Entre as paredes de
um espaço que, enquanto café, ficou conhecido pelas tertúlias e pelas visitas
de José Régio ou Agustina Bessa-Luís, agora transformado em biblioteca de
praia, reuniram-se amantes da literatura que viajaram por quase todos os livros
de Rosa Lobato de Faria e a acompanharam numa viagem de 100 anos até As Esquinas do Tempo.

Este seu mais
recente romance conta a história de Margarida, personagem que pernoita numa
casa de turismo rural e que quando acorda, nota que fez uma viagem no tempo,
retrocedendo 100 anos. Luís Diamantino, vereador do Pelouro da Cultura, leu o livro
e nele não deixou de notar que a personagem principal do livro, Margarida, tem
algo de Rosa Lobato de Faria “na irreverência, na forma como se agarra à vida,
como ama a vida”.  “Há aqui vários planos
temporais, é um livro muito actual. Faz-nos pensar na nossa vida agora e
naquilo que era há 100 anos atrás“ continuou, elogiando ainda o livro pela sua
“clareza chocante, lê-se a uma velocidade estonteante”.

Lançado pela Porto
Editora, As Esquinas do Tempo tem
sido um sucesso comercial e motivo de orgulho para a editora, como explicou o
seu representante, Paulo Gonçalves. “Foi o primeiro livro que lançamos na reentré, em inícios de Setembro. Entrou
muitíssimo bem na mão dos leitores, tem estado sempre nos primeiros lugares das
livrarias do país”. As razões do sucesso? “É um texto delicioso. Dá imenso
prazer ler, da primeira à última página. O livro prende-nos. É um mérito que
não se pode retirar e é uma das coisas que mais apraz ouvir quem gosta de
escrever”

Dizendo-se constrangida
por apresentar o seu livro na terra de Eça de Queirós, Rosa Lobato de Faria
explicou que a ideia de escrever As
Esquinas do Tempo
surgiu após passar uma noite numa casa de turismo rural perto
de Gondomar. “A casa estava tal e qual como era no início do século, não estava
deteriorada. O quarto onde fiquei estava cheio de fotografias antigas, tudo ali
tinha o sabor de outros tempos. Deitei-me e naquele lusco-fusco pensei que
seria engraçado adormecer e acordar 100 anos atrás, no tempo do quarto. Imediatamente
veio a ideia de escrever esta história. Foi muito fácil, foi só escrever, tinha
a ideia de como ia acabar e achei extremamente divertidíssimo escrever”.

A facilidade com que
escreve é, de facto, surpreendente em Rosa Lobato de Faria. “Surge-me uma ideia
premente na minha cabeça que tem princípio e meio, algum esqueleto de história,
e um fim. Quando começo a escrever as coisas surgem todas.” E o facto de
colocar um pouco de si nas personagens facilita ainda mais o seu processo
criativo, “eu sei como deve agir aquela personagem”, explicou. “Costumo dizer
que tenho um anjo que escreve isto por mim. Só por mim sou muito pouco”,
afirmou, sublinhando ainda que se iniciou na escrita aos 63 anos, tendo todos
os seus livros surgido de “uma forma muito natural. Gostava de perceber como
isso me acontece”.

Rosa Lobato de Faria

Computadores e
teclados não existem no processo criativo da escritora, que escreve tudo à mão.
“Tenho uma ligação afectiva com a minha letra. Se não estiver boa, não
escrevo”. Quando termina de escrever, e com a entrega do livro à editora, chega
a tristeza. “Quando entrego o livro ele já não é meu, mas também ainda não é de
ninguém”. No entanto, o acto de escrever permite momentos de bem-estar à autora,
cuja escrita a transporta para “lá, não sei onde é, onde escrevo os
livros,  e onde me sinto muito bem”.

Tendo começado tarde a escrever, o sucesso de Rosa
Lobato de Faria dá razão a Manuel Alberto Valente, editor que a escritora
acompanhou na transição da Asa para a Porto Editora. Foi ele quem lhe disse,
quando escreveu, quase sem querer, o seu primeiro trabalho, sem perspectivas de
escrever um segundo, “Quem escreve assim, escreve sempre”.