A cidade desgovernada, de Ivo Machado, Arrumação das pedras, de João Rios e O farol cego de Pedro Teixeira Neves foram as obras apresentadas pelo editor Carlos Lopes e participação dos respetivos autores. O silêncio deu mote a esta sessão.

Ivo Machado lembrou que em 2011, no Correntes d’Escritas, tinha feito o juramento de que não publicaria nos próximos cinco anos. Cumpriu e cinco anos depois lança A cidade desgovernada. “Precisei de fazer uma travessia pelo silêncio”, transmitiu, acrescentando “sou uma cidade desgovernada. Andei à procura da pátria do meu próprio vocabulário. A obra é a forma como eu a sinto. Só escrevo sobre o que conheço e vivo. A minha poesia é o modo como sinto o mundo e os outros. O mundo na minha escrita é o mundo que eu sinto”.

Para o escritor, “um poema tem que contar uma história” e, como exemplo, leu um poema intitulado “Café da estação”, que foi começado a escrever na Estação de Campanhã e terminado próximo da Estação de Coimbra.

Ivo Machado transmitiu ainda que “quando escrevo, escrevo para mim. Não escrevo um poema a pensar no leitor”. No entanto, “há casos particulares em que gosto de partilhar afetos” e leu um poema dedicado a um jovem da Póvoa de Varzim que conheceu há 17 anos, em 2000, na primeira edição do evento.

Pedro Teixeira Neves afirmou que “só somos em função do que nos rodeia”, assumindo que os refugiados foram a realidade que deu o mote para escrever o livro. “Mas, por trás disso, estão as grandes questões que a poesia trata”, revelou.

Para o autor, “o silêncio diz e não precisa de palavras para dizer”, acrescentando que “escrevo para me refugiar atrás das palavras. Escrevo para os outros. Escrever poesia é falar connosco por dentro. A escrita é uma luta vã contra o tempo. Escrever é um ato de resistência”.

João Rios contou que Arrumação das pedras demorou seis anos a escrever e “é uma intromissão no meu silêncio. Necessitava disso. Quis falar com a morte da minha mãe. Necessitei de uma maneira qualquer de fazê-la regressar para saber de que espessura era a sua morte”.

Para o poeta vila-condense, “silêncio é interrogação que preciso constantemente”, mas “a vida não é só silêncio”.

O autor disse que “esta obra termina um ciclo”, manifestando que “quero continuar a ter capacidade de reinventar o mundo”.

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