Para apresentar estes livros esteve presente, na Sala Poesia, nas Galerias Euracini 2, Carlos Veiga Ferreira, editor da Teodolito. Depois de fazer uma breve apresentação dos escritores, passou a palavra a Ignácio de Loyola Brandão, que começou por contar a sua história de vida, desde infância e revelou que o seu sonho era ser “roteirista de cinema, mas não deu e reciclei o sonho para o jornalismo”. No jornalismo fez de tudo um pouco, trabalhou em jornais, dirigiu jornais, trabalhou em revistas e acabou a sua carreira jornalística na Vogue.

Em relação a este livro, Desta terra nada vai sobrar o escritor defini-o como irónico e triste, mas revela que o final é “completamente surpreendente”. Ignácio de Loyola Brandão demorou quatro anos e meio a acabar de escrever este livro que diz falar sobre o futuro do Brasil.

Neste romance, Ignácio de Loyola Brandão conta a trajetória de Clara e Felipe a partir de uma separação. Extenuada, ela viu que era impossível continuar amando Felipe. Aqui, Loyola eleva à máxima potência a distopia que constituiu seus arrebatadores Zero e Não verás país nenhum. 
A narrativa de Desta Terra Nada Vai Sobrar, a Não Ser o Vento Que Sopra Sobre Ela decorre num futuro indeterminado, em que, ao nascer, todos usam umas pulseiras eletrónicas nos tornozelos e são seguidos, vigiados, fiscalizados por câmaras instaladas nas casas, ruas e nos quartos de banho. 
Nesta terra estranha, e ao mesmo tempo tão próxima de nós, a peste tornou-se a epidemia que dissolve os corpos.

José Manuel Fajardo apresentou o livro Carta do Fim do Mundo, que já foi editado há 21 anos e que já está traduzido em várias línguas. Para o escritor estar no Correntes d’Escritas passado 20 anos a lançar o livro é uma oportunidade, porque “há 20 anos mais tarde, novos leitores e mais leitores”. José Manuel Fajardo confessou que para ele os livros não têm validade, não têm tempo.

Quando começou a falar da história do livro disse que teve de voltar a ler algumas partes, para recordar alguns pormenores, porque aquela obra tinha sido escrita num momento de muita solidão e a base do livro era a solidão. Apesar de ser quase tudo ficcionado, há no fundo da história uma verdade que é transmitida do autor para as personagens. Fajardo espelhou a solidão que sentia com os personagens.

 Carta do Fim do Mundo conta a história do Cristóvão Colombo, que tinha acabado de chegar à América e tem de regressar a Espanha para dar a notícia dos Descobrimentos. Deixa em Espanha trinta e nove homens com o encargo de erguerem o Forte de Navidad e de se converterem na guarda-avançada da cristianização do continente. Saberemos das suas andanças pela carta que Domingo Pérez, tanoeiro, escreve ao seu irmão, dando conta pormenorizadamente dos acontecimentos de cada dia.

Este livro com 20 anos está muito atual, pois o seu interior está cheio de conflitos de justiça e de igualdade, conflitos estes que ainda estão ativos.

Francisco Duarte Mangas confessou que os editores, em geral, não gostam de publicar contos, mas Carlos Veiga Ferreira não tinha pensado duas vezes em publicar o seu livro que está divido em contos. Nas narrativas as histórias são todas diferentes e numa parte, num dos contos, o escritor fez uma homenagem a Manuel Lopes. Os temas são variados, Francisco Duarte Mangas admitiu que tanto escreve sobre pessoas, como escreve sobre lugares rurais abandonados. Pavese no Café Ceuta descreve a vida do escritor italiano Cesare Pavese que procura o antigo editor de Eugénio no café errado. Gabriela, personagem de Jorge Amado, também chega ao Porto para descobrir alguns dos homens que dormiram com Gisberta, “antes de ser fétida melancolia, brinquedo de moleque”. Pavese no Café Ceuta é um tributo aos livros, a lugares rasurados, e a quem verdadeiramente os ama.

Já a chegar ao final, Alexandre Marques Rodrigues confidenciou, a quem o ouvia, que quando começou a ler, quase só lhe interessavam os clássicos alemães e russos, até ao dia, em que recebeu um livro de Ingácio de Loyola Brandão, O beijo não vem da boca. Depois de ler esse livro a sua visão da literatura mudou e ganhou uma maior inspiração para escrever.

O livro que hoje lança está divido em 23 contos. Parafilias venceu o Prémio SESC de Literatura, no ano de 2014, na categoria Contos e foi finalista do Prémio Jabuti e semifinalista do Prémio Oceanos. Os contos vão dialogando entre si sob um (quase sempre) comum pretexto: encontros e desencontros que redundam em corpo e pele.