Onésimo Teotónio Almeida conduziu a conversa com João de Melo sobre Gente Feliz com Lágrimas, agora apresentado numa edição comemorativa dos 25 anos do livro. Uma sessão que atraiu público para além da lotação da Sala Eça de Queirós do Hotel Axis Vermar.

O “grande romancista”, como Onésimo o definiu, revelou que estava “impressionado e feliz, sem lágrimas” pela quantidade de gente que estava a assistir à apresentação desta 25ª edição.

“Tenho grande dificuldade em regressar a um livro que tenho a sensação que já deixou de me pertencer”, começou por dizer o escritor, contando que “este livro escapou ileso” a alterações ao longo das várias edições, “muito por culpa das pessoas que nunca permitiram um momento de pausa para poder alterar o romance” e até porque este livro é “objeto de vários estudos e teses”.

João de Melo partilhou que “a seguir ao título, vem toda aquela construção que resulta da prática de uma escrita feita vertiginosamente no final da década de 80 de um livro que de alguma maneira estava planeado na minha cabeça mas que me fugiu das mãos. Deixou de ser escrito por mim para se inscrever a ele próprio”.

O autor natural dos Açores explicou o que o interessou fazer neste livro: “dentro de uma amplitude razoável, projetei o livro até um pouco mais para a frente na personagem de Nuno Miguel, que no livro é um pouco mais velho do que o autor, numa tentativa de sondar um futuro que já pressentia que vinha aí e ao qual regressei noutro livro meu”.

João de Melo continuou revelando que “pretendia, dentro de uma certa amplitude, falar de um país que nos dava imensos motivos da literatura, para a criação porque há um período neste livro que abarca a existência de Portugal que é, porventura, o da grande viragem final do próprio ciclo português. Interessou-me transmitir ao leitor o carater paroquial do fascismo português”.

A religião apavorante, a pobreza açoriana e a sua passagem pelo Seminário foram alguns dos temas falados por João de Melo que partilhou ainda que “abordo, neste livro, aquilo que a minha geração inventou: o divórcio”.

Publicado há 25 anos, Gente Feliz com Lágrimas é um livro que apaixonou várias gerações de leitores e que conquistou 5 importantes prémios literários – Grande Prémio de Romance e Novela da APE, Prémio Fernando Namora, Prémio Eça de Queiroz, Prémio Livro do Ano Antena Um e Prémio Internacional Cristóvão Colombo.

Romance de uma família que se desfaz e refaz pelas paragens onde a levam os bons e maus augúrios que motivam a sua dispersão, é uma saga que irresistivelmente arrasta o leitor ao longo de cinco mundos, vividos e pensados através da obsessiva busca da felicidade que move os seus protagonistas.

Concebida polifonicamente como a descrição dos vários modos de viver a amargura que medeia entre o abandono da terra e o re­torno ao domínio do que é familiar, esta peregrinação possível em tempos de escassez de aventura é a definitiva lição de que o regresso se não limita a perfazer o círculo, e constitui uma visão fascinante do Portugal que todos, de uma maneira ou de outra, conhecemos.

Gente Feliz com Lágrimas foi adaptado a televi­são para a RTP, numa série de cinco episódios dirigida por José Medeiros, e ao teatro por João Brites, para o grupo «O Bando».

Reviva o 15º Correntes d’Escritas, no portal municipal.