Os escritores que visitaram a escola Secundária Eça de Queirós, esta manhã, foram Teolinda Gersão; Carlos Quiroga; Joel Neto e Milton Hatoum. A missão destes quatro escritores era falar sobre a seguinte frase de um poema de Sophia de Mello Breyner “Aprendi a viver em pleno vento”.

Os quatro escritores andaram pela escola e tiveram a oportunidade de ver a exposição de fotografia “Retrospectiva” do fotógrafo José Carlos Marques e do fotógrafo Rui Maio Sousa. Nesta exposição os dois fotógrafos apresentam locais e autores, que forma fotografando, ao longo, destes anos do Correntes d’Escritas.

Ainda antes de a conversa começar, quatro alunos presentes, no Auditório da escola Secundária Eça de Queirós, fizeram a apresentação dos escritores e outro grupo de jovens leu o poema de Sophia de Mello Breyner “Para atravessar contigo o deserto do Mundo” de onde foi extraída a frase que deu o tema à conversa.

Teolinda Gersão foi a primeira a falar, mas antes de mergulhar no tema, deu os parabéns aos alunos e professores da escola Secundária Eça de Queirós, pelos bons resultados atingidos. De seguida, contou com muito pormenor seu percurso escolar, desde criança até ter chegado um dia à Universidade de Coimbra. Numa família numerosa, em que estudar e tirar um curso, naquela altura, não era tão fácil, teve a sorte de um amigo dos avós, com quem viveu a irem buscar para prosseguir os seus estudos e nunca a deixaram desistir. Completou esta história relembrando que “vocês têm o direito ao ensino, mas tem o dever de estudar e de se interessarem pelos estudos”, porque efetivamente, os jovens de hoje em dia têm a sorte de a educação ser muito acessível.

A escritora recordou o presente mais bonito que recebeu no Natal. “O meu pai era médico e ajudava as crianças e adolescentes que tinham um comportamento menos bom” e Teolinda Gersão recebeu uma mensagem no Facebook, de um dos adolescentes que o seu pai tinha ajudado, onde agora um homem feito, com uma família e jornalista, lhe agradecia por um dia o pai da escritora se ter cruzado na sua vida. Terminou, dizendo que se um escritor numa escala pequena conseguir levar o leitor a repensar o Mundo o seu papel já está cumprido. “Por isso, não se arrependam de ajudar as pessoas”.

A conversa continuou com Milton Haltoum que foi direto à frase de Sophia de Mello Breyner, “eu aprendi a viver em pleno vento quando vim embora da minha cidade aos 15 anos”. O escritor foi para Brasília para estudar arquitetura, antes tinha frequentado o liceu, também em Brasília. Longe da família e dos amigos, Milton Halotoum começou a aprender a viver. Depois de se ter formado em arquitetura e uns anos mais tarde, deixou a arquitetura e dedicou-se à literatura.

Entretanto, recordou os tempos de criança, em que não havia televisão e o seu maior divertimento era ouvir histórias contadas pelos seus avós, essas histórias e a literatura eram os ingredientes que alimentavam o seu imaginário.

Logo ao lado de Milton Hatloum estava sentado Joel Neto, que imediatamente, exclamou “nem me vou arriscar a fazer um comentário, ou falar sobre o verso de Sophia” e acrescentou “adorava ter tido um percurso escolar como o da Teolinda, mas não aconteceu.” Então, a partir daí, contou como surgiu a ideia de depois do secundário se matricular no curso de Relações Internacionais. “Quando olho para trás vejo que aprendi no liceu que as grandes decisões da minha vida iam ser tomadas por amor” e assim foi, o escritor só entrou para o curso de Relações Internacionais, porque tinha uma paixoneta por uma rapariga que ia frequentar esse curso. A ideia de ser escritor apareceu cedo, “no liceu já sabia que ia ser escritor”, não porque gostasse de escrever, mas porque tinha ouvido uma professora a dizer que escrevia bem. Então algum tempo depois, resolveu começar a escrever e ganhou o gosto pela escrita. Mas não foi só o facto de gostar de escrever que levou Joel Neto a enveredar por este caminho, foi também a ambição de mudar o mundo, que todos os dias vai ficando mais forte. O escritor pensa que o verso de Shopia de Mello Breyner também mostra que a escritora gostaria de mudar o Mundo e terminou acrescentando “façam sempre planos até ao fim das vossas vidas”.

Carlos Quiroga foi o último a intervir e lembrou que já tinha estado na escola Secundária Eça de Queirós há uma década atrás, portanto o Correntes d’Escritas já faz parte da sua vida há muito anos. Nesta manhã contou aos alunos a história da sua vida, desde que nasceu, até ao momento presente e salientou que viveu numa aldeia pequena com os seus avós e foi aí que começou o seu percurso escolar. Mais tarde, voa para outras cidades e resolve tirar o curso de arquitetura, porque gostava imenso de desenhar e de fazer ilustrações. No entanto, era na escrita e na literatura que encontrava conforto, apesar de saber que as letras não davam de comer a ninguém, mas era algo que gostava muito de fazer desde pequeno.

Terminou explicando que não escreve livros para vender, ou ser um dos escritores mais vendido, escreve porque tem prazer a escrever, no fundo escreve porque quer.

Quando começou a escrever “não sabia que a literatura podia vir a dar-me amigos, assim como, o Correntes d’Escritas me deu”.

Já no final lembrou a tão célebre frase de Fernando Pessoa “não sou nada, nunca serei nada, não posso querer ser nada… Mas tenho em mim todos os sonhos do mundo” do poema “Tabacaria” e acrescentou “eu tenho todos os sonhos na literatura e tenho aprendido a viver entre o vento e a tempestade”.

 Já acabada a conversa, os alunos de quatro turmas de 12º ano tiveram a oportunidade de colocar questões aos escritores.

Presente nesta atividade esteve o Vereador da Cultura e da Educação, Luís Diamantino, ex- aluno e ex- professor da Escola Secundária Eça de Queirós.