O arquitecto poveiro abordou o conceito, a origem,
a evolução, o presente (e talvez o futuro) destas áreas, com o intuito de informar
um pouco mais sobre esta temática.

Quanto ao conceito, esclareceu que
peão, ou pedestre, é uma pessoa que viaja a pé, a andar ou a correr. Na
actualidade, o termo refere-se a qualquer transeunte que caminha numa rua, mas
na Europa, historicamente, pode não ser esse o caso.

Hoje em dia, a maioria das vias
são rodoviárias, possuem um passeio anexo exclusivamente para o trânsito de
peões e em muitos casos para ciclistas, existem no entanto ruas exclusivas para
peões (com acesso eventual de viaturas: ambulâncias e carros de bombeiros),
ruas para todos, mas com prioridade para os peões e ciclistas (Woonerf) e vias
exclusivas para carros (as auto-estradas), proibidas a peões e ciclistas,
informou.

Referindo-se à origem das cidades,
Miguel Loureiro revelou que uma das mais antigas cidades do mundo (entre 10.000
a 7.000 A.C.) é
 Çatal Huyuk,
descoberta em escavações no centro sul da Turquia, e entre as mais antigas,
frutos do desenvolvimento agrícola, destacam-se as localizadas na Mesopotâmia,
construídas pelos caldeus, cerca de 5.000 a 6.000 anos A.C., sendo as mais
famosas, Ur e Uruk. O arquitecto referiu-se ainda às cidades gregas, romanas, medievais
e às “Plazas Mayores”.

Entretanto, “nos finais do século
XIX e início do século XX, depois da descoberta do motor de combustão interna,
chegaram os primeiros automóveis, mais velozes e por isso mais perigosos para o
peão e obrigando a novas alterações da malha urbana, com a adaptação dos
arruamentos e a construção de novos, bem mais largos, dando-se a prioridade a
este novo senhor”, continuou.

E tal com hoje, aconteceu mais uma
guerra (na Europa) para deitar abaixo o que tanto custara a erigir, obrigando à
reconstrução de muitíssimas cidades no pós guerra, que com a democratização do
automóvel obrigou a novas estruturas urbanas, que deram mais uma vez e mais
vincadamente a supremacia a todos os meios de transporte motorizados, relegando
o peão. Ao mesmo tempo, surgiam novas teorias urbanísticas, destacando-se a
Carta de Atenas, que pretendiam repor a importância do homem na cidade e
desenhá-la em seu proveito e para sua defesa, o que deu início, na década de
50, na Europa, à recriação de ruas e praças exclusivas para peões, renovando os
cascos medievais, mas mais vocacionadas à promoção do comércio. Na Póvoa de
Varzim, nos finais da década de 50, surgiu a primeira rua pedonal, já
exclusivamente comercial e trajecto natural para a zona balnear.

Sobre a situação actual, Miguel
Loureiro constatou que “a função estritamente comercial deixou de ter o peso de
sempre e as exigências dos cidadãos para a criação de ruas pedonais passaram
mais por um factor para a qualidade de vida, pela melhoria do ambiente urbano e
consequentemente pelas repercussões positivas na saúde pessoal. Para além de
questões técnicas, há alterações estruturais, ambientais, comerciais,
económicas e sociais, que acontecem consequentemente, umas boas (Melhoria da
qualidade ambiental; Melhoria do trânsito; Promoção da residência no centro;
Melhoria das ruas traseiras de acesso; Mais transeuntes; Mais vendas; Melhoria
das lojas e das fachadas; Aumento do preço dos terrenos e imóveis; Aumento das
rendas; Proporcionar actividades sociais, culturais e de ocupação de tempos
livres; Funcionamento depois do fecho do comércio), outras más (Desvalorização
das ruas adjacentes; Desvio de pessoas para estas zonas, com sobrecarga de
trânsito nas ruas adjacentes; Criação de mais estacionamento; Abandono das periferias
e deslocalização dos negócios pequenos e médios; Aumento do preço dos terrenos
e imóveis; Aumento das rendas; As funções não comerciais resistem com
dificuldade; A habitação torna-se de luxo). Para além disso, referiu-se aos dez
princípios do Novo Urbanismo: Pedestrianização; Conectividade; Uso Misto e
Diversidade;
Habitação mista; Arquitectura e
Design Urbano de qualidade; Estrutura tradicional de bairro; Aumento da
densidade; Transporte inteligente; Sustentabilidade; Qualidade de vida.

Quanto ao futuro, o arquitecto deixou a seguinte
reflexão: “perante a situação financeira, económica e política em que vivemos,
hoje e agora, perante a realidade com que já nos cruzamos nas nossas ruas, hoje
e agora, em que a presença chinesa se impõe com a nossa complacência e
colaboracionismo, tudo o que dissemos aqui sobre a evolução da cidade para o
homem, talvez tenha sido perda de tempo, ou apenas cultura geral, já que
seremos aculturados pela sinologia e teremos em troca por tudo o que
defendemos, umas “Chinatowns”, sem regras nem qualidade, apenas com a
preocupação comercial, o que dará origem a nova secundarização do peão com a
fuga do centro da cidade para umas “reservas” na sua periferia.”