Sobre o tema, que considera bastante interessante e aberto, Mário Zambujal referiu que “tudo o que existe no Universo, o Homem atribui-lhe uma palavra, um nome”. Mas “o Homem compreende que não sabe as palavras todas, inclusivamente aquelas que criou”, acrescentou o escritor e jornalista que afirmou que “o Homem inventou uma palavra fantástica – ‘coisa’ – que quer dizer tudo e não quer dizer nada” e surge como “grande substituto da nossa preguiça de ir à palavra exacta ou de não a conhecermos”. No entanto, “quando se passa à palavra escrita a ‘coisa’ rareia” disse Mário Zambujal que pensa que não é muito apropriado ao escutar escrever coisa. Assumindo-se como “um velho jornalista que conta histórias”, Mário Zambujal considera que “um livro é um acto de comunicação” e como tal a linguagem “quer-se muito clara e simples” para que as pessoas a entendam e a comunicação chegue. “Os leitores dependem das suas próprias capacidades de entendimento, não são todos iguais” esclareceu o escritor referindo-se à diversidade da literatura e dos gostos, “a maneira de gostar de um livro é diversa”. Para Mário Zambujal, a palavra ‘escritor’ é um rótulo, preferindo o termo ‘autor’ pois este sim corresponde a algo que se fez.

Milton Fornaro abordou o tema a partir de uma passagem do primeiro livro da Bíblia, Génesis, para lembrar como o criador fez o mundo, Deus disse e depois fez-se, ou seja, a palavra antecede a acção, primeiro nomeia e depois cria. Interpretando “Cada palavra é um pedaço do Universo” segundo a tradição cristã, “a palavra é o princípio a partir do qual se constrói o Universo”, referiu o escritor que nos define como “animais da linguagem”.  ‘As palavras, sempre as palavras’ citou Milton Fornaro a provar que não há outra possibilidade para o poeta pois “o homem pode condenar-se ao silêncio mas o poeta não pode porque está condenado às palavras”. Para Milton Fornaro, os escritores estão comprometidos com as palavras (apalavram-se) e não existe possibilidade de escrever sem estar comprometido, “apalavramos porque o mundo, tal e qual, não nos convence” e “são as palavras que nos permitem recuperar o perdido”, afirmou dedicando a sua intervenção em “homenagem a todos os leitores de livros”.

“A última mesa faz todo o sentido que seja uma missa”, gracejou Rui Zink pois à semelhança de Milton Fornaro também recorreu à passagem dos Génesis para iniciar a sua intervenção, “No princípio não é o verbo, é o grito, é o berro”. Reflectindo sobre a condição humana, o escritor estabeleceu um paralelo entre os bebés e Adão e Eva antes de comerem a maçã do pecado, “eram felizes, depois vêm as chatices”, referindo-se à não correspondência entre aquilo que se quer e o que é dado, “caímos em desgraça quando percebem que a qualidade do serviço não é a melhor”. Mantendo sempre o paralelismo entre a aprendizagem da língua pelos bebés, Rui Zink citou o evolução “descobrimos que comunicar com aquela gente é impossível. O berro é simpático mas não ajuda” e então “começamos a descobrir que diferenciar os sons é capaz de resultar” e, “com esforço, sacrifício e paciência, o nosso vocabulário vai-se expandindo a uma velocidade estonteante”. O escritor continua dizendo “Certo, nem sempre conseguimos o que queremos. Mas o Universo à nossa volta vai ganhando cada vez mais diversidade”. “O Universo torna-se mais prático e maleável devido às palavras. Existem palavras para tudo, até para as coisas que não existem” constatou Rui Zink para quem a literatura é a única arte que usa a fala e a escrita, a audição e a visão. “A palavra cria o Universo sim. Antes havia o verbo não. Antes há o berro.” prosseguiu o escritor para quem “só quando dizemos as coisas, as coisas ganham sentido para nós”. Sobre a diversidade das palavras, o escritor mencionou que “há palavras para matar e palavras para salvar. Todos os dias podemos criar e descriar o Universo.”. “O maravilhoso na palavra é que podemos não dizer nada porque o próprio silêncio é, por sinal, uma palavra bem bonita”, concluiu Rui Zink.

Para Ricardo Menéndez Salmón, “Cada palavra é um pedaço do Universo” é um tema que, em termos lógicos, esconde uma tautologia e sobre o qual não lhe ocorre nada. Discursando em torno do “nada”, o escritor afirmou que muita gente passa pela vida sem dizer nada, sem fazer nada e “se vive como se respira, de modo mecânico”. “Há dias em que acontece nada”, “Quando me sento a escrever, rodeia-me nada” e é o ‘nada’ que devolve o olhar ao escritor, continuou Ricardo Menéndez Salmón para quem “o artista é um resistente porque o seu motor criativo é doente, é inútil, é um corpo preguiçoso, numa sociedade que se quer saudável”. “Cada vez que concluo um livro, fico seduzido pelo nada e deixo-me ficar durante meses” revelou o escritor referindo que “a única palavra que pode definir o nosso trabalho é nada”.

Com o seu característico sentido de humor, Onésimo Teotónio de Almeida findou as intervenções da mesa com “pedacinhos do Universo” não fossem as suas palavras virarem moscas e chatear muito. O escritor considera que palavras é o que mais há, “Todos falam, mas ninguém ouve.”, referindo que “Há para aí palavras a mais no mercado e ideias a menos”. A este propósito, divulgou que publicou recentemente um livro de ideias, com poucas palavras, recorrendo à navalha de barbear para cortar palavras a mais, brincou.