Após as atuações do Grupo Coral e do Grupo de Danças da Escola, coube também aos alunos a apresentação dos escritores Ana Luísa Amaral, Frank Báez, Jaime Rocha e Itamar Vieira Junior.

Antes de responderem a questões colocadas pelos jovens estudantes, cada escritor fez a sua alocução inicial de forma livre e espontânea.

Ana Luísa Amaral fez alusão aos tempos duros e cruéis em que vivemos: “Há conquistas sociais que estamos prestes a voltar a perder. Isso é muito triste”. Por isso, deixou o apelo: “Não se acomodem. A liberdade e a democracia são algo extraordinário. São como uma flor que temos que regar. Caso contrário, estão em risco de se perderem”.

Jaime Rocha também abordou a questão da ditadura e do fascismo e partilhou que “quando pensamos escrever um texto para alguém somos levados a praticar autocensura. O leitor é que decide, não é o autor. O autor escreve e o leitor é o grande decisor. Escrevemos para toda a gente e não escrevemos para ninguém porque não escrevemos com um objetivo”.

Itamar Vieira Junior revelou que escreve sobre aquilo que o incomoda, admitindo mesmo que a seu incómodo perante as mais variadas situações é a sua fonte de inspiração, “mas o trabalho da escrita está dissociado da inspiração. Tem mais a ver com a disciplina do que com a inspiração”.

O escritor brasileiro confessou ter uma admiração pelas personagens fortes que cria: “quando escrevo, quero ser um deles também. Posso ser qualquer um deles. A literatura permite essa empatia. Quando escrevemos, estamos a compartilhar a humanidade”.

Para Frank Báez, ter muitos livros em casa, ao seja, crescer entre livros foi o motivo que realmente influenciou o facto de ser escritor, revelando que para si a biblioteca sempre foi o local preferido de casa, acrescentando que desde pequeno lia.

Os autores foram questionados sobre este desafio do Correntes d’Escritas de irem às escolas e cada um fez a sua interpretação.

Ana Luísa Amaral disse-lhe que “também aprendemos muito convosco porque partilham algo connosco. Podemos criar correntes, laços humanos. Somos todos humanos e diferentes uns dos outros e todos podemos contribuir para fazer um bocadinho melhor o mundo em que vivemos”.

Jaime Rocha referiu que os escritores falam sobre aquilo que os incomoda, explicando que “o que incomoda muito os mais velhos é a sociedade mais nova. A velocidade é tanta que um jovem apreende muito rapidamente as mudanças do mundo enquanto as gerações mais velhas estacionam. A transformação do mundo é tão rápida que já não tenho tempo de a agarrar. Não temos capacidade para combater isso”.

Na sequência da ideia já apresentada, Itamar Vieira Junior deixou o seguinte conselho aos jovens que pensam em ser escritores: “procure à sua volta o que o perturba, o que tem vontade de mudar. Não tenha pressa, leia muito, tenha paciência e escreva sem compromisso para se conhecer”.

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