Com elas, descobrimos que uma das suas escritoras preferidas é Sophia de Mello Breyner: “tenho paixão e admiração pela obra dela”. “Quando tinha a vossa idade, pareceu-me vê-la na minha ilha, a Terceira. Na altura, não tinha televisão e a única imagem que eu tinha visto dela tinha sido num livro. Disse entusiasmado a um amigo ‘aquela senhora é a Sophia de Mello Breyner!’ e pus-me a segui-la pela ilha. Durante uma hora e meia andei atrás dela, até que ela me parou e eu finalmente lhe perguntei se era a Sophia. ‘Sou’, respondeu-me. Convidou-me para lanchar e eu estive meia hora a dizer-lhe poemas seus que sabia de cor”. O poeta açoriano explicou aos alunos que a escritora se encontrava na ilha em campanha eleitoral com Mário Soares e que, há alguns anos, quis descobrir em que dia se tinha dado aquele encontro. Procurou em jornais locais e em nenhuma das notícias acerca da visita de Mário Soares à Terceira mencionava que Sophia de Mello Breyner fazia parte da sua comitiva. “Anos depois tive várias oportunidades para reencontrá-la, mas não quis. Preferi preservar aquela memória, tão especial, em que ela me disse ‘a única pessoa que me conheceu foste tu’.

À sua professora da Escola Primária ainda envia poemas acabados de escrever, aguardando a sua aprovação. E foi, ainda enquanto criança que escreveu o seu primeiro poema, dedicado à sua primeira paixão. “Durante dois meses tentei dizer-lhe que gostava dela. Como não consegui, escrevi-lhe um poema, mas também não arranjei coragem para lho entregar. Depois de dois meses a andar com o papel na minha mochila, finalmente entreguei-lho. E sabem o que ela me disse? Nada. Virou-me as costas e foi-se embora. Nunca mais a vi. Há quatro anos fui lançar um livro à minha ilha. No final, uma senhora aproximou-se, entregou-me um envelope e sabem o que me disse? Nada. Virou-me as costas e foi-se embora. Sabem o que continha o envelope? O poema que eu tinha feito há mais de trinta anos atrás”.

À pergunta “porque é que escreve?”, Ivo Machado respondeu: “Porque a poesia é a água que mata a minha sede”. Segundo o poeta, “tudo já foi escrito desde a criação do Mundo. O que nos pode diferenciar dos outros é a honestidade e espontaneidade com que escrevemos. Não sei o que é a inspiração. Só os cardeais recebem inspiração divina para eleger o novo Papa. Eu apenas acredito no trabalho”. Para Ivo Machado, a escrita é um vício, bem como o cigarro, “os meus dois únicos vícios. Mas o cigarro sei que consigo abandonar, o mesmo já não posso, nem quero, dizer da escrita”.