O painel incluiu ainda a brasileira Lélia Nunes, o peruano Renato Cisneros e os portugueses Paulo M. Morais e Rodrigo Magalhães; foi moderado por Francisco José Viegas.

Julieta Monginho preferiu fazer uma intervenção num registo mais “brincado” e estabeleceu uma distinção muito importante entre sinónimos de provocar, que significa causar ou desafiar. Colocou algumas questões sobre “o que é o fracasso”, “quem o determina”, “o que significa fracasso e sucesso em literatura” e “quem determina o fracasso ou o sucesso”.

A autora de “Um muro no meio do caminho” terminou com uma série de jogos em relação à palavra “escrever” e à palavra “fracasso”, destacando-se a ideia de que a sua ambição era provocar não o fracasso, mas os deuses, de resto, uma ambição dos escritores.

Lélia Nunes recusou-se a aceitar a própria dimensão do fracasso, sobretudo no Brasil, que ela classificou como um país de “paixões”, um país dentro de outros países, um Brasil de vários ‘Brasis’. As suas paixões, pelo Brasil e pelos Açores, obrigam-na a não fracassar. Assim, a escritora sublinha que são os próprios temas que escolheu o garante do não fracasso.

Paulo M. Morais centrou-se numa história muito pessoal, sobre o seu tio-avô Emídio e sobre se teria ou não fracassado na vida, ele que realizou um único filme, uma réplica portuguesa do Charlot. Assentou a sua apresentação, sobretudo, numa luta entre a memória e o fracasso. A memória garante a vitória contra qualquer tipo de fracasso, de acordo com o autor de “Seja feita a tua vontade”.

Rodrigo Magalhães mencionou a importância do acaso no trabalho do escritor e que o fracasso, no seu caso, é “a impossibilidade de atingir o ideal”.

O autor referiu que “escrever é a mais democrática das artes, é uma coisa quase pós-maoista”, afirmando que “o tigre que o escritor invectiva é de papel.

Renato Cisneros começou por ligar o próprio Peru ao fracasso e definiu um escritor como uma espécie de “condenado ao fracasso”, mas, salientou, o que salva o escritor do fracasso é a própria “decisão de aceitar ser escritor”.

O jovem peruano defendeu que o homem deve acatar a sua vocação e aceitar o que leva dentro de si e o que transporta.

Renato estabeleceu a distinção, já estabelecida antes por Julieta, entre o fracasso e o êxito, salientando a origem filológica da palavra “êxito” – tem a ver com exitus, exit em inglês. Significa “sair, concluir, acabar”. No fundo, êxito é o contrário do espírito literário.

O autor de “Deixarás a terra” terminou, referindo que o fracasso é uma espécie de “recurso de estilo”, dando exemplos da sua mescla de autobiografia com o romance, da realidade com a ficção. Dá ênfase, no final, à necessidade que, por vezes, existe de provocar o fracasso para poder escrever.

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