Tratou-se de uma sessão muito concorrida, em que a autora do livro “Um instante com 100 anos” resumiu, na sua perspetiva, o que de mais importante aconteceu na Póvoa de Varzim ao longo das primeiras 5 décadas do século passado. Na verdade, o convite à poveira foi para uma apresentação sobre a totalidade dos 100 anos, mas esta considerou que seria mais proveitoso para o público apenas uma abordagem de metade do século XX.

E a sessão decorreu de forma tão interessante, que, no final, a responsável pelo Arquivo Municipal convidou Emília Nóvoa Faria a voltar em breve para a segunda parte de uma História, que envolve toda a comunidade com grande vivacidade.

A oradora apontou diversos acontecimentos marcantes ao longo de cada uma das décadas sobre as quais se debruçou, explorando depois, mais em detalhe, um tema destacado por si como sendo o mais emblemático daquele período de tempo.

Assim, a resenha começa na primeira década (1903/1910) com a fundação do jornal O Comércio da Póvoa de Varzim (1903), de resto o destaque deste período de anos. Emília Nóvoa Faria sublinhou que, se hoje podemos fazer a História do século XX, a este periódico (que tem em Santos Graça um dos fundadores) o devemos, dado o próximo acompanhamento que realizou ao longo dos 108 anos da sua existência de todos os eventos na comunidade poveira. No entanto, a oradora titulou estes 10 anos de “A década do Associativismo”, tendo em conta que esta foi a idade de ouro do associativismo, com a criação de 12 novas associações, que espelham a época em que “os poveiros adquiriram uma consciência de classe”.

A segunda década (1911/1920) é a “década das Mudanças”, na sequência da Implantação da República, dando-se também a nível local muitas mudanças de índole política. Além disso, ficam a marcar a Póvoa de Varzim desta altura acontecimentos como a inauguração pela empresa de carros americanos da “carreira” entre a Praça do Almada e a Praia de Banhos (em 1918). O destaque nesta década vai para o Varzim S.C., fundado em 1915, a partir de um grupo de jovens amigos que queriam jogar futebol, mas que também dedicaram a atividade da associação ao remo e à natação.

A terceira década (1921/1930) é a da “Modernidade”, dando-se na cidade um grande crescimento como polo de atração turístico. Em 1923, é inaugurada a iluminação elétrica; em 1924, o Guarda-sol é a novidade do verão; em 1928, é assinado em Lisboa o contrato para a concessão do jogo da Póvoa de Varzim; em 1929, é inaugurada a rede telefónica. O destaque desta década vai para a 1ª Festa Marítima Portuguesa também, conhecida localmente como a 1ª Festa dos Pescadores Poveiros, e que foi organizada pelo jornal nacional “O Século”, que relata um grande sucesso neste evento que projetou a Póvoa de Varzim a nível nacional.

A quarta década (1931/1940) foi apelidada por Emília Nóvoa Faria de “década do crescimento”, destacando-se a inauguração do Monumental Casino da Póvoa (1934) e do Palácio Hotel (1939). Também foi neste período que Santos Graça publicou “O Poveiro” (1932), que foi construída a esplanada da rotunda do Carvalhido (1933) e inaugurado o Póvoa-Cine (1938), entre outros eventos, que ajudaram a consolidar o crescimento e desenvolvimento da cidade, como centro de veraneio e de polo cultural e de recreio.

A quinta década (1941/1950) é denominada pela oradora como a década do «Ala-Arriba!». Foi o filme de Leitão de Barros que mobilizou toda a comunidade e voltou a ajudar a projetar o nome da Póvoa de Varzim em todo o país. O filme estreou em 1942, no Teatro de S. João, no Porto. Mas esta década também fica marcada por alguns eventos funestos, como um “medonho furacão” que, em 1941, deixa um rasto de destruição na Póvoa de Varzim, ou ainda o incêndio que destruiu a Fábrica de conservas A Exportadora, em 1946, deixando mais de 100 pessoas desempregadas.