Antonio Muñoz Molina e José Manuel Fajardo ambos espanhóis são amigos há 30 anos e têm muitos aspetos comuns para além dos livros, da escrita e de serem espanhóis. Cresceram e viveram em cidades diferentes, mas na mesma época e o fato de viverem a mesma realidade aproxima-os enquanto pessoas e enquanto escritores.

Antonio Muñoz Molina disse “Eu acho que as pessoas da nossa geração em Espanha tivemos a oportunidade de viver na nossa geografia e viver muito tempo nela, hoje em dia os jovens não têm essa oportunidade. Há muitos anos atrás as pessoas nasciam e viviam “como eu, na Espanha de D. Quixote, agora as pessoas nascem num mundo e vivem noutro”, acrescentou Antonio Muñoz Molina. O passado está intrinsecamente ligado ao que os escritores escrevem, logo eles são o que escrevem, é o que se pode interpretar depois de Antonio Molina ter falado.

Por momentos, a palavra é passada ao seu amigo, José Manuel Fajardo que logo começa por dizer que em pequeno muito ouvia falar de guerra e que houve alturas em que cresceu num clima de medo. Mas acredita profundamente que quem escreve, transmite aquilo que lhes está no íntimo o mais profundo que as pessoas têm, logo como o escritor, José Manuel Fajardo escreveu sobre as situações que vivenciou e acredita que “escrever é uma maneira de passar esse medo”, o medo que em criança viveu.

As pessoas que escrevem têm por vezes a necessidade de estar sozinha, para comtemplar e não é possível comtemplar acompanhado, testemunhou Antonio Munõz Molina e continuou dizendo que hoje em dia os seres humanos não conseguem ficar sozinhos. Há sempre o telemóvel, o computador, a televisão ou as redes sociais, então é impossível comtemplar e para escrever também é preciso comtemplar.

Do Mundo frenético dos nossos dias, passamos para um tema muito atual a desigualdade, seja ela qual for. São temas que já não há o perigo de serem abordados nem o medo de serem falados.

No final José Manuel Fajardo comentou que Antonio Muñoz Molina era um apaixonado por Lisboa e perguntou quais eram as razões para aquela paixão súbita. Molina respondeu que gosta de Lisboa e de Portugal porque neste país havia muitos monumentos em homenagem a escritores, a homens da literatura, enquanto que, nos outros países os heróis são sempre os que lutaram com armas em batalhas sangrentas e, por isso, são homenageados. Partilhou que vai passar agora uma parte da sua vida também em Lisboa, porque irá para lá viver. Antonio Muñoz Molina disse que só não gosta de Lisboa quem não tem sensibilidade e para além do mais os portugueses são um povo que falam baixo e isso é uma característica que o escritor aprecia.

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