“Um autor de
romances policiais pode matar quem quiser. Está de alguma maneira impune, ele
não é convocado pela Judiciária”, disse o escritor que gosta de se ver “como um
contador de histórias, porque faz parte da nossa natureza humana, contar e
ouvir. É sempre nessa condição que me apresento como escritor”. E foram muitas
as histórias que contou.

O autor recordou,
por exemplo, o sucesso que Crime em Ponta Delgada
teve nos Açores. “Toda a gente queria saber quem era o criminoso, quem era a
vítima, quem era a jovem adúltera”, contando até a conversa que teve como Mota
Amaral que lhe pediu que se o matasse nas suas histórias, nunca o fizesse antes
das eleições. “Brincamos com a morte, com o crime”, assumiu, dando como exemplo
os muitos e-mails que recebeu de leitores aquando da publicação dos folhetins Um Crime
Capital,
passado durante o
Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura, e o Um Crime na Exposição, que tinha como
cenário Serralves, pedindo ao autor que matasse algumas figuras públicas. De
facto, as histórias misturavam personagens reais, como a Administradora de
Serralves, a que se juntavam personagens ficcionadas.

“O que nos interessa
no romance policial? O crime interessa pouco, queremos pormenores”, considerou,
recordando um e-mail que recebeu de uma leitora que acusou o escritor de não
ter investigado o suficiente, pois uma das provas do crime em Um Crime Capital,
uma peça de lingerie da Dolce &
Gabbana, foi identificada pelo personagem Jaime Ramos como sendo de um modelo
que, tal como a leitora descobriu, nunca foi comercializado pela marca italiana.

Francisco Jose Viegas

E Jaime Ramos é personagem
incontornável nos livros de Francisco José Viegas, a sua popularidade chega
mesmo a ultrapassar a do seu criador. “Costumo dizer que fiz um contrato com
Jaime Ramos por x livros. Há oito livros que ele me acompanha. Tornou-se um
hábito para mim e para os leitores. É uma criatura que eu criei e que se tornou
independente”. Uma situação que parece não preocupar o escritor, que considera
um “orgulho saber que um personagem nos ultrapassou”. Mas em O Mar em Casablanca o autor não sabia o
que fazer com o inspector. “No livro, ele está à beira do precipício, tem um
AVC”. Sobre a nova
obra, pouco desvendou ou não fosse o mistério a alma do negócio. Passa-se no
Norte, em Vidago, e estabelece algumas relações com Angola. O Mar em Casablanca procura também honrar
os portugueses espalhados pelo mundo fora, “com histórias de heroísmo absoluto.
Quero sempre contá-las no meio da história policial. Quero que se possa ler a história
como se eu não a estivesse a contar”.

Luís Diamantino,
Vereador do Pelouro da Cultura, elogiou a escrita de Francisco José Viegas
neste romance policial. “Tem muita poesia no meio, tem aqui descrições que são
verdadeiras prosas poéticas e há aqui frases absolutamente nominais, ou seja, o
verbo desaparece”, analisou, sublinhando o ritmo que tal dá a uma frase, considerando
que essa era uma marca da escrita de Francisco José Viegas.

Recordado que o escritor
esteve presente no Correntes d’Escritas, o Vereador defendeu que “graças a
pessoas como o Francisco
José Viegas o Correntes d’Escritas tem, de facto, alcançado
uma notoriedade que sem a participação de pessoas como o Francisco seria
difícil”. Um elogio que Francisco José Viegas retribuiu, dizendo que “hoje
em dia já são as Correntes d’Escritas que fazem o nosso nome”, exaltando o carácter
pioneiro do evento. “A nossa felicidade, às vezes, são os livros. Por isso é que
vimos às Correntes”.

Da Porto Editora, Ricardo Miguel Costa
contou que “o Francisco
José Viegas é seguramente aquele que tem mais convites para
estar presente em sessões como esta. Achamos que era imprescindível estar na
Póvoa de Varzim, não só pelas Correntes, mas porque a Póvoa de Varzim tem-se
assumido como ponto essencial no roteiro que um autor tem que fazer”.

Muitas mais histórias foram contadas ao longo da
noite, e outras tantas ficaram por contar. Uma olhar sobre a vida de um homem
que escreve romances policiais “porque quero saber como acaba história”.