José Macedo Vieira,
Presidente da Câmara Municipal, acompanhou o autor nesta sessão de lançamento, lembrando
que José Milhazes partiu para a União Soviética ainda novo, para estudar e que,
por isso, “participou num dos episódios mais marcantes do século XX, seguiu de
perto esta grande transformação que foi a queda do Muro de Berlim e a mudança
de regime”. Por isso, o autarca considerou ser uma honra receber José Milhazes,
que, por ser ocidental “pode ter uma visão diferente da nossa”.

A Carlos Mateus, outro velho amigo
do autor, coube a apresentação do autor e da obra. Caracterizando José Milhazes
como um homem que “frequentou os lugares certos e conheceu as pessoas certas”, sendo
por isso o seu percurso marcado por um “conjunto de coincidências felizes”,
Carlos Mateus recordou que José Milhazes colabora com a imprensa portuguesa,
escrita, falada e audiovisual. Sobre a obra, apresentou algumas questões, como
o porquê de escrever um livro sobre Angola quando José Milhazes “é europeu e
anti-colonialista”. No entanto, e como referiu, Angola – O princípio do fim da União Soviética é um “volume
cuidado”, feito a partir da consulta de documentos e entrevistas a agentes
políticos da altura. “Vê-se que a façanha não foi fácil, houve dificuldades na
investigação, já que a história ainda é secreta”. É um livro sobre a relação
dos movimentos militares de libertação de Angola com a União Soviética e sobre os muitos
militares soviéticos que estiverem em Angola e que são hoje veteranos
esquecidos. “É sempre um prazer ouvir falar o José Milhazes porque diz o que
sabe e sabe o que diz”, concluiu.

angola o principio do fim

“Tenho duas
profissões muito próximas – historiador e e jornalista e vi-me
confrontado com dados que em Portugal não eram conhecidos”. Assim justificou
José Milhazes a investigação que levou a este livro. “Em Portugal já há
bastante literatura escrita pelos que assistiram aos conflitos em Angola”,
considerou, relembrando que se fazem referências à participação americana “mas há
lapsos quanto à intervenção soviética. Queria tapar esta lacuna, claro que não
consegui, isto é apenas o princípio. É um tema que está em movimento, daí que
isto levou a que me interessasse cada vez mais”. Com Angola – O Princípio do Fim da União Soviética, José Milhazes
pretende também desmistificar alguns aspectos da máquina soviética. “Alguns
mitos ficam na cabeça das pessoas como verdades absolutas. Por exemplo, o mito
de que a direcção
soviética era precisa como um relógio. Era sim um centro de discussões. O que transparecia
para fora era a decisão já tomada, que muitas vezes não era a mais correcta”.

Sobre as razões que levaram
ao fim da União Soviética, José Milhazes aponta sobretudo razões económicas. Referindo
que as guerras dentro da Guerra Fria eram feitas no 3º mundo, o jornalista explicou que a
URSS gastou quantias astronómicas em armas e munições em Angola. A máquina
soviética foi incapaz de suportar os custos relacionados com a alimentação dos
soldados ou com o armamento nuclear, situações agravadas pelos inúmeros conflitos
regionais em África. “O que ganharam? Não ganharam muito, porque não tinham uma
economia inteligente para aproveitar as riquezas de Angola. O modelo implantado
foi fraco, como por exemplo, a criação de comunas agrícolas”. Outro mito que
José Milhazes tenta aclarar é o mito de que “a URSS ditava como se fazia o que
não é bem verdade. Muitas vezes, os dirigentes africanos ouviam conselhos e
faziam exactamente o contrário”. Assim, no final, “quem mais perdeu foram os
angolanos, pois passaram muito tempo consecutivo em guerra”.

Daqui, partiu-se para uma conversa com o público sobre o
livro, o presente e futuro da Rússia, um país enorme, com uma balança de
importações e exportações desequilibrada, marcado pela corrupção. Um país que
se não der o ‘salto’ agora corre o risco “de ficar sempre para trás”. Mas como
José Milhazes referiu, “os dirigentes ocidentais também não são santinhos”.