Valter Hugo Mãe disse que poder coordenar uma coleção de poesia é para o escritor uma pura alegria. A poesia é algo que sempre fascinou Valter Hugo Mãe e não foi por acaso que reuniu os poemas compilados na coleção e que escolheu os autores que escolheu.

José Rui Teixeira, Isabel de Sá, Andreia C. Faria e Luís Costa são os escritores que se juntaram a Valter Hugo Mãe para levar este projeto até ao público.

Autópsia (poesia reunida), de José Rui Teixeira é um livro que reúne os dois ciclos de seis anos de trabalho do teólogo e poeta portuense: Diáspora e Antípoda, antecedidos por cinco inéditos de Eclipse de 2018. 

Alegria para o Fim do Mundo, de Andreia C. Faria, no ano passado ganhou o Prémio da Sociedade Portuguesa de Autores para Melhor Livro de Poesia, com a obra Tão Bela Como Qualquer Rapaz.

Luís Costa, com Amar o Tempo das Grandes Maldições estreia-se nas andanças da poesia e nesta coleção. 

No andar debaixo, na Sala Grades foi apresentado o projeto “Chan de Pólvora Libraría”, por Quico Valeiras. Este projeto surgiu no ano de 2016, para “a poesia galega ter um espaço na sociedade”. O projeto passa por uma proposta editorial, onde há uma intertextualidade entre novos poetas e poetas que já têm muitos anos de poesia.

O ponto comum entre os novos poetas e os poetas que já deram cartas no mundo da poesia é a perda rural, este é o tema que os liga. As políticas da cidade acabaram com os espaços rurais, que estão esquecidos e esta é a temática constante nos poemas dos autores que fazem parte deste projeto.

Os lançamentos de livros da manhã terminaram na Sala Geografia com a apresentação dos seguintes livros: A noite passada, de Alice Brito; A mulher de roupão de sede, de João Bernardo Soares e Maré Alta, de Pedro Vieira.

As editoras estiveram presentes para falar sobre os autores e os livros. Alice Brito escreveu A noite passada, um romance de amor poderoso num Portugal que ansiava pela liberdade.
Tendo Lisboa como ponto de partida, a autora conta-nos a história de uma jovem, Amélia, de famílias respeitáveis, que põe o futuro e a honra a perder quando se deita com um agente da PIDE de modos delicados e linguagem sedutora, mas capaz das maiores crueldades.
Um livro imperdível, com uma escrita fluida, que lembra a aclamada série da RTP, Conta-me como Foi, cheio de histórias de heróis e vilões anónimos, preconceitos e modas arrojadas, e o grande sonho da liberdade.

João Bernardo Soares foi o segundo a apresentar o seu livro A mulher de roupão de sede, que conta uma história sobre segredos. “O dela está fechado num quarto. Fátima tem um segredo. Estela conhece todos os segredos porque fala com os mortos. Luís Serrano matou um homem inocente para limpar a honra da filha. E Flávio passou a vida a lutar contra um pesadelo que está prestes a tornar-se realidade”. Bem-vindo ao romance de estreia de um autor que mistura, com perícia, lugares e gerações de um país que ainda vive de extremos. Um excelente exemplo de como vale a pena descobrir novos escritores portugueses.

O último a intervir para contar ao público a história do livro Maré Alta foi Pedro Vieira. Este livro fala vida de um povo. Naufrágios e glórias, luz e trevas, gente levantada e de joelhos. E, durante todos esses anos, a maré sobe e desce. Há um país que se vai transformando, mesmo visto de longe. Há homens em fuga para a frente, que trocam de nome e de moral. Há mulheres de dentes cerrados. Há filhos deixados para trás. Meadas de histórias e de sangues às quais se perdeu o fio.

Num romance sem heróis, onde todos lutam, sobrevivem e morrem a tentar ser livres, é possível, embora vão, tentar destrinçar, no meio do medo e da culpa, onde acaba a ficção e começa a realidade. E se, por vezes, a intimidade da escrita nos aproxima de acontecimentos distantes, noutros, é a frieza da narrativa que resguarda momentos de grande profundidade. Cortesia de um dos romancistas mais promissores da literatura portuguesa contemporânea, Maré alta é um retrato cru e épico do Portugal do século XX e de quem o viveu, no limiar onde a esperança, o sonho e a memória se confundem e perdem na sucessão de marés.

“Um século é muito tempo. Um século não é nada, quando aprendemos a nadar”.