Póvoa de Varzim, 10.10.2011 - Mais de uma centena de pessoas viajou no tempo na passada sexta-feira.
O destino foi “A
Póvoa no arranque do século XIX: uma vila pré-balnear” e quem guiou esta viagem
foi Sandra Amorim, directora da Escola Profissional de Esposende e com vários
trabalhos publicados sobre a Póvoa de Varzim, a conferencista convidada pelo
Museu Municipal para o terceiro serão, realizado no âmbito da iniciativa
“Sabores da História”.
Depois
dos serões medieval e castrejo, desta feita o Museu levou-nos até à Póvoa dos
banhos. Luís Diamantino, Vereador do Pelouro da Cultura, informou que, “mais
uma vez, as inscrições esgotaram, o que demonstra a qualidade do evento.
Aproveitamos para cultivar as amizades e desenterramos algumas roupas do fundo
do baú”. Todos os participantes vestiram, literalmente, o papel de uma
personagem. Banheiros, banhistas, pescadores e pescadeiras circulavam pelo
edifício com grande à vontade. O Museu Municipal emprestou a maior parte dos
trajes aos participantes, mas aqueles houve que levaram os seus próprios
lenços, saias e camisas alusivos ao século XIX.
€10 foi
o preço estipulado pela organização para participar neste Serão Balnear. Luís
Diamantino explicou que “a cultura não tem, necessariamente, que ser gratuita.
Os estádios de futebol estão quase sempre cheios e as pessoas pagam muito por
um lugar”. O autarca informou, ainda, que foi estabelecido um protocolo com a
Cinemateca no qual o município subsidiará o restauro de um documentário
realizado em 1951 intitulado “Um dia na Póvoa de Varzim”.
Sandra
Amorim começou por sublinhar a importância deste evento na criação de futuros
públicos: “É com grande satisfação que vejo muitas crianças aqui. Este é um dos
papéis fundamentais dos museus.” A historiadora sublinhou que a Póvoa de Varzim
foi a pioneira das estâncias balneares e “Cascais e Foz do Douro seguiram o
quadro implementado pela Póvoa e os banhos quentes”. Em 1825, a vila, uma das
mais pobres e populosas do reino, tinha seis mil habitantes, pescadores na sua
esmagadora maioria. Depois das colheitas, entre Agosto e Novembro, a população
duplicava com gentes vindas de províncias do Minho e de Trás-os-Montes.
Sandra
Amorim, na sua conferência, fez uma visita guiada pela Póvoa do século XIX. Com
a construção da Igreja Matriz, o centro da vila situava-se nessa zona. Somente
com a construção dos Paços do Concelho e, mais tarde, da Praça do Almada, é que
o centro do comércio e dos negócios se mudou para esta área. Seguimos para a
Praia da Ribeira, a sul do paredão, local de comércio do pescado, depois para a
Fortaleza Nossa Senhora da Conceição, mais conhecida como castelo, o centro da
actividade económica ligada ao peixe, e fomos ainda à zona de Areosa, que
assumiu protagonismo no arranque do século XIX com a função de acolher os
banhistas. Era aqui que as modas trazidas pelas pessoas vindas de fora eram
apreciadas.
Os mais
antigos indícios da prática balnear remontam a 1736. Clérigos do Minho,
principalmente do Mosteiro de Tibães, vinham acompanhados de criados e
permaneciam em casas alugadas. Em 1776, a prática tinha-se tornado comum.
Como a
historiadora explicou, “ir a banhos não significava banhar-se no mar. Banhos de
água salgada quente eram tomados em casa, com a ajuda de mulheres contratadas
para trazer a água até às casas dos banhistas”. Assim nasceu o negócio dos
banhos quentes. Em 1838 já funcionava na Rua da Junqueira o estabelecimento de
Joaquim Martins do Rio.
Com
tantas pessoas a frequentar a vila, o desenvolvimento de outras actividades era
inevitável. O crescimento da prática balnear levou à criação de actividades de
lazer e teatro e cafés começaram a surgir na vila para entretenimento dos
visitantes. Entretenimento foi, também, o que não faltou neste Serão Balnear.
Depois da visita guiada por Sandra Amorim pela Póvoa de outros tempos, o Museu
Municipal convidou os participantes a experimentarem uma refeição da época,
sopa de castanhas, arroz de frango e leite creme. O jantar foi animado por um
grupo de concertinas e pela música clássica de Ana Luísa Marques.
Se perdeu esta oportunidade, saiba que ainda tem
três possibilidades para viajar no tempo e experimentar “Sabores da História”:
Serão Romano (dia 29 de Outubro), Serão dos Descobrimentos (dia 4 de Novembro)
e Serão Poveiro (dia 25 de Novembro).