Foi num ambiente de recordações e partilha
de histórias do mar que os conferencistas convidados apresentaram os seus
trabalhos.

Ivone Baptista Magalhães, arqueóloga
subaquática, deliciou os presentes com um discurso dedicado às mulheres do mar
da Póvoa. “No passado, era com base no sexo que se distinguiam as profissões”,
afirmou a filha de faroleiro, dando a conhecer o inventário de profissões das
mulheres do mar, desde as que directamente se relacionam com a pesca (redeiras;
peixeiras; pescadora) àquelas que se ligam ao sal (salineira) e apanha de algas
(sargaceira). A Póvoa de Varzim, a maior comunidade sardinheira do país desde o
século XVIII, perdeu o lugar para as praças de Olhão, Setúbal, Figueira da Foz,
Aveiro e Matosinhos. As paisagens marítimas que desapareceram nos últimos anos
são paisagens que fazem parte da nossa memória colectiva e cultural. O nosso
quotidiano trouxe mudanças, resta-nos a memória. Ivone Magalhães terminou
citando Manuel Lopes, “Só a memória enriquece e alimenta”.

“Memória e Viagem” foi o título escolhido pelo Dr. Luís Martins para a palestra apresentada sobre a emigração
poveira para o Brasil. Foi com base na memória de pescadores poveiros que com
ele partilharam as suas histórias de mar e numa “viagem” pelos Livros de
Inscrição Marítima da Póvoa de Varzim do século XIX que o investigador escreveu
a sua tese de doutoramento. Este trabalho será publicado pela Câmara Municipal
e integrará a colecção “Na Linha do Horizonte/Biblioteca Poveira”, com o título
Mares Poveiros. A obra resulta de um
levantamento exaustivo realizado em documentos disponibilizados pela Biblioteca
e Arquivo Municipal com a colaboração da Capitania da Póvoa de Varzim. O
antropólogo considera que, concluído o trabalho de arquivo, falta agora
completar a componente etnográfica da investigação para a qual conta com a
colaboração de todos os homens ligados ao mar.