“O bom filho à casa
torna.” Esta expressão popular aplica-se a José Milhazes, jornalista poveiro a
viver na Rússia há mais de 30 anos, que regressou à sua cidade natal para
lançar o seu terceiro livro: A saga dos
portugueses na Rússia
. O encontro entre o autor e o público aconteceu na
passada sexta-feira à noite, no Diana Bar.

Como Luís
Diamantino, Vereador do Pelouro da Cultura, referiu, “está muita gente à tua
espera porque és um dos nossos”. De facto, o espaço recebeu, como o próprio
José Milhazes contabilizou, “muitos amigos do tempo do Liceu, muitos
familiares” e, até, “amigos do Facebook”.

Mas, vamos ao motivo
que levou à publicação da obra. Duarte Azinheira, editor da Imprensa Nacional
da Casa da Moeda, começou por contextualizar a sua empresa: “A cunhagem das
moedas, os cartões de cidadão, os passaportes electrónicos, os livros de
reclamações e a edição do Diário da República são algumas das tarefas da
Imprensa Nacional da Casa da Moeda. E, outra das funções é editar obras de
elevado valor cultural”. Segundo este editor, há alguns anos que há uma
preocupação para chegar a um público mais vasto. Sendo A saga dos portugueses na Rússia a tese de doutoramento de José
Milhazes, “noutros tempos,
limitar-nos-íamos a editá-la como tal, o que seria, de certeza, um trabalho de
referência para académicos e investigadores. Mas, pensamos que é de todo o
interesse fazer chegar esta obra a um público diferente. Por isso,
transformámos esta tese num livro fantástico”.

José Milhazes
explicou que “este trabalho é fruto de muitos anos de acumular de papéis em
gavetas”. Para o autor, “há a ideia de que a História é uma coisa chata,
principalmente teses de doutoramento, por isso, tentei que este livro fosse um
livro de histórias”. E foi de histórias que se fez o resto da noite, como a de
Ribeiro Sanches, médico português, cristão-novo, que, por causa da Inquisição
no século XVIII, teve que exilar-se na Rússia. É a este português que se deve o
primeiro estudo dos banhos russos, prática que consiste em mergulhar em águas
geladas depois de se ser submetido a altíssimas temperaturas. Ou a história da
receita de strogonoff. A filha da Marquesa de Lorna foge para a Rússia depois
de se envolver com o General Junot. Lá, acaba por casar com um homem muito mais
velho. “Reza a história que esta senhora partia a carne em pedaços pequenos e
cozinhava-a num molho para que o seu marido conseguisse alimentar-se, já que
não tinha dentes”, brincou José Milhazes.

O jornalista também
se referiu a Eça de Queirós: “é um dos escritores estrangeiros mais traduzidos
em russo. Quando o governo queria lançar uma campanha anti-religiosa, editava
novamente A Relíquia e O Crime do Padre Amaro. Se Eça de
Queirós soubesse que os seus livros serviriam este propósito, provavelmente não
os teria escrito”.

Mas, para saber todas as histórias de A saga dos portugueses na Rússia, nada
como adquirir o livro e ficar a conhecer a terceira obra de José Milhazes. Como
o próprio adiantou, “talvez para o ano lance o quarto”.