A moderação esteve a cargo de José Carlos de Vasconcelos, jornalista e director do Jornal de Letras.

Considerando tratar-se de um tema susceptível de múltiplas abordagens, Joaquim Arena (filho de pai português e mãe cabo-verdiana) afirmou que a descoberta das ilhas de Cabo Verde foi “o resultado do fascínio pelo desconhecido dos navegadores portugueses”. Medo e fascínio vivem “lado a lado”, são sentimentos inerentes à condição humana. “Antes de dominarmos o fogo partilhávamos as grutas com animais que eram nossos predadores”. Outro ponto de “reflexão” que Joaquim Arena deixou foi o “medo da diferença” que, por vezes, coexiste “com a vontade de quebrar esse medo”.

Tratando-se de uma emoção, que “está apara a sobrevivência como um farol está para o navio”, o medo não é sinónimo de “fraqueza, pelo contrário” defendeu Rui Machado. Natural da Ilha Terceira, Rui Machado, lembrou uma ideia que em tempos lhe foi transmitida por um baleeiro: “Só um tolo não respeita o que não conhece”. Por isso a coragem é “respeitar o desconhecido e dele só nos aproximarmos com zelo de cirurgião”.

Filho de um emigrante russo, o médico e escritor brasileiro Moacyr Scliar, recordou a chegada do seu pai ao Rio Grande do Sul. Quando um gaúcho hospitaleiro lhe ofereceu uma banana (fruta que lhe era totalmente desconhecida), o recém-chegado, julgando que a banana era um caroço, descascou-a, atirou-a fora e comeu-lhe a casca. Para Moacyr Sclair, “Escritor é uma pessoa que olha a banana e come a casca. Essa entrada no desconhecido é uma pré-condição para a literatura que tem como tarefa tornar o desconhecido em magia”.

Vinda “de muito longe, do Sul do Mundo”, a escritora uruguaia Andrea Blanqué falou à plateia (maioritariamente composta por mulheres), das desconhecidas que são as personagens dos seu livros. Desconhecidas que se apresentaram e se instalaram na vida da escritora que se define como “uma contadora de histórias”. Mas não chegaram sozinhas. Trouxeram consigo “uma história tremenda. Quando conheço o desenlace dessa história começo a escrever”, contou Andrea Blanqué para quem desconhecido é uma palavra “incomensurável”.