Goretti Pina, Hélia Correia, Joel Neto, Manuel Rui, Mempo Giardinelli, Miguel Sousa Tavares e Sandro William Junqueira reuniram-se, sob a moderação de Rui Zink, para falar sobre a temática lançada pela organização do encontro literário – ou talvez não. De facto, é já habitual os convidados “fugirem” do tema das Mesas e viajarem por outros assuntos. Na Mesa 9 foi este o caso de praticamente todos os convidados. No entanto, a homenagem a Sophia de Mello Breyner foi traço comum em todas as comunicações.

Goretti Pina disse, por exemplo, que apesar de nunca ter conhecido pessoalmente a poeta sentia que ela fazia parte da sua vida e que a sua obra a tinha marcado para sempre.  

Hélia Correia afirmou que o dom de Sophia não era o da poesia, era o de iluminar através da palavra. Para a escritora, “a mão dela não é, de todo, a nossa mão. Ela consegue dotar as coisas com uma espécie de anti-morte e só os poetas abençoados conseguem fazê-lo”. A poesia de Sophia de Mello Breyner é uma concha banhada pelo mar, segundo Hélia Correia, que brilha debaixo de água mas que quando o comum dos mortais a apanha perde o brilho. Por isso, “a mão dela não é de modo nenhum a nossa mão e eu não me atreveria sequer a falar de um poema dela”.

Joel Neto saiu em defesa, como o próprio disse, dos contadores de histórias. “Existe a ansiedade de, a cada momento, se provar moderno e integrante da tribo e se a moda é não contar histórias os escritores seguem essa moda. Mas há sempre uma história, mesmo que tenha que ser o leitor a escrevê-la”.

Manuel Rui recordou Sophia e a noite em que a conheceu, em 1982: “disse-lhe que já nos devíamos conhecer há milénios mesmo sem sabermos”.

Mempo Giardinelli partilhou que perdeu o pai muito jovem e que, dois anos antes de falecer, entrou em estado vegetativo. “Sempre que chegava a casa ia para perto do meu pai e dava-lhe a mão. Cedo aprendi que as mãos eram um vínculo e expressam o verbo mais generoso: dar. É através delas que cuidamos, tratamos, acarinhamos”.

Miguel Sousa Tavares começou por constatar que “não posso fingir que não sou quem sou e nem fugir de quem sou. Cresci com este poema que para mim representa a vontade de escrever apesar da miséria que há no mundo. A mão nunca deixará de escrever apesar de tudo. Escrevendo libertamo-nos das coisas más da vida. Escrever é ser testemunha”.

Sandro William Junqueira disse que iria utilizar o seu espaço no Correntes d’Escritas para falar de heróis, “não aqueles que usam capas, mas aqueles que são gigantes e este sou eu curvado perante eles”.

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