João Paulo Sousa, Raquel Patriarca, Cristina Valadas, Carmo Neto e Vergílio Alberto Vieira foram os escritores convidados do painel, que contou com a moderação do jornalista João Gobern.

Carmo Neto, vindo de Angola, procurou responder ao desafio, apontando dois caminhos para a busca do sentido do texto literário: “primeiro, o que está escrito; segundo, quando encontramos a verdade escondida, o livro do leitor”. E afinal um livro dá origem a “centenas de livros dos leitores, sendo que, em comum, têm apenas o facto de todos esses leitores terem lido o mesmo e único livro”.

Assim, “dentro de um livro habitam outros livros”, concluindo Carmo Neto que a Literatura abre-se a diversas perspetivas.

Cristina Valadas, ilustradora ou “pintora de ilustrações”, como a definiu João Gobern, reforçou essa visão, recorrendo ao universo da imagem, que lhe é mais familiar. Para a autora, a primeira imagem que lhe surgiu quando soube do tema da mesa foi a de “um livro e um espelho, mais um espelho, e outro e outro…uma infinidade de possibilidades”. Todas estas dependem do leitor, defendeu Cristina Valadas, “o leitor tem a fórmula, quando lê o livro, o que dele retira está relacionado com a sua experiência pessoal e com a maturidade adquirida, pois o mesmo leitor pode ter diferentes leituras”, consoante a altura em que lê o mesmo livro.

Outra imagem apresentada por Cristina Valadas foi a de jogar PlayStation: “o que joga é o que lê, existem imensas possibilidades”.

João Paulo Sousa apresentou um texto que revelava precisamente as diferentes possibilidades de abordagem de um tema. E contou que tinha pensado em utilizar a perspetiva do escritor e as perspetivas diversas que se colocam ao narrador, mas quando conversava com uma amiga sobre o tema que tinha sido proposto pelo Correntes d’Escritas, esta referiu de imediato que a sugestão apontada era para a perspetiva de quem lê: “pensei debruçar-me sobre o processo de criação do verbo, quando a intervenção da minha amiga fez com que tivesse que descer à posição do leitor”.

João Paulo Sousa lá foi dissertando sobre esse processo de criação ao longo dos séculos, citando diversos autores, como Thomas Bernard, Proust, Virgílio Ferreira… porém, referindo sempre que “era isto que eu queria ter escrito” para trazer aqui hoje…

O escritor terminou admitindo que cometeu “um erro de perspetiva” vendo-se obrigado “a reequacionar” todo o seu texto, procurando acomodar-se à “posição de quem lê”. Mas “desconfiei logo que, depois de explicar cuidadosamente o meu equívoco e dele me penitenciar, não haveria de sobrar tempo para, no fim, abordar devidamente o tema”, concluiu o escritor.

Raquel Patriarca apresentou a sua reflexão recorrendo à infância e como iniciou o seu contacto com os livros e os textos. A escritora e bibliotecária apresentou um texto em “três metades”, como designou. Uma primeira, sobre quando “tinha muitos sonhos”; a segunda sobre o seu avô, um guarda-livros que tinha uma “fascinante capacidade de guardar objetos, de os colocar num lugar próprio e ordenado”. Com ele aprendeu o “encantamento” de se entregar a uma tarefa. O seu avô fazia da tarefa de “plantar morangueiros uma forma de arte”.

A terceira metade do texto de Raquel Patriarca é sobre os livros. Aprendeu com o avô a encaderná-los. Raquel escreveu ainda em criança o seu primeiro livro, que contava “a história de uma Alice que se escapava por um espelho” e, juntamente com o avô, fez a primeira e “grosseira” encadernação. A seguir veio a aprendizagem do processo de catalogação e arrumação dos livros.

Em adulta, tornou-se bibliotecária. “É apenas um nome diferente” para a viagem que os livros lhe indicavam em criança…

Vergílio Alberto Vieira integrou na sua apresentação música, poesia, prosa, objetos como uma pedra, um ninho e um livro…e terminou tornando-se um prestidigitador ao pegar fogo a um pedaço de papel para o fazer desaparecer…

O escritor referiu que um livro pode ser comparado a uma “fénix renascida”, pode ser comparado a um ninho – “quantos ninhos tem um ninho?”

Vergílio Alberto Vieira afirmou ainda: “(…) a maldade humana é capaz de o (ao livro) reduzir a cinzas; um livro foi árvore, é feito de papel. Antes de ser livro, foi papel em branco e, mesmo quando destruído, o livro é capaz de sobreviver”. Foi quando a magia revelou-se em palco, com o truque do escritor, que fez desaparecer um pedaço de papel em chamas.

João Gobern encerrou o debate afirmando que “conseguimos, mais uma vez, que ninguém respondesse ao tema da mesa”.

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