Ana Zanatti revelou que o livro “é um concerto de muitas vozes. Encerra histórias e episódios marcantes na vida de muitas pessoas, incluindo a minha. Mas se quiséssemos fazer-lhe a radiografia veríamos o esqueleto da caminhada de um número muito vasto de pessoas que por esse mundo fora lutaram e lutam pelo direito a existir por inteiro, direito que lhes tem sido interditado pela ameaça do preconceito.”

A atriz e escritora transmitiu que “todos, de uma forma ou de outra, num ou noutro momento, sentimos a dignidade familiar, amigos, conhecidos ou até mesmo a nossa, ameaçada face a atitudes discriminatórias nascidas de preconceitos de tal modo enraizados que se transmitem de geração em geração”.

A autora explicou que no livro foca, em particular, o preconceito e a discriminação que daí decorre que lesa as pessoas LGBT. “Mas os preconceitos sejam eles de que ordem forem, raciais, sociais, sexuais ou religiosos afetam, transversalmente, qualquer sociedade, limitam-na, empobrecem-na. Julgam e avaliam sem conhecer”.

Ana Zanatti contou que serviu-lhe de inspiração a troca de emails, ao longo de mais de um ano, com uma jovem estudante de Medicina, que lhe pediu auxílio face a uma depressão que se avizinhava provocada pelo conflito entre o que sentia ser um forte apela da sua natureza e a sua auto reprovação. A reprovação de uma família homofóbica e a reprovação social ainda demasiado presente em pequenos gestos, atitudes e comentários que, de inocentes, só têm a aparência”.

Perante este caso e outros semelhantes de largas dezenas de jovens que lhe deram testemunhos, a escritora confessou que não pôde deixar de recuar 40 anos e comparar com aquilo que eu mesma tinha vivido e percebeu que a mudança das mentalidades não caminha à mesma velocidade que a evolução noutras áreas.

A autora revelou que, com este livro, pretendeu, por um lado, “deixar um documento que registasse a travessia interna, dolorosa e turbulenta feita por muitas das pessoas com orientações sexuais não normativas neste início de século XXI. Não só delas mas das famílias e, por isso, recolhi vários testemunhos de pais e também de maridos e mulheres cujos casamentos se desfizeram face a uma realidade incontornável. Por outro lado, reforçar a minha convicção de que a história das minorias tem de ser contada e dela deixarmos registos. Porque sem história é como se elas não existissem e o tempo de sermos ignorados já passou. E, por último, e talvez o que mais me importa, deixar clara a minha visão e postura de que em circunstância nenhuma devemos deixar nas mãos de outros a condução dos nossos destinos e abdicar do que verdadeiramente sentimos ser a nossa natureza quando a nossa natureza não retira espaço nem liberdade a ninguém. Devemos atuar de forma a não permitir que a nossa dignidade seja beliscada”.

Terminou dizendo que “o tempo é de esperança e de tomada de consciência. Nunca de desistência e de resignação”.

Luís Filipe Castro Mendes referiu que Outro Ulisses regressa a casa era um livro de “ficção em poemas” e o “leitor encontrará muitas alusões, referências e citações encapotadas, às quais não deve ligar demasiado”.

Coube a Ivo Machado falar sobre o livro de Nuno Costa Santos, sendo que, em comum, têm o facto de serem açorianos porque apesar de lá não ter nascido, Nuno Costa Santos cedo habitou a ilha e assume-se como ilhéu.

Ivo Machado considera que em “Céu Nublado com Boas Abertas cada palavra lá está, só lá está porque é essencial para falar de uma condição de ser. Como se bastasse transmitir um cheiro ou uma cor. Esta é uma escrita liberta de vícios ou de excessos”.

Continuou, referindo que “o livro termina com o homem de regresso ao Bairro lisboeta da Estefânia olhando a mesma biblioteca, sentando-se ao computador e começando a escrever a história que o avô lhe pedira e, crente ele também de que um dia o seu neto possa encontrar esse romance e continuar a escrevê-lo”.

O autor Nuno Costa Santos afirmou que o livro era uma forma de procurar a sua identidade pessoal num dos territórios mais perigosos e livres.

Um homem volta à sua terra para cumprir uma missão que lhe foi atribuída por um avô que morreu: a de recolher histórias recentes dessa terra, a ilha de São Miguel, nos Açores. Esta é a narrativa de um regresso aos lugares onde cresceu e um duplo diálogo: com o antepassado que lhe deixou uma herança inesperada e com o presente insular impuro, algures entre o sagrado e o profano.

Um livro de histórias que se cruzam. As histórias do avô, internado na estância do Caramulo, durante os anos 40 do século passado, e as das personagens com as quais o protagonista se vai encontrando.

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