Ao assumir hoje, pela quinta vez, o compromisso de honrar a confiança que os meus concidadãos me outorgaram, com renovada maioria absoluta, quero partilhar com os Poveiros e as forças vivas do concelho dois sentimentos que, na sua aparente contradição, se complementam.

O primeiro é esta sensação (que porventura outros, em circunstância análoga, também terão experimentado) de concluir 16 anos de serviço à causa pública com a energia da primeira hora, a mesma determinação, a mesma capacidade de sonhar e de empreender. Não busco, para isso, nenhuma explicação científica, elaborada, nem sequer entre aquelas que os manuais de ciência política alvitram.

É muito simples: é noção de serviço à causa pública mas sobretudo à minha Terra, é esta energia que se anima e se renova de cada feito, de cada conquista, de cada concretização idealizada.

E o segundo sentimento, que radica neste primeiro, manifesta-se na convicção (e na felicidade a ela inerente) de poder orgulhar-me da obra que, em conjunto, realizámos – uma obra cuja dimensão e profundidade esboça o modelo de cidade que há 16 anos idealizámos e que, a um ritmo por vezes superior às nossas melhores esperanças tem vindo a ser concretizado, alimentando em cada momento a utopia do passo seguinte.

Lembrando o conhecido diálogo dos 2 filósofos: – Eu não gosto da utopia – dizia um. – É como o horizonte: quanto mais andamos, mais ele se afasta. – Ao que o outro replicou: – É por isso mesmo que eu gosto dela: porque nos permite avançar.

De modo que a sensação de dever cumprido se confunde com a consciência da imensidão do que há a fazer, num clima que propicia a convicção de que vamos voltar a realizar.

Feita esta confissão, quero que saibam, meus caros conterrâneos e amigos,

que a todos estou muito grato pela confiança que, uma vez mais, renovaram no projecto político que apresentei a sufrágio.

E que é esse projecto, naturalmente aberto às sugestões e às propostas das outras forças políticas, que vai ser implementado a partir de agora. Porque esse foi, de facto, o projecto político sufragado – e não é agora, no meu último mandato como Presidente da Câmara, que me desviarei do rumo traçado.

Percebemos alguns sinais através do voto dos nossos concidadãos. Designadamente, o facto de ter havido diferenciação nas escolhas para o termo do mandato talvez mais operoso e de maior relevância sócio-económica para o futuro do nosso concelho.

Eu sabia – nunca o escondi – que este era um momento único e irrepetível para a consolidação do modelo de desenvolvimento que os Poveiros vinham repetidamente sufragando, gerador de padrões de qualidade de vida cujo custo é, na actual conjuntura, de difícil acesso para boa parte da nossa população.

Sabia, pois, que a opção implicava danos políticos colaterais – a que não me furtei, em nome do interesse geral que sempre coloquei acima da efémera e circunstancial vantagem eleitoral. Recusei hipotecar o futuro. Recusei a demagogia do facilitismo e do reconhecimento político imediato.

O que prometi, cumpri. Porque não partilho a opinião, agora corrente e politicamente correcta, segundo a qual “a política é arte de governar com o máximo de promessas e o mínimo de realizações”, ou a ideia de que “em política, é indispensável um certo grau de eleitoralismo ou mesmo facilitismo para a liderança efectiva”. Bem pelo contrário, e porque entendo que a ética deverá estar presente na política como está presente na vida, assumo, que “nada pode ser politicamente certo se for eticamente errado”.

Ou seja (e concluindo esta nota): percebi a mensagem dos Poveiros – hoje, como sempre, sábios na sua sentença, que a história e o tempo, esse grande escultor, confirmará.

Quero, neste momento que renova as nossas melhores esperanças, saudar todos os eleitos: aqueles que me acompanharão na Câmara (a quem darei e de quem seguramente receberei igual empenho na busca das melhores soluções para a condução do nosso destino colectivo), mas também os que integrarão a Assembleia Municipal, parceiro institucional a que garanto total abertura e disponibilidade para, em conjunto, encontrarmos os melhores caminhos para continuarmos a fazer da Póvoa de Varzim um bom exemplo nacional em termos de desenvolvimento sustentado.

Àqueles que, na Câmara e na Assembleia Municipal, cessam hoje as funções para que foram eleitos há 4 anos, agradeço toda a colaboração prestada que foi da maior importância para a solidez e convicção das decisões tomadas.

Quero deixar aqui uma nota de particular reconhecimento ao Presidente cessante da Mesa da Assembleia Municipal, Sr. Dr. Álvaro Moreira, pela elevação, pela consensualidade e pela dedicação com que dirigiu e prestigiou o órgão cimeiro da administração local, espaço por excelência do debate político e de exercício da cidadania. O Dr. Álvaro Moreira, cuja amizade e solidariedade política muito me honram, fica associado a páginas bonitas da nossa história recente, que aliás ajudou a escrever.

A Póvoa fica-lhe em dívida porque raros são os nossos conterrâneos cuja entrega e dedicação foi tão bem desempenhada.

E se, há instantes, manifestei disponibilidade total para o diálogo com todas as forças políticas que têm assento no próximo executivo – e essa abertura pressupõe, obviamente, o acolher das sugestões e propostas que possam melhorar o projecto político sufragado – reafirmo também, claramente, que é este o programa a que estou vinculado e de cujo cumprimento não abdicarei. Reconheço, no entanto, que há, entre os vários projectos que estiveram em confronto, pontos de encontro e traços de união, que potenciam o diálogo em ordem à decisão que melhor sirva os interesses da comunidade.

Creio, aliás, que a conclusão da rede de saneamento (e a aposta, que faremos, na manutenção da sua gestão como competência do município), o avanço do Parque da Cidade, a construção da Ecopista e do novo Mercado, a reabilitação do Garrett e do parque escolar, a implementação de políticas sociais proactivas, a revisão dos impostos municipais que impendem sobre o património, a delegação de mais competências e recursos nas Juntas de Freguesia, o apoio a uma maior intervenção da sociedade civil, a implementação de estratégias que potenciem o crescimento económico da cidade, alavancado na Cultura, no Lazer e no Conhecimento – tudo isto, caros Amigos, são exigências que, a curto e médio prazo, sustentam os grandes objectivos estratégicos do crescimento e do desenvolvimento do nosso concelho.

E são projectos em torno dos quais o consenso político é possível e necessário.

As dificuldades dos tempos que vivemos, e cujos reflexos sobre a estrutura das receitas municipais se vão agravar nos próximos anos, colocando em causa a sustentabilidade do modelo tradicional de financiamento da administração local, imporão a necessidade da mudança do paradigma – aliás de toda uma revisão geral do quadro de funcionamento do poder local na área quer das competências, quer dos meios.

Quero, com isto, dizer que às dificuldades já sentidas se juntarão outras, porventura mais graves, dado o actual quadro da lei das finanças locais, elaborado num período e num contexto económico-social do país – período de crescimento económico – que nada tem a ver com o momento que se vive quer a nível nacional, quer internacional.

Será, pois, neste contexto que todos os eleitos serão chamados à colaboração em nome dos superiores interesses do concelho, a que nenhum outro pode sobrepôr-se.

Tudo farei – tudo faremos – para que, no final do mandato que agora se inicia, possamos ter a satisfação de ver cumpridos os grandes objectivos que os Poveiros nos confiaram, para que o nosso concelho se imponha, cada vez mais, como um espaço de qualidade de vida, solidário, competitivo, ganhador.

Terminada a contenda eleitoral, é tempo de iniciarmos um novo período, substituindo as quezílias (pessoais e políticas) pelo diálogo e pelo debate.

Como sempre, garantirei o primado do interesse público e a estabilidade institucional necessária para que, serenamente, o município esteja à altura dos novos desafios.

E tal como disse, há 16 anos, na minha primeira tomada de posse, o que prometo é: Trabalho, trabalho, trabalho.

Muito obrigado a todos.

Póvoa de Varzim, 28 de Outubro de 2009

O Presidente da Câmara

José Macedo Vieira