A sala Poesia das Galerias Euracini 2 acolheu, esta manhã, o lançamento de O Poço e a Estrada – Biografia de Agustina Bessa-Luís de Isabel Rio Novo, seguindo-se um debate dedicado ao género biográfico, a propósito do lançamento da coleção de Biografias de Grandes Figuras da Cultura Portuguesa Contemporânea, com a participação dos autores das biografias anunciadas.

A biografia de Agustina Bessa-Luís foi a primeira de seis de uma coleção de biografias da Contraponto Editores. A próxima a ser lançada será da autoria de Paulo José Miranda sobre Manuel de Oliveira. Seguir-se-ão as seguintes: Bruno Vieira Amaral sobre José Cardoso Pires, Filipa Martins sobre Natália Correia, Filipa Melo sobre Amália Rodrigues e João Pedro George sobre Herberto Helder.

Isabel Rio Novo definiu esta publicação como “o corolário de uma ligação muito antiga” e confessou-se uma «leitora apaixonada» desde os tempos de escola de Agustina Bessa-Luís. Revelou que o primeiro capítulo a ser redigido foi o que se refere ao período em que Agustina viveu na Póvoa de Varzim, entre os 7 e os 12 anos: “um feliz conjunto de acasos fez com que o capítulo da Póvoa fosse o primeiro a ser escrito”. A autora disse que Agustina deixou muitas recordações da Póvoa, da praia, do vento, das procissões, das igrejas, dos rituais associados à vida piscatória e ainda do período em que estuda no Colégio das Doroteias.

Isabel Rio Novo revelou que “este período da Póvoa de Varzim é essencial para a formação de Agustina enquanto pessoa e também enquanto escritora e por isso deixaria sempre um rasto muito interessante nas suas memórias e na sua vida”.

A próxima biografia a ser publicada será a de Manuel de Oliveira e tal como foi longa a sua vida também Paulo José Miranda tem inúmeras histórias para contar sobre a vida deste grande homem, assumindo que escrever uma biografia “implica muita paixão”. Para o autor, “o que me apaixonou sempre foi a sua obra. Não é possível falar do homem sem falar da sua obra. A história de vida dele quase que se confunde com a história do cinema. Ele dialogava com a história do cinema”.

Paulo José Miranda disse ainda que Manuel de Oliveira “era um grande pensador”, acrescentando que “o que mais me impressionava no trabalho com Manuel de Oliveira era que ele era capaz de me impressionar de dia para dia. Ele estava aberto às mudanças e tinha noção, como poucos, que viver é mudar”.

Bruno Vieira Amaral dedicou-se ao estudo de José Cardoso Pires e revelou que para escrever a sua biografia foi fundamental a colaboração da família (viúva e filhas), tal como o trabalho feito pela Hemeroteca de Lisboa que disponibilizou online todo o material de imprensa publicado em vida.

Em relação às descrições de escritor boémio e brigão já conhecidas de José Cardoso Pires, Bruno Vieira Amaral confirmou que quase todas correspondem à verdade. Mas há outros pormenores reveladores: “era de facto um homem da noite, mas era quase um monge quando escrevia. Gostava muito de whiskey, mas quando escrevia não bebia”, acrescentando que descobriu também “um homem angustiado. Não duvidava da qualidade do seu trabalho, mas tinha medo de aparecer com um livro fraco. Queria fazer bons livros. Era muito exigente, uma exigência angustiante”.

Para João Pedro George, a biografia de Herberto Helder é já sua terceira pois já biografou Luiz Pacheco e Mota Pinto. Revelou que “a biografia de Herberto Helder é um complemento e vem na sequência lógica da biografia de Luiz Pacheco não porque Luiz Pacheco foi editor de Herberto Helder mas porque têm uma coisa em comum que os aproxima: são dois tipo de escritores que integram a norma e simultaneamente a sua crítica e a sua rejeição da forma mais extrema. São exemplares no sentido em que encarnam os valores mais autênticos e puros dos meios criativos”.

Luiz Pacheco revelou que era fundamental ter acesso à viúva de Herberto Helder, com quem ele viveu 40 anos, acrescentando que demorou um ano a conseguir convencê-la a colaborar nesta biografia, mas “o que acabou por convencê-la foi ter-lhe dito que a versão que é conhecida é de uma série de outras pessoas que tiveram uma passagem fugaz pela vida dele e essas versões tinham que ser contrapostas à versão da mulher que melhor o conheceu”.

Filipa Martins está ainda em fase de pesquisa, “a espreitar pelo buraco da fechadura”, na realização da biografia de Natália Correia e transmitiu que os mitos sobre ela são inúmeros e muitos deles não são reais. Revelou que “foi uma voz antifascista. Nunca teve medo de dizer o que pensava. Era uma mulher cujo seu verdadeiro partido sempre foi a liberdade”, acrescentando que a liberdade era também o “traço principal do escritor”. Revelou que “a minha biografada já morreu assim como toda a família” o que entende que “às vezes pode ser um obstáculo à escrita de uma biografia, mas também a constatação de menos entraves. Tenho tido a sorte de ter um acesso muito direto ao espólio da Natália Correia”.

Terminou afirmando que “a Natália era uma mulher de paradoxos, de contrastes: mulher extremamente forte, intelectual que tocou muitas áreas desde a política à cultura até ao lado mais místico e ao mesmo tempo uma mulher extremamente frágil que sempre teve uma grande dificuldade de lidar com a solidão e a morte”.

Ainda no âmbito desta coleção, Filipa Melo vai biografar Amália Rodrigues.

Já na sala Geografia, Carlos Meixide, Lélia Nunes e Itamar Vieira Junior lançaram as suas últimas obras: A memoria dos meus pasos, Corpo de Ilhas e Torto Arado, respetivamente.

Sobre Torto Arado, Prémio Leya 2018, Itamar Vieira Junior revelou que “este livro é um trabalho muito especial que imaginei e comecei a trabalhar há muitos anos. Não tinha maturidade e deixei que a história se fosse transformando ao longo do tempo”.

O jovem escritor brasileiro confessou que no Brasil a sua carreira ainda estava no início e, por isso, sempre foi uma opção submeter os seus livros a concurso. Fê-lo com os seus contos e agora com este romance sobre o qual disse que “foi escrito com muita verdade, muito nosso, do Brasil. Mas, apesar de ser um problema do Brasil, chega a todos. A história é universal e pode tocar as pessoas”.

Terminou desejando que as pessoas possam mergulhar no seu livro e tirar algum sentimento da história.

Carlos Meixide, de Santiago de Compostela, disse que era a primeira vez que apresentava um livro em Portugal – A memoria dos meus pasos: “como galego, queria apresentar este romance que tem um vínculo com Portugal. Passa-se no Porto, cidade que sempre foi um destino de «escapada» para os galegos. Trata-se de uma «novela» de intriga com muito humor”.

Onésimo Teotónio Almeida acompanhou Lélia Nunes na apresentação do seu Corpo de Ilhas, que inclui um prefácio da sua autoria e foi publicado em Ponta Delgada e no Brasil. Lélia Nunes: portuguesa, brasileira, açoriana, uma cidadã do mundo.

Lélia Nunes confessou que pretende interagir com os açorianos através da sua escrita e este seu livro inclui 65 crónicas das Ilhas de Santa Catarina, Açores e outras ilhas.

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