O segundo Ciclo de Música Sacra de São Pedro de Rates começou ontem com uma conferência na magnífica igreja românica da freguesia, onde vão decorrer, a partir do dia 4 de Maio, os cinco concertos programados para este ciclo.
“Uma onda de som divino: o cantochão que Rates
produziu” foi o tema escolhido por José Maria Pedrosa, doutorado em Ciências
Musicais Históricas pela Universidade de Coimbra, para abrir esta iniciativa. Uma
conferência essencial para perceber as raízes da música sacra, nomeadamente a
que há mais de 900 anos se ouviu na igreja românica de São Pedro de Rates.
O título continha, em si, uma súmula perfeita das
ideias que o historiador abordou ao longo de pouco mais de uma hora. Partindo da
“onda de som divino”, José Maria Pedrosa demonstrou a intrínseca ligação entre
a música e a celebração da liturgia,
devido a esse carácter “misterioso” que a música possui na sua origem.
Um mistério presente na dimensão encantatória da música, que seduz, o que
dificilmente se explica com argumentos racionais, e que acabou por dar uma
dimensão divina à música. Ouvir música nas igrejas, durante a celebração das
liturgias, ou compor música para as celebrações religiosas, nada, pois, mais
natural, como afirmou o conferencista, referindo-se, nomeadamente, a São Pedro
de Rates: “esta igreja não é uma obra de arte muda. Fez-se para ser povoada
pela palavra e pelo som”.
Templo na encruzilhada dos caminhos de Santiago,
também ele com uma profunda dimensão de mistério na sua origem, pela igreja de
São Pedro de Rates se ouviram os sons ancestrais do ancestral canto romano
antigo, do canto hispânico ou visigótico e do canto gregoriano, sub-espécies do
cantochão, um canto de melodia simples.
Com o recurso a alguns exemplos práticos, José Maria
Pedrosa fez ouvir ao público presente os diferentes tipos de canto, concluindo
que em Rates permaneceu um cantochão genuinamente local, definido pela
sacralidade e pelo respeito pela religião.
No dia 4 de
Maio, às 21h30, começam os concertos deste segundo Ciclo de Música Sacra com um
encontro de coros paroquiais que, sob o tema “A Música nas celebrações do
Arciprestado de Vila do Conde/ Póvoa de Varzim”, reúne O Coro Infanto-juvenil
do Círculo Católico de Operários de Vila do Conde, o Grupo Coral dos
Adolescentes da Paróquia de Terroso, o Coro Paroquial de S. Simão da Junqueira
e o Grupo Coral Paroquial de S. Pedro de Rates.
No dia 6 de
Maio, às 18h30, actua o Coro Escolânia San Salvador, de Oviedo, sob a direcção
de Gaspar Muñiz Alvarez, reflectindo os percursos musicais nos Caminhos de
Santiago. A música gregoriana chega no dia 13, às 18h30, pela interpretação do
Coro Gregoriano de Lisboa, sob a direcção de Maria Helena Pires de Matos. No
dia 20, às 18h30, actua o grupo Capella Antiqua, de Aveiro, dirigido por
António Mário e a música nos Caminhos de Santiago regressa no dia 27 de Maio,
também às 18h30, com o Coro Solo Voces,
de Lugo, dirigido por Fernando G. Jácome.