Segundo Björn Schmelzer, director musical do agrupamento, “«Poissance d´Amours» é o título de um tratado brabantino do século XIII, escrito por um mestre anónimo para o Duque de Brabante, um tema que interessava fortemente os duques, e abundantemente reflectido nas vidas e canções de Henrique III e de seu filho João I. O poder do amor é também o que une místicos, monges e menestréis no Brabante desta época. Não será difícil atribuir a este ducado uma abertura de espírito relativa: um clima que oferecia a diversos movimentos não ortodoxos (como os ‘Pauperes Christi’) a possibilidade de se desenvolverem, o que permitiu revelar personalidades interessantes, como pensadores discípulos do averroismo, Henricus Bate de Malines – o tocador de viela! – e Siger de Brabante, a quem Dante, no ‘Paraíso’ de ‘A Divina Comédia’ atribui a eterna luz da sabedoria (…).”

Graindelavoix é menos um grupo de música antiga e muito mais um colectivo experimental de arte entre os campos da interpretação e da criação, compreendendo na sua formação cantores e instrumentistas liderados por Björn Schmelzer.

Inspirando-se no ensaio de Roland Barthes (“O grão é o corpo na voz que canta, na mão que escreve e no membro que executa…”), em que Barthes procurava aquilo que constitui a essência arenosa da voz, Graindelavoix experimenta aquilo que constitui esse “grão”, a reflexão espiritual e física da voz.

Formado em 1999 por Schmelzer, tendo como base a cidade de Antuérpia, na Bélgica, o grupo trabalha com material tão diverso como a polifonia de Ockeghem, o lamento, “machicotage”, práticas mediterrânicas, dinâmicas e cinéticas tardias da escolástica, o corpo afectivo, gestos e imagens culturais.

O que preocupa os Graindelavoix no âmbito da música antiga é a fronteira entre a notação e aquilo que a ilude: a profunda consciência e “savoir-faire” que o intérprete traz a uma obra (ornamentação, improvisação, gestos…). Schmelzer trabalha com cantores e instrumentistas que abraçam a diversidade, heterogeneidade, ornamentação e improvisação na sua maneira de interpretar a música. Em muitas maneiras, um etnomusicólogo aproxima-se da música antiga.

Graindelavoix é “special guest” do Muziekcentrum De Bijloke de Guent e tem uma parceria artística com o Cultuurcentrum da cidade belga de Genk dos tempos idos.