Aliás, este facto foi o que mais impressionou Luís Diamantino, Vereador do Pelouro da Cultura: o mar de gente que compareceu no Centro de Congressos do Axis Vermar, tendo em conta que esta iniciativa foi “conseguida a ferro e fogo, pois muita gente não acreditava na sua realização, mas, hoje, está aqui e bate palmas. No primeiro encontro, tivemos 24 escritores e foi preciso pedir-lhes muito, agora, temos que selecionar os escritores que vêm cá”, afirmou. Conheça as ideias partilhadas pelo “pai” do Correntes d’Escritas, em jeito de balanço desta 15ª edição, aqui.

Também Rui Zink confessou que não esperava que estivessem 600 pessoas a assistir à sessão e saudou o “milagre das Correntes”, que conseguiu reunir mais pessoas que os “446 partidos de esquerda, que se formaram nas últimos 48 horas, para unir a esquerda”.

Eduardo Lourenço, na sua intervenção, referiu, igualmente, que o Correntes d’Escritas era “uma espécie de milagre que se renova todos os anos e ao qual podemos assistir em direto, sem televisão”.

Apesar de o fazer numa língua diferente – castelhano –, Uberto Stabile também classificou o Correntes d’Escritas como “um milagre da homenagem à palavra”. 

De facto, a edição que este ano assinalou o 15º aniversário do Encontro de Escritores de Expressão Ibérica superou as expectativas da organização que esperava neste novo espaço conseguir sentar o público. No entanto, muitos tiveram que se sentar no chão ou simplesmente ficar em pé, encostados à parede.

Dos 65 escritores convidados, quase metade participaram pela primeira vez no evento, mas todos eles, estreantes ou velhos amigos do Correntes, deram um contributo notável, reforçando o sucesso que o festival literário já assumiu além-fronteiras.

São vários os testemunhos dos escritores participantes recolhidos durante as suas intervenções que transmitem o êxito do Correntes d’Escritas. Como seria impossível citá-los todos, deixamos, por agora, apenas alguns exemplos:

Inês Pedrosa começou por elogiar o trabalho da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, exemplo único no país. “Todos os anos me comovo quando vejo tanta gente na plateia e este sucesso deve-se ao empenho de uma equipa extraordinária”, sublinhou.

Pedro Teixeira Neves começou por dizer que a sua esposa desconfia sempre que ele, de facto, tenha participado num Encontro de Escritores quando regressa a casa, vindo da Póvoa de Varzim: “é que regresso sempre em muito pior estado do que parto. Pelo menos uma vez por ano posso provar-lhe que isto de escrever também tem a sua exigência”.

Helder Macedo abordou o Correntes d’Escritas, afirmando que “é através de palavras que estas Correntes estão a celebrar o seu aniversário com uma ideia de renovação. Correntes que renovam, vale a pena”.

Ou como transmitiu Manuel Rui, “estas são as correntes habitadas pelo coração da poesia, com impressões digitais das palavras de vários continentes, ditas em dois idiomas. Estas são as nossas correntes. As Correntes d’Escritas”, disse o poeta.

As sessões de lançamento de livros também foram bastante concorridas, principalmente aquelas que sob o mote 30’ à conversa apresentavam nova edição de livros já publicados. Foi o caso de Gente Feliz com Lágrimas (edição comemorativa dos 25 anos do livro de João de Melo), Ambas as mãos sobre o corpo (nova edição do romance de Maria Teresa Horta) e Lusitânia (nova edição do livro de Almeida Faria).

Uma das novidades deste 15º Correntes d’Escritas foi a iniciativa 2 à conversa que juntou Artur do Cruzeiro Seixas e Isaque Ferreira. O diseur de poesia foi apontando caminhos e declamando poemas provocatórios ao Mestre Cruzeiro Seixas que, ao longo de uma prolongada conversa se foi revelando.

Dois momentos marcantes do Correntes são a Conferência de Abertura e a revelação dos Vencedores dos Prémios Literários. Este ano, não foi exceção. Veja aqui o testemunho de Adriano Moreira (Conferência de Abertura), Manuel Jorge Marmelo (Prémio Literário Casino da Póvoa), Luísa Raquel Martins Morgado (Prémio Literário Correntes d’Escritas Papelaria Locus) e professora da turma 4º 1 SEV, da Escola EB 1 de Sever do Vouga (Prémio Conto Infantil Ilustrado Correntes d’Escritas Porto Editora).

Ivo Machado, João Tordo, Ondjaki, Lídia Jorge, Rui Zink e António Mota foram alguns dos escritores que, nesta edição do Correntes d’Escritas, encontraram-se com alunos do 2º e 3º ciclo. Esta iniciativa paralela tem trazido boas surpresas aos convidados e, neste 15º Encontro, não foi exceção.

António Mota tinha à sua espera, na Escola EB 2/3 Cego do Maio, professores e alunos muito animados com a sua presença, uma vez serem fãs do seu trabalho. Antes da intervenção do escritor, os alunos fizeram questão em prestar-lhe homenagem, lendo algumas das suas histórias com acompanhamento musical. Depois, a atenção naquela sala, pequena para tantas crianças – sentadas nos degraus e encostadas à parede, de pé – reinou.

Raros são os encontros em que o papel dos professores não é valorizado pelos escritores. Lídia Jorge afirmou aos alunos da Escola Secundária Eça de Queirós: “o facto de estarem aqui desta forma preparados, quer dizer que os vossos professores estão atentos, eles são de importância fundamental nas vossas vidas e no vosso futuro, quero prestar aqui homenagem aos professores de hoje”. Lídia Jorge considerou mesmo que “estar aqui tem alguma coisa de resplandecente”. Também Rui Zink contou a sua boa experiência com uma das suas professoras, valorizando também o papel dos docentes. Com a professora de Francês, contou Rui Zink, tinha uma relação de “subentendidos”, de partilha do gosto pelas artes, o que o ensinou que “a Literatura é o oposto da literalidade”.

Poderia pensar-se, perante a agitação de muitos alunos, que um qualquer ídolo de música pop estaria para chegar às suas escolas. Afinal, as crianças não leem, não é? Talvez essa não seja bem a verdade, pelo menos, não a contar com o número de autógrafos dados nestas sessões em livros trazidos de casa ou, como contou o bibliotecário da Escola Cego do Maio, os livros que têm de ser reciclados, tal o uso frequente dado pelos alunos. Para aqueles jovens que ainda não se renderam à literatura, estes encontros podem ser a alavanca do nosso desenvolvimento, como disse o Presidente da Câmara na Sessão de Abertura.

Aos que ainda não se renderam à literatura, António Mota deixou um recado “ler não engorda”.

E nunca é demais lembrar “a mulher da palavra e de palavra”, como a definiu Ana Luísa Amaral, que o Correntes d’Escritas homenageou na edição da Revista deste ano. Inês Pedrosa louvou a escolha de homenagear Maria Teresa Horta na Revista Correntes d’Escritas: “Muitos e muitos poetas escreveram sobre a beleza do corpo das mulheres, os seios, as ancas e outras coisas mais. Mas os homens deveriam estar agradecidos a Maria Teresa Horta, que foi a primeira mulher a escrever sobre a beleza masculina”. Segundo Inês Pedrosa, esta foi uma homenagem “mais do que justa. Maria Teresa Horta é a responsável por uma nova forma de escrita”.

Reviva todos os momentos do 15º Correntes d’Escritas, no portal municipal.