O brasileiro, nascido em 1940, no interior da Bahia, mas que leva muito de Portugal “no umbigo”, dados os anos que viveu no nosso país, explicou o processo criativo de Essa Terra, ao longo de dois anos: “levei dois anos a escrever este romance de 100 páginas, que mais pareceram 500, pois fiquei extenuado de tanta pesquisa, de tanta condensação”, explicou.

Este romance decorre na sua terra natal a partir de uma imagem que lhe ficou de uma história que era contada pelo povo – um homem que foi trabalhar para S. Paulo e enriqueceu, e passados vinte anos, regressa com uma mala carregada de dinheiro, “usando dente de ouro e óculos Rayban”. Acaba por não resistir à pressão da mudança e enforca-se.

Antônio Torres voltou à sua terra e não conseguiu que ninguém lhe contasse os pormenores desta história e todos fugiam ao assunto. Quando pensava dar por perdida a viagem, concluiu que “a ausência de factos era o facto”. Assim teve origem este romance já traduzido em vários países, levando o autor à reflexão “como é que da história de um fracasso resultou um romance de sucesso?”

João Paulo Sousa contextualizou a sua obra “O Rosto de Eurídice” perante a plateia de interessados leitores. O escritor nasceu em 1966, no Porto, em cuja Universidade concluiu o mestrado em Literatura. É autor dos romances A Imperfeição (2001), Os enganos da Alma (2002) e O Mundo Sólido (2009).

João Paulo Sousa também publicou ensaios de estética e de crítica literária, colaborou em blogues e escreveu sobre teatro na revista Obscena.

Neste mais recente livro, o escritor explicou que o nome Eurídice, que consta no título, remete para a analogia ao mito grego com o mesmo nome, a companheira de Orfeu. Na história de Orfeu, este vai resgatar a sua amada ao deus dos mortos, Hades, que concorda que Eurídice poderia voltar com o marido ao mundo dos vivos, na condição de que ele não olhasse para trás até que saíssem do túmulo.

Orfeu partiu pela trilha que levava para fora do escuro reino da morte, tocando músicas de alegria e celebração enquanto caminhava, para guiar a sombra de Eurídice de volta à vida. Então, quase no final do tenebroso túnel, Orfeu olhou para se certificar de que Eurídice o acompanhava e não a viu. Perdeu-a para sempre.

No livro de João Paulo Sousa, está presente esta analogia mitológica da “impossibilidade de reter o que mais queremos e desejamos”, frisou o autor.

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