Um momento definido por Luís Diamantino, Vereador da Cultura, como “duas excelentes aulas de literatura” protagonizadas por duas professoras de Português e apaixonadas pela literatura, Luísa Dacosta e Conceição Nogueira.

Luísa Dacosta focou a sua intervenção no livro literário por considerar que estes é que são verdadeiros livros e nos quais não se incluem os informativos. A professora recorreu à leitura de um texto de Eça de Queirós, “As Catástrofes da Emoção” para mostrar precisamente a diferença, que ela considera abissal, entre informativo e literário. “O informativo, quando não nos toca pessoalmente, é indiferente enquanto que o literário permite-nos ser outro, humaniza-nos e torna-nos cada vez mais solidários”, advertiu Luísa Dacosta, acrescentando que só um livro literário permite a multiplicação da vida.

Conceição Nogueira começou por manifestar a sua preferência pelo ensaio crítico na área da Literatura citando o nome de alguns ilustres ensaístas que muito contribuíram e continuam a contribuir para a sua formação literária: Eduardo Lourenço, Carlos Reis, Isabel Pires de Lima, Paula Morão, Hélder Macedo, Maria Teresa Rita Lopes, e muitos outros especialistas – alguns já falecidos, mas sempre actuais – Jacinto do Prado Coelho, José Augusto Seabra -, “que nos ajudam a descobrir o valor literário dos livros”.

A professora aproveitou ainda para, num “curto momento de «derivação»”, prestar a sua homenagem a Agustina Bessa-Luís, que considera ser uma grande romancista portuguesa que “tem o condão de nos fazer reflectir sobre a humanidade em geral, sintetizando o seu pensamento em «verdades» de valor intemporal”.

“E porque estamos a tratar do valor literário dos livros, permitam-me que estenda um pouco mais este «tempo de derivação» para dizer o que aprendi com (…) Fernando Pessoa”, continuou Conceição Nogueira referindo-se aos heterónimos Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos e ao Pessoa Ortónimo, sublinhando que “cada heterónimo e o próprio ortónimo é uma ficção de Fernando Pessoa, procurando descobrir-se a si próprio e ao Mundo.”

Conceição Nogueira concluiu repetindo o que havia lido há dias, “«Só se aprende a escrever, lendo. Quem não lê não sabe escrever»”, acrescentando que “penso que hoje se escreve mais do que se lê. Podemos, então, perguntar: Como será essa escrita?”

A propósito da temática “o valor literário dos livros”, Luís Diamantino manifestou a sua preocupação com a excessiva publicação a que se assiste actualmente. “Publica-se demais. Escreve-se demasiado porque temos muitas pessoas a escrever, o que não significa que sejam escritores”, referiu o professor. Perante esta situação, “o leitor tem que ser cada vez mais exigente e seleccionar aquilo que lê”, continuou, dizendo que “há livros muito bons” e deixando a sugestão de dois autores brasileiros, Carlos Drummond de Andrade e Machado de Assis.

À tarde, os alunos das escolas participantes no projecto “Vamos passar o Testemunho IV” reuniram-se no Auditório Municipal para apresentarem os seus trabalhos. Este ano lectivo, a história fala-nos sobre um pássaro ferido que nos levou a conhecer um pouco mais algumas freguesias da Póvoa de Varzim, fazendo referência a locais históricos como a Capela de São Félix e a Cividade de Terroso. Rocha Peixoto também é mencionado na história, numa altura em que a Póvoa comemora o 1º centenário da sua morte, a propósito da sua faceta de arqueólogo, tendo realizado os primeiros trabalhos arqueológicos no início do século XX na Cividade, uma das mais importantes estações arqueológicas da Cultura Castreja do Noroeste Peninsular.

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As escolas que aceitaram o desafio do serviço educativo da biblioteca – ludoteca e participaram nesta actividade foram EB1 Fieiro (Aguçadoura), EB1 Aldeia Nova e EB1 Refojos (Aver-o-Mar) e as EB1 Nova e EB1 Desterro (Póvoa de Varzim). “Vamos passar o Testemunho” é uma actividade de incentivo à escrita para o público escolar, criada no ano lectivo 2004/2005, que promove nas crianças a indução da escrita aliada à ilustração. Através deste projecto, os alunos de uma turma de determinada escola iniciam uma história, ilustram-na e passam-na a outras turmas e assim sucessivamente perpassando todas as escolas envolvidas.

Também os utentes do Lar de Idosos da Santa Casa da Misericórdia puderam desfrutar de uma tarde dedicada aos livros através de uma Sessão Especial de Leitura Sénior promovida pelo serviço educativo da biblioteca que se dirigiu à instituição para uma conversa sobre o prazer e fruição da leitura e outras sensações que esta nos pode provocar. O projecto Leitura Sénior teve início no dia 23 de Abril de 2007 e desde então tem cumprido o seu objectivo de estimular a imaginação e ocupação dos tempos livres dos utentes de terceira idade dos Lares de Idosos e Centros de Dia do concelho. Com esta actividade cumpre-se uma dimensão inovadora da acção dos Serviços Educativos da Biblioteca, levando os livros e a leitura fora de portas procurando incentivar a criação de hábitos de leitura e de fruição cultural.

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A propósito do Dia Mundial do Livro, decorre na Biblioteca Municipal, até ao final deste mês, a campanha “Novos Leitores” que contempla a oferta de uma edição municipal a quem se inscrever como leitor. Já usufruíram desta campanha mais de 60 pessoas e entre as publicações mais requeridas encontram-se duas obras da Colecção Na Linha do Horizonte – Biblioteca Poveira: o número um da colecção, Histórias do mar da Póvoa e o número 14 Poveirinhos pela graça de Deus, ambos de José de Azevedo. Por isso, se ainda não é leitor da Biblioteca, inscreva-se até ao dia 30 e receba um livro.

E porque Abril é por excelência o mês do Livro e da Leitura, no dia 21 foi lançada em Paris a Biblioteca Digital Mundial pelo Director-Geral da UNESCO e pelo Director da Biblioteca do Congresso. Este projecto foi desenvolvido por uma equipa da Biblioteca do Congresso e conta com a parceria de 32 instituições, entre as quais se conta a Biblioteca de Alexandria e diversas Bibliotecas Nacionais e instituições culturais e educacionais de vários países. A plataforma (http://www.wdl.org/pt) disponibiliza acesso gratuito a manuscritos, mapas, livros raros, filmes, fotografias e gravações, estará disponível em árabe, chinês, espanhol francês, inglês, português e russo. Um dos objectivos é o de aumentar o volume e a variedade de conteúdos culturais disponíveis na Internet em diferentes línguas, e também o de contribuir para a investigação científica e promover o entendimento internacional.

A nível europeu, também existe uma biblioteca digital designada Europeana (http://www.europeana.eu/portal/), um projecto que teve início em Julho de 2007 e prevê, em 2010, dar acesso a milhões de objectos digitais, incluindo filmes, fotografias, pinturas, músicas, mapas, manuscritos, livros, jornais e documentos de bibliotecas e instituições culturais dos países da União Europeia.

As ligações para estas bibliotecas digitais estão, a partir de agora, alojadas no portal municipal.