Logo à entrada, os jornalistas quiseram sobretudo saber o que esperavam os escritores de uma sala de aulas. Os três foram unânimes numa das respostas, dizendo que esperavam sobretudo que lhes fizessem perguntas.

Richard Zimler, jornalista, escritor e professor universitário, natural de Nova Iorque e a viver em Portugal há mais de vinte anos, ressaltava que este tipo de iniciativa é muito importante para criar nos jovens o gosto pela leitura. Helder Macedo, celebrado autor de Partes de África, acrescentaria que este é um momento igualmente importante para os escritores. O trabalho da escrita é essencialmente solitário e estas ações permitem um contacto direto com o público, proporcionando uma relevante e descontraída partilha de saberes. A premiada escritora Inês Pedrosa, que trabalhou também em rádio, imprensa e televisão, salientou que as “sessões nas escolas” são uma das marcas mais importantes do Correntes, porque os alunos são uma “máquina de pensamento” que deve ser estimulada. E o contacto direto com quem escreve é uma excelente oportunidade para o fazer.

A sessão começou de forma original. Alunos foram-se levantando das suas cadeiras, numa atitude que teve tanto de teatral, como de natural, e foram lendo excertos de livros dos três escritores como forma de os apresentar.

Richard Zimler foi o primeiro a falar, começando por agradecer o convite para participar no Correntes, dizendo “ obrigado por se lembrarem de mim”. O escritor diz fazer muitas vezes parte deste tipo de iniciativas nas escolas por considerar um dever cívico enquanto escritor. Lembrou aos alunos a importância da escrita, não só como fonte de prazer e fruição, mas também como “instrumento de denúncia” daquilo que não está bem num determinado momento ou local.

Inês Pedrosa partilhou com os jovens estudantes o prazer em estar nas Correntes e sublinhou essa “corrente” a ligar escritores e estudantes. Tal como Richard, entende que a escrita deve comportar a vertente de intervenção cívica. Um escritor é um pensador que deve saber debruçar-se sobre qualquer tema importante, como, por exemplo, política, lembrando sempre o sentido mais nobre do termo. “Basta pensar no caos em que estão mergulhados os países com uma liderança politica fragilizada ou muito ausente para entender que a política é uma nobre profissão de serviço público”.

Na sua intervenção, Helder Macedo disse que “um escritor é apenas um cidadão que escreve”. Mas para escrever há todo um processo de transformação, de metamorfose para “criar” uma história, que só conseguirá surpreender quem lê se conseguir, em primeiro lugar, surpreender o próprio escritor. Juntando a sua voz aos dos intervenientes anteriores, confirmou que o escritor tem o dever de denunciar, ser testemunha, mas de uma forma quase poética, sem “aborrecer” as pessoas, para que desta forma possam assimilar mais facilmente a mensagem que se pretende transmitir. Aos alunos presentes deixou um apelo: “gostava que lessem não porque vos dizem que é importante, mas por vos dar prazer, por gostarem”.

Seguiu-se uma série de perguntas sobre “o processo de criação literária”; “o que é essencial no trabalho de um escritor”; “de onde vem a inspiração” e “quais os livros preferidos de cada um”. A transcrição de todas as respostas quase daria um livro, mas claro para os três escritores é que a escrita é um trabalho árduo, diário. Escrever um romance é uma maratona, um trabalho solitário e que, como disse Helder Macedo, exige que o escritor, de certa forma, enlouqueça temporariamente, porque “passa o dia a pensar e a preocupar-se com pessoas e situações que não existem e com o vai acontecer a seguir, que também não existe”.

Inês Pedrosa, divertida, contou que quando perguntaram à empregada doméstica de Alexandre Herculano o que pensava do escritor, ela respondeu: “é um grande preguiçoso, passa o dia a escrever ou a ler”.

Neste diálogo com o alunos da Escola Secundária Eça de Queirós, nem o Vereador da Cultura, Luís Diamantino, resistiu a colocar a questão, neste Dia Internacional da Leitura e na presença de um Americano a viver em Portugal há vinte anos e de um Português a viver em Inglaterra há quase cinquenta, se sentiam dominados pela língua materna. Os escritores, confirmaram que de facto a nossa língua é sempre a língua materna e é essa que normalmente o escritor utiliza por uma questão de formatação mental, reforçando o dever que todos temos em amar a língua portuguesa.