Eugénio Lisboa explicou que o Teorema de Pitágoras (que não é evidente), é geometria. Do mesmo modo, a lei da gravitação universal, é Física, não é literatura. “Evidente é o que não precisa ou parece que não precisa de ser demonstrado”, explicou. E “a literatura mostra, pinta, exibe, alimenta-se de tudo: evidências e não evidências”. À literatura é essencial a capacidade de assombro, de espanto, que caracteriza os seres humanos. “Felizmente que nos espantamos. Se assim não fosse teria gripado para sempre o motor de arranque de todas as descobertas”. Eugénio Lisboa lembrou Fernando Pessoa, para quem tudo era “estranho, surpreendente”.

Seguindo a mesma lógica de pensamento, o poeta e ensaísta Liberto Cruz classificou o tema como controverso, “rebarbativo”, “capaz de me dar água pela barba”. Porque “Nem tudo o que não é evidente é literatura e vice-versa”. Uma obra de Maria Gabriel Llansol não é evidente para um leitor de Margarida Rebelo Pinto e vice-versa, exemplificou Liberto Cruz que referiu ser a literatura é “a mais impura das artes”. Na literatura, “evidências e não evidências degladiam-se à procura de caminhos”. “A evidência tem por vezes literaturas que a literatura desconhece”, concluiu.

6ª mesa

A frase que era tema de debate também causou “dificuldades”ao poeta, tradutor de poesia e ensaísta Manuel Gusmão que a associou a “uma definição negativa, demasiado abrangente”. Para Manuel Gusmão, “evidente é um vocábulo da Filosofia. Não há outra verdade em arte que não a justeza”. O poeta leu pequenos excertos de alguns poetas para demonstrar que “a evidência mata a poesia”, e que o que a poesia pode alcançar é “uma evidência enigmática ou obscura”.

Falando da sua experiência pessoal, Antonio Garrido contou que em criança, quando estava doente, leu livros que algumas pessoas classificavam como sendo de autores menores. “Mas para mim não. Porque me fizeram gostar de literatura”, salientou.