“Heroína dos tempos modernos, a mulher da Póvoa de ontem era diferente da de hoje”, afirmou o jornalista poveiro referindo-se às suas singularidades e filosofia de vida.

Enquanto o homem se limitava a ir à pesca, a mulher fazia tudo o resto. Era ela quem fazia a “economia da casa, negociava e amealhava”, contou. Para além disso, competia-lhe tratar dos filhos e dar-lhes educação. Esta tarefa, por si só, já seria mais que suficiente tendo em conta que os casais tinham muitos filhos, sendo que achavam que “quantos mais filhos tivessem, mais amparo teriam na velhice”.

Neste sentido, José de Azevedo comparou gestão da casa à do Governo, na qual “à mulher cabia todas as pastas”. Prova deste matriarcado é outra das curiosidades revelada: “nas alcunhas dos homens, vingava o nome das mulheres”.

O baptizado, namoro e casamento também foram abordados, assim como a devoção aos Santos e a religiosidade, por um lado, e a crença em superstições, por outro, ambas presentes nos poveiros.

Para retratar algumas destas facetas, José de Azevedo contou com a participação de Clarisse Marques e Carlos Gonçalves de Castro, que recriaram episódios típicos da comunidade piscatória.

Seguiu-se a ceia para se saborearem os paladares da gastronomia dos nossos antepassados, acompanhada pela animação musical do Coro Grupo Esperança Jovem da Lapa.

O Serão Poveiro foi, assim, o quarto e último evento de animação nos centros históricos da Póvoa de Varzim, que permitiu experimentar a vivência da nossa comunidade piscatória, nomeadamente compreender como eram, como viviam e o que comiam e bebiam.

Ninguém melhor do que José de Azevedo para falar da história do nosso povo, ele que é, como referiu Luís Diamantino, “poveiro da ponta dos cabelos à ponta dos pés”. Trata-se de “alguém que todos gostamos muito de ouvir e tem coisas interessantíssimas para contar”, acrescentou.

O Vereador do Pelouro da Cultura aproveitou a ocasião para recordar como era, outrora, a sua noite de Natal, “não tínhamos quase nada, mas tínhamos muita alegria”. “Uma bacia cheia de bacalhau, batatas e legumes regados com azeite fervido com colorau, o molho fervido que só na Póvoa se sabe fazer era a ceia”, lembrou.