Por isso, a conferência
ontem proferida por José Paulo Antunes no âmbito do 5º Ciclo de Música Sacra
não poderia ter melhor contexto. Afinal, o tema foi “Música Mariana na Liturgia
de Hoje: desafios e possibilidades”.

“Portugal é o país
europeu onde a vivência da Espiritualidade Mariana é mais rica”, começou por
explicar o conferencista, professor na Universidade Católica, contando ainda
que a devoção à Virgem é antiga, dando o exemplo de D. João IV que em 1646
declarou Nossa Senhora da Conceição Padroeira de Portugal. Portugal não é, no
entanto, um exemplo isolado, sendo que esta devoção é já uma realidade desde os
primórdios do Cristianismo.

Se o papel de Maria
tem inspirado “as mais belas obras de arte da História de Arte Cristã”, também
na música a sua presença é sentida, tendo, ao longo dos séculos, sido muitas as
composições a Ela dedicada como o “Avé Maria” entre outros hinos, poemas ou
antífonas. Muitas destas composições “integravam o reportório litúrgico”,
contou José Paulo Antunes, defendendo, no entanto, que “o que interessa aqui é
perceber o lugar que Maria ocupa ou que deve ocupar nas obras musicais
litúrgicas das nossas celebrações e definir alguns critérios para que essas
obras musicais tenham a devida adequação”.  

E para aprofundar
esta temática, apresentou à audiência alguns dos ensinamentos clarificados no
Magistério da Igreja, onde Maria é apresentada como Mãe de Deus, membro da Igreja
e participante no Mistério de Cristo. Entre os muitos contributos que compõem o
Magistério, foi apresentada a “Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis”, da
autoria de Bento XVI, cujo capítulo 33 é dedicado a Maria e ao seu papel na
Liturgia. Outro contributo é a “Colectânea de Missas da Virgem Maria”, que
explica como a presença de Maria pode e deve ser celebrada ao longo do ano, assim
como os atributos que se devem cantar.

Deste modo,
explicou, são muitos os momentos litúrgicos em que a Virgem Maria ganha um destaque
especial, que pode também ser acompanhado com Música Mariana – a celebração da
Imaculada Conceição, a 8 de Dezembro, da Santa Maria Mãe de Deus, a 1 de
Janeiro, da Apresentação do Senhor, a 2 de Fevereiro, de S. José, a 19 de
Março, da Nossa Senhora de Fátima, a 13 de Maio, da Assunção da Virgem, a 15 de
Agosto, entre outros. “É muito importante ver, nestas celebrações litúrgicas e
olhando para a estrutura da celebração da Eucaristia nestas datas, quais os momentos
mais adequados ao cântico mariano”, frisou.

Tendo em conta que
“a celebração litúrgica é uma acção comunitária, do Povo de Deus, e não uma
acção privada”, o Canto Litúrgico Mariano deve respeitar uma série de regras.
Assim, são de evitar os textos demasiados centrados no “eu” ou nos méritos da
Virgem, ou aqueles que não salientam o papel de Maria na Igreja. Alguns exemplos
foram apresentados, como “A Treze de Maio”, que por ser um cântico narrativo
não se enquadra na Liturgia, “Bendizemos o teu nome” ou “Senhora nós vos louvamos”,
aos quais faltam elementos que relacionam Maria ao Filho e a Deus. No entanto,
não significa que estes cânticos não possam ser usados em contexto de catequese
ou entre grupos de amigos. Por outro lado, existem “textos indiscutíveis” no
que respeita à sua adequação. “O texto bíblico tem sempre fundamento”, contou,
dando como exemplos o “Avé Maria”, o “Magnificat” ou o “Regina Coeli”.

“Além da Eucaristia,
existem outros sacramentos com lugar para louvar a Mãe de Deus”. Exemplo será o
sacramento do Matrimónio, mas também ele nos momentos adequados, como “antes da
Oração dos Fiéis e também no final da cerimónia, altura em que se entrega o ramo
a Nossa Senhora”. No momento pós-comunhão o Cântico Mariano pode também ser
entoado, desde que devidamente contextualizado.

Assim, em jeito de
conclusão, José Paulo Antunes defendeu a necessidade de a Igreja “repensar e
enriquecer a celebração litúrgica com modelos celebrativos mais flexíveis e
mais ricos” que iriam, também, “enriquecer a vida litúrgica das comunidades”.
Os textos bíblicos serão sempre um bom ponto de partida, “poderia se construir
uma celebração à volta da divisão estrófica das orações”.

E recordando de novo
o Magistério da Igreja, contou que o Sagrado Concílio apelava já ao “fomento
generoso” do culto a Maria, sobretudo o culto litúrgico, tendo, porém, o
cuidado de “evitar falsos exageros” ou “demasiada estreiteza”.

“Que a Música nos
ajude a todos a cumprir este desejo”, concluiu.

O V Ciclo de Música Sacra da Igreja Românica de S.
Pedro de Rates termina a 30 de Maio, incluindo uma série de concertos, no dia
14, às 21h30 e nos dias, 16, 23 e 30 às 18h30, sempre na Igreja Românica.
Conheça o programa deste evento, organizado pela Junta de Freguesia e pelo
Conselho Pastoral Paroquial de Rates com o apoio da Câmara Municipal, no portal
municipal
.