Como combate a rotina do dia a dia? Se lhe dessem o dinheiro necessário para realizar uma obra na Póvoa de Varzim o que faria? Estas foram apenas algumas das perguntas que funcionários da Lipor tiveram oportunidade de fazer ao Presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, Aires Pereira, na passada sexta-feira, após o almoço de Natal da empresa.

O combinado era os funcionários questionarem o também Presidente da Administração da Lipor sobre o que entendessem e tivessem curiosidade. As primeiras perguntas focaram-se sobre a empresa intermunicipal, o seu funcionamento, a importância da separação dos resíduos. Mas, à medida que Aires Pereira ia respondendo às questões e a timidez dos funcionários ia passando, o foco das perguntas alterou-se.

Conheça melhor o seu Presidente da Câmara, um homem que era tido como carrancudo e hoje sente-se feliz por o considerarem simpático.

Sobre a decisão que tomou enquanto Presidente de Câmara que o deixou com dúvidas, Aires Pereira respondeu, com toda a frontalidade, que foi a construção das lombas na Avenida dos Banhos. “Com as redes sociais e tudo o que elas têm de bom e de mau, eu vi e li coisas que me puseram a pensar: mas será que estou errado? As minhas intenções são boas mas estará a escapar-me alguma coisa? Confesso que, com tanta gente a bater-me, questionei-me se teria tomado a decisão certa. Infelizmente, alguns meses depois, numa madrugada, faleceram dois jovens em Vila do Conde e, no dia seguinte, muitas das pessoas que tinham criticado a minha decisão vieram a público retratar-se. Foi das decisões que tomei mais mal compreendidas pelos poveiros mas hoje não me arrependo”. Para o Presidente da Câmara as pessoas vão estar sempre em primeiro lugar. “Com estas passadeiras elevadas há mais mobilidade para os cidadãos que se movimentam em cadeiras de rodas. Não é por acaso que a Póvoa de Varzim é considerada a capital do Boccia. Além disso, diminuiu-se a velocidade a que os carros circulavam e, por isso, os acidentes.”

Ainda acerca das decisões que toma e o seu impacto na vida das pessoas, Aires Pereira sublinhou que, neste mandato, a sua primeira medida “deixou todos de boca aberta. Convidar os Vereadores do partido da oposição para integrarem equipas de trabalho (na Varzim Lazer e na área da Saúde) foi algo que surpreendeu, inclusivamente, elementos do meu próprio partido e próximas a mim. Mas as pessoas têm de entender que gerir uma maioria tão grande como a obtida nas últimas eleições é muito mais difícil. O contraditório é essencial para mantermos os pés no chão”. Aires Pereira foi ainda mais longe: “não sejamos ingénuos. Um Presidente da Câmara tem muito poder e é essencial policiarmo-nos. Daí eu ter considerado importante convidar os Vereadores da oposição para trabalharem connosco. Não serei nunca um eucalipto”.

E após tantos anos na Câmara – como Vereador, Vice-Presidente e, agora, Presidente – ainda há motivação? Aires Pereira, sorrindo, afirmou que as pessoas esperam que o Presidente da Câmara resolva tudo. “Por isso, temos de ser criativos. Encontrar soluções para os mais variados problemas. Estou sempre motivado porque adoro aquilo que faço. Um Presidente não pode estar sentado à secretária do seu gabinete. Tenho que saber do que as pessoas me estão a falar. Ouvir nunca é a mesma coisa que ver”. E, exatamente para ver e conhecer o concelho como as palmas das suas mãos, o autarca contou que nunca faz o mesmo percurso de casa aos Paços do Concelho. “Muitas vezes, ando quatro quilómetros para chegar à Câmara. Nunca vou pelas mesmas ruas, pelas mesmas freguesias”. Para além de querer conhecer o concelho, todas as questões por resolver e as suas potencialidades, Aires Pereira afirmou que “a rotina é a pior coisa que pode acontecer ao ser humano. Se eu não fosse capaz de fazer as coisas sempre de forma diferente já não me aturava a mim próprio”.

E a diferença entre ser Vice e Presidente da Câmara? “Tenho perfeita noção que os poveiros – funcionários inclusivamente – não gostavam de mim. Eu era o homem das más notícias. Era quem aborrecia as pessoas por causa de taxas, de contas para pagar, de licenciamentos. E os funcionários ficavam sempre apreensivos quando eu os chamava ao meu gabinete. Mas é esse o papel de um Vice-Presidente”. Por ter essa fama de carrancudo e antipático, Aires Pereira pensou que poderia perder as primeiras eleições. “Estava a formar-se um novo projeto no partido concorrente e eu tinha pouco tempo para dar a conhecer aos poveiros uma outra faceta da minha personalidade, para lhes mostrar que eu era muito mais do que o homem das más notícias”. Em 2013, Aires Pereira venceu as eleições e lembra o título de uma das primeiras entrevistas que deu enquanto Presidente da Câmara: de carrancudo a simpático. “Fiquei muito feliz por ter conseguido inverter a ideia que as pessoas tinham de mim. Hoje sou convidado para os mais diferentes eventos, desde inaugurações a aniversários de associações. E vou porque sinto que a minha presença é importante para quem me convida”.

E engana-se quem pensa que o Presidente da Câmara não tem problemas pessoais por mostrar-se sempre solícito e bem-disposto: “claro que, como qualquer outro cidadão, também tenho dias menos bons. Mas no exercício da minha atividade não cabem os problemas pessoais. Tenho de estar sempre animado. Se a minha presença é importante então eu vou estar no meu melhor”.

E se lhe dessem dinheiro para uma obra, qual escolheria realizar? “Terminar a Via B. Seriam dez milhões de investimento”. Mas, claro, escolher apenas uma é tarefa difícil, por isso, o autarca deu prontamente uma segunda opção: dotar as freguesias com bons equipamentos desportivos de forma a combater a sua desertificação. Muitas freguesias são dormitórios e os moradores não fazem a sua vida social, lúdica e desportiva no local onde vivem”. E, por isso, explicou Aires Pereira, 60% do orçamento deste mandato será canalizado para as freguesias e o seu desenvolvimento”.

E qual o projeto de que mais se orgulha? Bem, esta questão levou uns segundos até ser respondida mas, depois de refletir, o Presidente da Câmara Municipal respondeu que foi a transformação de escolas que já não tinham alunos em Centros Ocupacionais de Idosos. “A medicina e o seu desenvolvimento tem vindo a prolongar a vida mas não a sua qualidade. Em Portugal temos a população idosa mais cara e mais doente da Europa. Isto porque abandonamos os nossos idosos. Isto sempre me entristeceu. A pior coisa que me poderia acontecer enquanto Presidente da Câmara era um idoso ser encontrado sem vida, na sua casa, semanas após o seu falecimento. Nos Centros Ocupacionais de Idosos fazem-se amizades e quando alguém falta dá-se logo conta. Há um enfermeiro que verifica as tensões, se todos tomaram as suas medicações. E todos regressam a casa já com a refeição feita”.

A este propósito – e lembrando o que disse anteriormente sobre as pessoas quererem que o Presidente da Câmara resolva todos os problemas – Aires Pereira contou que, através das redes sociais foi contactado por uma senhora que vive no estrangeiro. “A senhora estava a tentar contactar a sua mãe há dias sem sucesso. Em desespero e sem poder deslocar-se à Póvoa, foi a mim que recorreu. E vocês perguntam: mas o que um Presidente pode fazer? A verdade é que não importa. É a mim que as pessoas recorrem e eu faço tudo aquilo que posso para dar-lhes uma solução. E foi o que aconteceu neste caso. E, de facto, a mãe da senhora, já muito idosa, encontrava-se doente e de cama”.

Ora, sendo uma entrevista feita por funcionários da Lipor não poderiam faltar questões relativas à empresa e ao meio-ambiente. A primeira questão talvez não tenha recebido a resposta esperada. Um dos motivos apontados pela população para não separar o lixo é a confusão na distinção dos resíduos. Daí a pergunta ao Presidente da Administração da Lipor ter sido: sabe separar ou também tem dúvidas? Ao contrário do que sentimos que era a resposta esperada, Aires Pereira afirmou que também tem dúvidas na hora de separar: “as embalagens são feitas de materiais diferentes. Já não são só de papel, de plástico ou de vidro. E, às vezes, resolvemos a questão da forma mais fácil, colocamos nos indiferenciados”.

Aires Pereira esclareceu que não é adepto da política da coima. “Este método resulta no imediato mas se as pessoas fazem as coisas contrariadas no dia seguinte vão voltar a infringir a lei. A nossa aproximação às pessoas é que irá ditar o sucesso dos nossos projetos na Lipor. Se nós acenarmos benefícios em detrimento de coimas as pessoas aderem com muita mais facilidade.

Por fim, o Presidente deixou uma mensagem aos funcionários da Lipor: “não se anulem, não se inibam. Questionem-se a vós e ao sistema”.