Na tarde de ontem, 20 de novembro, o Presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, Aires Pereira, visitou Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de Belém, para lhe entregar, pessoalmente, o tapete. A proprietária da Fábrica dos Tapetes de Beiriz, Cátia Ferreira, também acompanhou o autarca poveiro.

A peça oferecida é a segunda réplica do tapete de 1922, sendo que já existe uma primeira que decora a Sala dos Embaixadores no Palácio de Belém, há 15 anos, oferecida, na altura, pela Embaixada do Brasil ao Estado Português. Este tapete tem uma novidade, sete trocas de linha propositadas feitas por cada tapeteira envolvida na produção do mesmo. Por considerar que as tapeteiras raramente são reconhecidas, Cátia Ferreira entendeu que cada mulher que trabalhou no tapete devia deixar nele a sua assinatura, “um reconhecimento mais do que merecido a estas artesãs”.

Esta encomenda especial tem 4,55 metros de largura por 7 metros de comprimento, 14 cores diferentes, sendo que nos desenhos, o clássico mistura-se com traços modernos mais arrojados, e a sua confeção envolveu mais de um mês de trabalho de equipa.

O tapete que foi substituído regressou à Póvoa de Varzim e ficará no Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim, onde está patente a exposição ”Fábrica dos Tapetes de Beiriz: 1919-2019”, no âmbito das comemorações do centenário.

Saiba um pouco mais da história desta fábrica centenária do nosso concelho:

Em julho de 1919, Hilda de Almeida Brandão e seu marido Carlos Rodrigues Miranda criaram uma pequena oficina de tapetes no pequeno lugar de Calves, na freguesia de Beiriz, e a sua instalação ficaria completa “pelo fim do tempo dos banhos”, mais concretamente em novembro de 1919.

Depois da morte de Hilda de Almeida Brandão Rodrigues Miranda, ficaram a dirigir a Fábrica os seus filhos e o seu marido Rodrigues Miranda e, posteriormente, a administração foi assegurada por outros familiares, até meados dos anos 70.

Em 1975, a Fábrica viu-se obrigada a fechar devido, não só às vicissitudes políticas do nosso país, mas também à concorrência do baixo custo
das alcatifas industriais.

Assim, não foi possível manter a Fábrica de Tapetes de Beiriz, nos moldes em que havia sido fundada e este património artesanal e cultural de Beiriz, da Póvoa e do país poder-se-ia ter perdido. Mas, em 1988, o casal Heidi Hannemann Ferreira e José Ferreira decidiu recomeçar a produção de tapetes em Beiriz, recrutando antigas artesãs da Fábrica, exímias conhecedoras do exclusivo “nó de Beiriz”. Após meses de pesquisa e de recolha de material, coligiram importante espólio da antiga Fábrica. Encontraram velhos teares que recuperaram, os desenhos dos cartões e as antigas operárias, as verdadeiras guardiãs deste saber inestimável, que demonstraram adesão total ao renascido projeto. Foram precisos cinco anos para reconstituir Beiriz e a sua tradição. Ficou decidido instalar a nova Fábrica relativamente próxima do lugar de Calves, no chamado lugar da Quintã, atrás da igreja matriz.

Os antigos teares rústicos dos tapetes de Beiriz encontraram novo lar e viram as suas teias serem novamente dedilhadas pelos dedos de 15 mulheres que tão bem os conheciam, com os cânticos da leitura dos desenhos a entoarem sobre os batimentos da teia e entre os ramalhetes coloridos das lãs que pendiam nas suas estruturas de madeira.

Assim se faz um Beiriz: teares rústicos – peças imponentes na sua singeleza, feitas em boa madeira, com matéria-prima de boa qualidade-, a lã e a juta, artesãs especializadas e dotadas de grande sabedoria.

A “nova Beiriz” recomeçou a funcionar em março de 1989 com apenas 15 pessoas e, em 1998, trabalhavam 56 funcionários na produção de tapetes, tanto de Beiriz, como numa nova qualidade, o tufado manual, que alargou o mercado.

O ano de 2008 pautou-se por grandes transformações na fábrica. A reforma de Heide e a entrada de sua filha Cátia Ferreira, coincidiu também com a conhecida crise económica, que obrigou a uma reestruturação massiva da empresa. Assim, em 2013, já com apenas 20 funcionários, Cátia Ferreira e seu marido Licínio Oliveira deslocaram a fábrica para as atuais instalações, na Rua Comendador Brandão, mesmo em frente ao edifício da antiga Fábrica de Tapetes Beiriz, onde tudo começou agora com a denominação: “Fábrica Artesanal dos Tapetes de Beiriz”.