Marcadamente piscatória, a relação do povo com o mar desfilou neste Cortejo, organizado em parceria com todos os bairros da cidade, contando com a participação de cerca de mil figurantes e dezenas de carros alegóricos que recriaram, assim, as primeiras festas de S. Pedro na cidade, em 1962. A Pesca na Antiguidade, retratada com base nos achados arqueológicos da Cividade de Terroso, foi o tema, por excelência, do corso que integrou a Lancha Poveira e os diversos apetrechos de pesca artesanal, havendo ainda lugar para o lançamento das redes ao mar e para a evocação do “Ala-Arriba” – grito característico dos poveiros ao puxar, à força de braços, o barco na praia. Raia, polvo, pescada e peixe espada foram algumas das variedades de pescado apregoadas na lota conferindo imenso realismo ao corso que integrou também os “pregões” feitos em terra e no mar. Lembrando as tragédias vividas pelos seus antepassados, foram ainda retratados o luto poveiro e a presença das carpideiras que, com seus prantos, ajoelhando-se no chão e erguendo os braços aos céus, choravam os mortos, muitos deles vítimas de naufrágios, sendo que o mais marcante foi de 1892. Cego do Maio, Patrão Sérgio e Patrão Lagoa também incorporaram o desfile recordando os heróis marítimos, conhecidos por enfrentarem grandes perigos no mar e evitarem tragédias maiores.

A Casa Poveira também tomou parte do cortejo e com ela as tradições religiosas que marcavam a comunidade piscatória, como o casamento do sardinheiro e o casamento do lanchão, o baptizado, as Janeiras no seguimento da época do Natal, a solenidade do compasso e a ida ao Anjo, marcada pelos farnéis na altura da Páscoa.

A crença dos poveiros fez-se notar pelas romarias do passado a S. Torcato Milagroso, Senhora d’Abadia e S. Bento da Porta Aberta, sendo que a romagem a S. André realizada em Novembro, mês das almas, marca a fé dos poveiros que actualmente ainda realizam esta peregrinação orando pelos seus entes falecidos. Nesta romagem, os peregrinos trajam de luto e percorrem o percurso mais próximo do mar da Póvoa até Aver-o-Mar, rezando e cantando durante todo o caminho.

O sargaço carregado pelas típicas sargaceiras de Aver-o-Mar, mulheres que se dedicavam à sua apanha, e o milho a ser malhado, uma das fases para a produção do pão, simbolizaram outros ofícios que para além da pesca caracterizam a Póvoa, da qual “arado e rede são seus avós”.

Foi assim, ontem, que, num desfilar de memórias e seculares tradições, o Cortejo ao Mar encerrou as Festas de São Pedro, na Póvoa de Varzim.