As perto de 300 pessoas que assistiram a este fórum e o grande interesse e qualidade dos temas apresentados pelos participantes permitem afirmar que esta foi, sem dúvida, uma iniciativa de sucesso.
Para a maioria do público, composto por estudantes de arquitectura, o Fórum revestiu-se de grande importância académica, mas, para quem quis assistir pelo interesse do tema, esta foi uma excelente oportunidade para perceber melhor a estrutura conceptual por trás dos edifícios religiosos que foram abordados e entre os quais se encontravam a Igreja da Santíssima Trindade de Fátima, a Cripta de São Bento da Porta Aberta ou as futuras capelas mortuárias da Igreja Matriz da Póvoa de Varzim. Para além do aspecto de construção, o Fórum abordou também, na primeira parte dos trabalhos, sábado de manhã, a conservação e o restauro de edifícios religiosos, onde foram analisados os casos da catedral de Santiago de Compostela e de várias igrejas no sul de Portugal, mais concretamente no Alentejo.
Na abertura do Fórum, sexta-feira à noite, foi precisamente este aspecto do restauro e conservação que foi abordado pelo Presidente da Câmara, José Macedo Vieira, que no seu discurso salientou a importância da preservação de um património que está fortemente ligado às raízes culturais dos habitantes e que constitui um forte pólo de atracção turística, numa terra como a Póvoa que tem, no Turismo, uma das suas principais fontes de receita.

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 Sessão de abertura  

Como primeiro orador convidado, o conhecido arquitecto Luiz Cunha que, entre outras obras, tem no seu currículo Igreja do Cristo Rei, da Portela de Sacavém, a recuperação do Cristo Rei, em Almada, ou a igreja do Carvalhido, no Porto, serviu-se do seu projecto da Cripta de São Bento da Porta Aberta para abordar o tema que lhe tinha sido proposto: “Arquitectura Religiosa: do movimento de renovação às realizações do Presente e às interrogações do Futuro”. E o conselho que quis deixar aos novos arquitectos foi simples: “não olhem muito para o passado”. Para o arquitecto, “o passado tem, com certeza, o seu peso, mas nós, os cristãos, devemos olhar para o futuro e trabalhar com valores que nos ultrapassam e prolongam”. São Bento da Porta Aberta é, sem dúvida, a materialização desta premissa – um templo aberto para o exterior, estabelecendo uma comunicação entre o espaço interior e sagrado e a sua envolvente externa e “profana”, acolhendo a entrada das pessoas, a sua livre circulação e a passagem da luz, tanto num plano horizontal como vertical, através da cúpula.

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Arquitecto Luiz Cunha Arquitecto Rui Bianchi

No sábado de manhã, mais dois novos projectos em destaque: as capelas mortuárias da Igreja Matriz, da Póvoa, da autoria de Rui Bianchi, e a Igreja da Santíssima Trindade, em Fátima, de Alexandros Tombazis.
 Começando por fazer uma retrospectiva histórica da Igreja Matriz, que este ano comemora 250 anos de existência e que se insere num espaço onde existem vestígios de uma primeira estrutura religiosa do século XIII, estabelecendo uma ligação espacial e histórica com outros edifícios religiosos da cidade, como é o caso das igrejas da Misericórdia e das Dores, Rui Bianchi apresentou o seu projecto das capelas mortuárias. Projecto a que se referiu como sendo “um desafio”, uma vez que estas terão que se enquadrar no contexto histórico da igreja, mas tendo em conta o plano de urbanismo, que prevê a abertura de uma nova rua na zona onde estas serão construídas. Para além das capelas, Rui Bianchi propõe ainda a construção de um espaço contíguo para um museu onde se coloque o espólio da igreja. Apostando num desenho simples e no recurso a materiais da região, como o granito, as capelas procurarão reflectir, no seu desenho, a dimensão espiritual associada à sua função.

A Igreja da Santíssima Trindade, que deverá ser inaugurada no dia 13 de Outubro deste ano, constitui, desde logo pelas suas dimensões, um desafio para qualquer arquitecto. Num espaço fechado que permitirá acolher nove mil pessoas, são muitas as dificuldades que se colocam à concepção do projecto. Durante cerca de uma hora e meia, Alexandros Tombazis falou desta obra monumental, de um desenho belíssimo, explicando que a sua grande dimensão e amplitude de espaço, justificam a grande atenção que prestou à concepção de espaços mais pequenos, sobretudo no exterior, com a criação de pequenos recantos com jogos de água e jardins. No interior, a decoração recorrerá, entre outros elementos, a obras de arte de artistas bem conhecidos. A intervenção deste reconhecido arquitecto constituiu um dos momentos mais apreciados deste Fórum.

Os trabalhos terminaram no sábado à tarde, em Rates, para se abordar o caso prático da restauração da Igreja Românica de São Pedro de Rates e a construção, na sua envolvente, do recente Núcleo Museológico e da capela do Senhor da Praça, de estilo barroco. Uma apresentação levada a cabo pelo arqueólogo municipal, José Flores, e pela directora do Museu Municipal, Deolinda Carneiro, que acompanharam os trabalhos em redor destes edifícios.                

Uma organização da turel, cooperativa de Turismo Religioso, com o apoio da Câmara Municipal, o Fórum de Arquitectura Religiosa constituiu a primeira colaboração concreta entre estas duas entidades, no âmbito do protocolo assinado, no ano passado, com vista à promoção do turismo religioso na Póvoa, e deixa antever, perante a forma como decorreu, a realização de novas colaborações, num futuro próximo.

O programa pode ainda ser consultado aqui.