É preciso ter em atenção que esta iniciativa foi “conseguida a ferro e fogo, pois muita gente não acreditava na sua realização, mas, hoje, está aqui e bate palmas. No primeiro encontro, tivemos 24 escritores e foi preciso pedir-lhes muito, agora, temos que selecionar os escritores que vêm cá”, afirmou.

Considerado o “pai” do Correntes d’Escritas, Diamantino admite que, após 15 anos, o grande desafio foi mudar a realização do encontro para este espaço. É que, conta Luís Diamantino, “houve quem tivesse dúvidas, houve até escritores, o caso de Rui Zink, que me disse que não devia mudar para esta sala, que tem o dobro dos lugares, pois podíamos ficar como os peixinhos no meio do oceano”. O certo é que o patriarca sempre acreditou e as pessoas compareceram, a tal ponto, que “até esta sala se tornou pequena e creio que para este evento todos os espaços serão pequenos”, afirma Luís Diamantino, que adianta, “para o ano, estaremos no Cine-Teatro Garrett, que será mais acessível aos poveiros, que poderão ir a pé, o comércio irá beneficiar muito do evento e os escritores poderão conhecer melhor a cidade e estar mais próximos da comunidade poveira. Com certeza trará outra animação à cidade, que é o objetivo que pretendemos com a abertura do Garrett, para além da aposta neste tipo de Turismo Cultural, de que o Correntes é o expoente máximo”.

A próxima edição terá uma adaptação ao próprio cenário, refere o Vereador da Cultura, “iremos manter o esqueleto, mas temos que “dar algum tempo disponível para todos poderem ir até lá fora e respirar a Póvoa, conhecer a cidade. Iremos ter um certo cuidado com isso, até porque este ano o Encontro está muito cheio, sem tempo livre para fazer mais nada. Porventura até poderemos alterar e começar um dia mais cedo, é algo a analisar para a próxima edição”.

Pormenorizando a análise ao Encontro, Luís Diamantino realça a importância dos encontros nas escolas, um dos quais acompanhou e verificou de perto o “entusiasmo” de escritores e alunos. E nas Mesas, “houve intervenções de excelência”, considerou, notando-se “pela reação do público, que é muito exigente e os intervenientes aperceberam-se disso e todos eles trouxeram textos preparados”.

Uma das personalidades de renome e de apreciável bagagem Cultural presente no Correntes d’Escritas foi o orador convidado para a Conferência de Abertura, Professor Adriano Moreira.

O presidente do Instituto de Altos Estudos da Academia de Ciências de Lisboa considerou “gratificante” participar num encontro como este, acrescentando que “uma das coisas mais importantes, não apenas na União Europeia em geral, mas também em Portugal, são estas reuniões cívicas, que não são condicionadas nem pelos partidos nem pelos sindicatos, o que revela que a sociedade civil está a ganhar um grande sentido de responsabilidade. Isso é muito animador nas circunstâncias em que vivemos, por isso nunca digo que não a estes convites e espero que a minha intervenção tenha alguma utilidade”.

Adriano Moreira salientou o facto de “Portugal, desde muito cedo, ter criado um sentimento nacional, que inclui como elemento principal a tal comunhão de afetos”. O conferencista entende que “algumas medidas que têm sido tomadas” no país podem “deteriorar este cimento fundamental de uma nação, que é ser comunidade de afetos, que é o que faz a solidariedade entre todos, uns mais felizes, outros menos felizes, mas todos correspondendo com uma grande solidariedade. Portanto, é preciso evitar atentados contra a comunidade de afetos, que é a nação”.

Manuel Jorge Marmelo foi galardoado com o prémio de maior valor pecuniário – Prémio Casino da Póvoa (20 mil euros). Para o autor de “Uma Mentira Mil Vezes Repetida” receber este prémio foi “uma experiência única”, sendo ainda “mais incrível este ambiente todo que se criou aqui na Póvoa e perceber que há outras pessoas muito felizes por eu ter recebido o prémio, o que é muito reconfortante”.

O escritor e jornalista vem ao Correntes desde a 3ª edição e, este ano, afirmou, “deu-se este pequeno milagre de ter ganho o prémio e ser o centro das atenções, não me posso queixar. Até tenho tido pouco tempo para assistir às mesas”.

O facto de estar desempregado vai causando “algum desgaste psicológico e emotivo”, refere Marmelo, por isso, “mais do que a questão económica, um prémio destes dá sobretudo ânimo”. O escritor tem aproveitado o desemprego, “essencialmente para escrever, tenho um romance pronto, outro bastante adiantado, editei um livro de contos e outro de crónicas de forma independente”.

O Prémio Literário Correntes d’Escritas Papelaria Locus 2014 foi conquistado pela jovem de 17 anos Luísa Raquel Martins Morgado, de Lisboa, pelo Conto “Jardins vazios de novembro”. É uma história sobre violência doméstica, que surgiu pelo “desafio de um TPC pedido pelo professor de português”. A jovem referiu que se inspirou “em situações que via no dia-a-dia” e que se tentou “colocar no lugar da pessoa, imaginar como seria e o que sentiria”. Depois por sugestão do professor concorreu, como aconteceu com os colegas de turma, de resto, já tinha concorrido com um poema no ano passado e achou “engraçado” ter ganho este ano. Luísa gosta de escrever e coloca a possibilidade de continuar a fazê-lo, mas apenas como passatempo, uma vez que o seu futuro de estudante deverá passar pelo caminho das Ciências. O certo é que, “num tempo de cortes financeiros na Cultura, é importante este encontro para incentivar a leitura e a imaginação”, declarou a premiada.

O Prémio Conto Infantil Ilustrado Correntes d’Escritas Porto Editora 2014 foi atribuído à turma 4º 1 SEV, da Escola EB 1 de Sever do Vouga (Agrupamento de Escolas de Sever do Vouga) pelo trabalho “O Guarda-chuva de Mariana”. A professora desta turma, Graça Fernandes contou que “é prática na sala de aula ler muito e escrever muito, pelo que propus aos alunos se queriam participar e assim nasceu a ideia, depois escolheram o conto para enviar. É a história de uma menina que tem o pai emigrado na Alemanha e que recebe como presente um guarda-chuva da cor do arco-íris”.