O autor e jornalista poveiro escreve sobre a história incrível de António de Vieira, um judeu português na corte do czar de todas as Rússias.

António Manuel Luís de Vieira morreu em São Petersburgo no verão de 1745. A sua saúde não aguentou o clima rigoroso da Sibéria, onde passou longos anos desterrado por ordem de Catarina, I da Rússia. A reabilitação do seu nome, honras e mercês chegou pouco tempo antes da sua morte, aos 71 anos.

Nascido possivelmente no Minho, filho de gente humilde, quis o destino que o judeu António de Vieira se distinguisse e tivesse uma vida extraordinária. Era um jovem grumete quando foi contratado pessoalmente por Pedro, o Grande, que descobriu nele uma inteligência e temperamento excecionais. Em pouco tempo era general-ajudante, posto criado especialmente para ele, depois de uma extraordinária carreira militar. Por casamento, fruto de uma paixão correspondida por Anna Menchikova, irmã de um dos homens mais influentes da corte, ascendeu à aristocracia russa, chegando a ser proclamado conde, com direito a brasão. Em 1718 é nomeado chefe da polícia de São Petersburgo, cargo que era então uma espécie de presidente da câmara e implicava ajudar a construir a nova capital do império russo.

Incorruptível, a luta pela sucessão de Pedro, I, envolvem-no numa intriga que gerará a sua condenação à morte, trocada pelo degredo na Sibéria, num dos sítios mais frios do planeta. Acabou por ser reabilitado mas morreu dois anos depois.

Num estudo cativante, José Milhazes conta a história, até agora praticamente desconhecida, deste judeu português, descobrindo que nomes famosos da pintura e do cinema mas também heróis das lutas napoleónicas ou malfeitores são descendentes de Vieira, cuja linhagem chega aos nossos dias.

José Milhazes nasceu na Póvoa de Varzim em 1958. Tradutor de autores clássicos e políticos russos tornou-se conhecido enquanto correspondente em Moscovo da SIC, TSF e jornal Público. Doutorado pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, é autor de vários livros. Vive em Moscovo desde 1977. É atualmente correspondente da SIC e da RDP, colunista do Observador, e leciona o curso de Estudos Portugueses.