porque as regras de funcionamento não
acompanharam o crescimento da União Europeia e as votações por unanimidade são
hoje o paradoxo das dificuldades nos processos de decisão, pois basta um país
discordar para que a vontade dos 26 países restantes fique bloqueada. “Insistir
em decisões por unanimidade é uma loucura”, afiançou Carlos Coelho, e por isso
o Tratado de Lisboa “é necessário para agilizar e simplificar os mecanismos de
decisão da União Europeia.”

Por último, o
Eurodeputado apresentou o mito de que “A Europa não é nossa”, isto é, a ideia
que prevalece entre os portugueses de que somos “cidadãos europeus de segunda
classe.” Por isso, e porque “só somos europeus porque somos portugueses”, o
exercício da cidadania assume vital importância. Em termos de participação nas
eleições europeias, Portugal continua a
ser um país que está na cauda da Europa. “A política tem horror
ao vazio: se não participarem, outros participam por vós.”

Apresentados
os seis mitos abriu-se espaço para a discussão e colocação de perguntas pelos presentes.
José Macedo Vieira, que elogiou a simplicidade e clareza da exposição de Carlos
Coelho, colocou também algumas questões e opinou sobre vários assuntos, como o
modelo da Presidência da União Europeia, que, face ao alargamento da UE “tem de
ser mudado”. Partilhou com os presentes a sua opinião de que o Presidente da
União Europeia “deve ser legitimado pelos Europeus” e não deixou de mostrar as
suas preocupações face ao orçamento comunitário e também ao problema do envelhecimento
da Europa e da imigração. Ao encerrar a sessão, não deixou de felicitar a EB
2/3 de Aver-o-Mar pela organização desta iniciativa e de elogiar as questões, pertinentes,
e a preparação dos alunos presentes. “Nada é dado como ponto assente, não há
certezas, nunca houve. O mundo está em constante mudança, e isto aplica-se às
organizações políticas e económicas assim como às ideologias”, afirmou.
Realçando o período de crescimento da Europa no pós-II Guerra Mundial, “que foi
um exemplo para todo o mundo”, o autarca lançou um aviso para o futuro: “num
período de crise, o país só cresce dependendo daquilo que conseguirmos fazer.”

praça pequenos pintores
Praça dos Pequenos Pintores

Esta palestra marcou o encerramento da Semana da
Europa, organizada pela EB 2/3 de Aver-o-Mar. Fazer da escola uma força viva
foi um dos objectivos alcançados pela organização desta iniciativa e que, como
referiu Carlos Sá, Director Executivo da escola, envolveu os alunos nas mais
diversas actividades. A Praça dos Pequenos Pintores foi uma das iniciativas que
mais satisfação gerou entre os participantes. Organizada com o apoio da
Associação de Amizade Póvoa de Varzim / Cidades Geminadas, convidou alunos a
partilhar um espaço de pintura que lhes permitiu confraternizar com outros
alunos da escola e dar asas à sua criatividade. A Semana Gastronómica Europeia
foi outra das iniciativas de sucesso a que os alunos aderiram, “a cantina
registou mesmo um aumento de alunos”, afirmou Carlos Sá. Fora da escola, os
alunos organizaram um café-concerto no Diana Bar, onde através da poesia,
declamada em diferentes línguas, da música, de vários autores europeus, e da
dança, em vários géneros, apresentaram uma Europa construída de diversidades
mas nem por isso menos unida.