Com mais de 600 lugares disponíveis, dez minutos antes do início da 4ª Mesa já não era possível encontrar nenhuma cadeira vaga. Mas, este facto nada pareceu importar ao público que, esta tarde, se deslocou ao Axis Vermar para ouvir Ana Luísa Amaral, Golgona Anghel, João Moita, Margarida Ferra e Valter Hugo Mãe. “De correntes e cont(r)a-correntes se faz a poesia” foi o tema da “Mesa” moderada por Isabel Pires de Lima.

Para Ana Luísa Amaral, “a poesia é sempre uma forma de ser contra. Talvez um dos traços da poesia seja a liberdade – e que me perdoem os ficcionistas, mas a poesia talvez esteja menos sujeita às leis do mercado. A poesia move-se em espaços que não podem ser controlados nem confinados e que escapam sempre à lógica habitual da linguagem e da vida biográfica. Mas a poesia é verdade, no sentido de estar aberta para o ser. Daí que, como a arte, ela seja imperfeição”. Para a poeta, “a poesia pode ser uma forma de resistência”.

“Quando recebi o convite, pensei que me tivessem convidado devido a um erro de casting ou a uma má contagem de votos. O meu trabalho é no talho e passo o dia a encher chouriços – aliás, essa é a minha especialidade”.  Golgona Anghel, principiante no Correntes d’Escritas, conquistou o público logo nas primeiras frases que disse. Curioso com a voz meiga da escritora, o público foi sorrindo, no início, rindo e emocionando-se depois. “Se aceitei vir à Póvoa de Varzim, foi também para a tirar do mapa, salvar Portugal dos portugueses. A palavra poética é aquela que desloca, que inventa um lugar”.  

João Moita esclareceu que “a poesia não se faz de correntes ou contra-correntes. A poesia faz-se de solidão. É em solidão que a escrevemos e em solidão que a habitamos. Ou melhor, investirmo-nos da sensibilidade poética é investirmo-nos da nossa solidão, inundarmos a mudez do mundo com o halo de uma autenticidade que nos pertence e que a ele reclamamos, por vezes, quendo é excessivo em nós não encontra eco no silêncio fechado do que nos rodeia”.

Para o autor “a poesia é a linguagem que utilizamos para falar aos deuses, não aquela com que eles nos respondem. A poesia não comunica o incomunicável, mas comunica-se com o incomunicável. Ela não atua sobre o homem, ele é que atua através dela, libertando-se do seu excesso, fazendo-se enfrentar com o que transcende e o que, por o transcender, lhe escapa”. João Moita terminou a sua apresentação citando “o conselho que Rilke dá ao jovem poeta – eu, afinal, sou um jovem poeta – e que me parece resumir aquilo que estou a tentar dizer. Diz ele: “temos de aceitar a nossa existência, por mais longe que ela chegue; tudo nela tem de ser possível, mesmo o inaudito. É no fundo esta a única forma de coragem que nos é exigida: que encaremos ousadamente o mais estranho, o mais fabuloso e o mais inexplicável”.

Margarida Ferra começou por explicar que “o meu pai aconselhou-me a não fazer afirmações genéricas sobre a poesia. Tenho 36 anos e dois filhos, mas ainda sigo os conselhos do meu pai – apesar de nunca o deixar ler poemas inéditos meus. Devia, seguindo o conselho do meu pai, ter recusado participar nesta mesa: de facto, não sei de que é feita a poesia em geral. Mas devo à Póvoa de Varzim mais do que o meu avô materno, que aqui nasceu e que havia de emigrar para o Brasil e trazer genes tropicais à família”. A poeta afirmou não saber o que dizer sobre como se faz a poesia, “e tenho, aliás, dúvidas recorrentes sobre o valor poético – se é ou não poesia – daquilo que tenho vindo a fazer nos intervalos da minha vida, vou contar-vos o que puder sobre como fiz os 51 poemas que constituem a minha obra publicada. Ou seja, muito pouco”” queber o que dizer que presentaçu ao Axis Vermar para ouvir areceu importar ao par outra vez, começar o que jde quem nuem a mi.

Margarida Ferra explicou que “sou, primeiro, leitora. Apesar de ler menos do que penso, leio mais poemas do que outros textos – leio mais poemas do que notícias, leio mais poemas do que romances, contos, peças de teatro e só leio mais poemas do que emails porque me chegam muitos poemas também assim. Quando era pequena pensava que ia escrever ficção. Enganei-me. Na verdade, não tenho histórias para contar. Sou, provavelmente, demasiado económica para a narrativa em prosa”.

“Ser sujeito e objeto daquilo que escrevo é tão falso como a nossa capacidade de reconhecer a palma das nossas mãos entre outras mil ou outras cinco. Conhecemos melhor as chávenas que seguramos do que a parte de nós que as segura”, concluiu Margarida Ferra.

Valter Hugo Mãe finalizou esta “Mesa” lendo dois textos, “um malcriado e um bem-criado”, despertando cada um diferentes emoções no público. A história de um pedófilo que oferecia cromos ao escritor e a um amigo, o Chiquinho, e de uma senhora que os espiava a fazer xixi contra uma parede e dizia que os dois tinham formas muito poéticas.

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