Na Biblioteca Municipal, na passada sexta-feira, o Presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, Aires Pereira, admitiu ter “muito gosto em associar-me à apresentação deste novo livro de poemas de José Carlos de Vasconcelos – eu que, como sabem, não sou da área das Letras, e muito menos desse seu recatado recanto onde moram a poesia e os poetas”.

O Presidente da Câmara Municipal considerou que “este O Mar A Mar a Póvoa II não é, como o José Carlos diz, uma reedição do livro homónimo, saído em 2001; é um novo livro, porque aos poemas do 1º (34 dos 35 então publicados e agora pontualmente retocados) acrescenta 14 novos poemas. O que quer dizer que a fonte inspiradora do 1º não se esgotou – aliás, a conhecida força torrencial dessa fonte (“a Póvoa e o mar”, que o José Carlos diz “quase sinónimos”) garante-nos que continuará a brotar, e que, dando aqui razão à sabedoria popular, não haverá duas sem três”.

Aires Pereira desafiou o poeta a escrever o terceiro livro de poemas sobre a Póvoa de Varzim: “do poveirismo do José Carlos de Vasconcelos esperamos, como disse, a versão três deste livro de poemas. Porque sabemos que eles existem, sem qualquer razão para permanecerem envergonhados na sombra de uma gaveta, e porque sabemos que a criação poética de temática poveira não foi, na vida de José Carlos de Vasconcelos, fenómeno balizado entre meados dos anos 60 e o fim do milénio. Nem tem de ser, necessariamente, como agora, um regresso. Há, hoje, uma nova relação com o mar, não tão dramática nem tão intensa como a desses distantes anos, mas por isso mais próxima, mais calma, talvez mais afetuosa. E, além do mar, há a cidade toda”.

José Carlos Vasconcelos agradeceu a presença de todos em algo que considerou “não ser muito agradável. Não assisto a lançamentos de livros, apesar de receber muitos convites, e por isso, não quero que os outros se sintam na obrigação de assistir aos meus. Mas a Póvoa de Varzim é especial sempre em relação a qualquer livro e, claro, mais especial quando se trata deste livro. É sempre uma emoção muito grande para mim estar na Póvoa, sentir a Póvoa, falar dela”.

A ligação de José Carlos Vasconcelos à Póvoa de Varzim vem de infância. Nasceu em Freamunde, em 1940, mas sempre viveu na Póvoa de Varzim, onde fez a Escola e o Liceu, e muito cedo iniciou a atividade jornalística e cultural.

Com O Mar A Mar a Póvoa II, o poeta lembra os seus dias de menino e os lugares que o marcaram, como o Cine Teatro Garrett. No dia seguinte à apresentação deste livro, sábado, 21 de dezembro, o Garrett abriu as suas portas para uma visita à obra de remodelação. Desafiado pelo público, José Carlos Vasconcelos leu um poema dedicado ao Cine Teatro e, assim, se despediu dos poveiros:

 

Teatro Garrett

 

No tempo do velho Garrett

Havia os vilões e os heróis

Valentes cenas de chapada,

Tremendos filmes de cobóis,

De piratas, de capa e espada.

 

E a malta lá no galinheiro,

Não ficava sentada a ver.

A malta tomava partido:

De pé, firme, de corpo inteiro

Como se fosse combater,

Fazer exercícios de tiro.

 

E agora que volto ao Garrett,

Para me sentar na plateia

Num silêncio bem comportado,

Que o passado não se repete,

O que arde, o que incendeia,

É levantar-me da cadeira

E passar para o outro lado,

Indo de novo para a rua

Cantar um sonho renovado,

Cantar que a luta continua

E contra os vilões arremete.

 

É cantar, a plenos pulmões,

Contra ventos e vendavais,

Cantar, gritar, pintar o sete:

Não será por quinze tostões,

Mas não morreu nem morre mais

O galinheiro do Garrett.