A convidada, que
prepara tese de doutoramento sobre a personalidade poveira, fez uma exposição detalhada
sobre a sua vida pessoal, percurso académico e profissional.

Ezequiel de Campos nasceu na freguesia
de Beiriz, concelho da Póvoa de Varzim, no seio de uma família modesta. O pai,
Albino José Pereira de Campos, era alfaiate, e a mãe, Carolina Custódia de
Azevedo, costureira, ambos naturais e residentes em Beiriz. Órfão de mãe desde
tenra idade, foi acolhido por um tio, comerciante na Póvoa de Varzim, onde
Ezequiel frequentou a escola primária. Mais tarde, fez os estudos secundários
no Porto, concluídos em 1892. Aqui viveu em casa de outro tio, este regressado
do Brasil e estabelecido naquela cidade como comerciante. Como a família não
dispunha de meios para que frequentasse os estudos superiores, foi financiado
por um amigo e benemérito de nome José António Sousa Bastos. No ano letivo de
1892/93 ingressou na Academia Politécnica do Porto, no curso de Engenharia
Civil, que viria a concluir em 1898.

Em 1899, por falta de
oportunidades de trabalho em Portugal, aceitou um contrato para as obras
públicas em São Tomé e Príncipe, iniciando, assim, a sua vida profissional como
engenheiro. Aí desenvolveu um trabalho meritório, em prol dessas Ilhas,
projetando reformas agrícolas e de viação ferroviária, bem como um programa de
educação destinado às populações locais.

Em 1911, após a proclamação da
República, foi eleito deputado à Assembleia Constituinte pelo Círculo de Santo
Tirso. Entretanto, a 1 de Março de 1917, Ezequiel de Campos casou com Isolina
Gonçalves Mendes, natural de Beiriz. Em 1918 foi nomeado pelo ministro
Francisco Xavier Esteves para dirigir os Estudos Hidráulicos do Douro, Cávado e
Tejo. Entre 1922 e 1939 desempenhou o cargo de diretor dos Serviços
Municipalizados de Gás e Eletricidade do Porto. Foi Ministro da Agricultura
durante alguns meses do ano de 1924, no breve governo de José Domingues dos
Santos. Durante o Estado Novo, foi Procurador à Câmara Corporativa. Entre 1957
e 1964 pertenceu ao Conselho da Presidência. Ezequiel de Campos exerceu, ainda,
funções docentes no Ensino Superior: no Instituto Superior do Comércio do
Porto, entre 1925 e 1927; na
 Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, entre
1928 e 1944. Proferiu a sua última lição em 12 de Dezembro de 1944, intitulada
“A Ideia, a Produção mais Valiosa do Mundo”.

Ezequiel de Campos pertenceu ao
grupo da
 Renascença Portuguesa e, em 1921, foi um dos fundadores do Grupo Seara Nova, cujo
primeiro número data de 16 de Outubro de 1921.
Esta ligação intelectual evidencia,
desde logo, as suas preocupações cívicas pela construção e pelo futuro do
“País Real”. Oliveira Martins, Basílio Teles e Quirino de Jesus foram
as suas principais influências.

Ezequiel de Campos deixou uma
vasta obra. Para além dos seus estudos sobre os recursos naturais de Portugal –
o aproveitamento hidroelétrico (Carrapatelo
 foi projeto da sua autoria) e vários projetos na área da
agricultura, o Engenheiro Ezequiel de Campos apresentou soluções para diversos
problemas do país.

A sua produção bibliográfica é
extensa, assim como a sua colaboração na imprensa da época, nomeadamente no
jornal “O Comércio do Porto” e no “Jornal de Notícias”.

Os últimos anos de vida de Ezequiel
de Campos foram passados na Casa do Mosteiro, em Leça do Balio, propriedade que
adquirira nos anos trinta. Nesta casa, numa tarde quente de Agosto, morreu com
91 anos de idade. O seu corpo repousa no cemitério paroquial de Beiriz, sua
terra natal.
 

Noémia Ferreira de
Castro terminou citando Manuel Lopes: “Ezequiel de Campos (1874-1965) é,
sem sombra de dúvida, um dos filhos mais ilustres do concelho da Póvoa de
Varzim. Foi uma personalidade de uma grandeza cultural e científica ímpar.
Economista, engenheiro, homem público e escritor capaz de servir e honrar a
língua portuguesa, Ezequiel de Campos é uma personalidade rica cuja obra não
perdeu, de todo, actualidade e interesse. A sua notável e multiforme actividade
traduz um limitado desejo de conhecer, estudar e contribuir para a solução
efectiva dos problemas económicos e sociais do país.

(…)”in Doze
Nomes para doze Meses (1996), Manuel Lopes

 

“À quarta (h)à conversa” é dirigida ao público
sénior e apresenta, na terceira quarta-feira de cada mês, diferentes temas
ligados à história local.