Na sala de atos do Cine-Teatro Garrett, esta quinta-feira, dia 25, pelas 19h30, a conversa foi aperitivo para o jantar, num ambiente entusiasmante a ouvir falar quem foi aluna e amiga do poeta e ensaísta português, rodeada de admiradores e amigos de Mourão-Ferreira, como é o caso do próprio José Carlos Vasconcelos.

Esta obra traz muitos elementos novos sobre o poeta e ficcionista, incluindo numerosos inéditos, de que são exemplo as várias peças de teatro. Vasconcelos considerou o livro “um referencial sobre o David, quer sobre a sua vida quer sobre a sua obra”. Por outro lado, a autora soube dosear a atenção do leitor, captando-o pela forma como estruturou a publicação. Teresa Martins Marques explicou que preferiu orientar a escrita tendo por base a personagem favorita de David Mourão-Ferreira – Ulisses. Então, os capítulos estão relacionados com a epopeia de Ulisses, relacionando-se perfeitamente com a temática das várias fases da vida de David. E apresentam a grande vantagem para cativar o leitor, “cada capítulo pode ser lido independentemente dos outros”, explicou a autora.

A criação de David Mourão-Ferreira começa logo na infância e o livro desvenda o primeiro escrito, uma frase: “aos sete anos, David escreveu no verso de uma ficha da Biblioteca nacional «O David é um republicano»”. A produção na infância vai funcionar como impulso para todo o restante percurso na escrita até David se afirmar na Literatura.

Há facetas diferentes do escritor que são desvendadas nesta obra, como o desvanecimento da ideia que o público tem de que David Mourão-Ferreira é o poeta da mulher e do amor. A autora adianta que “o erotismo nem sequer é o tema dominante na sua ficção”, não se podendo esquecer as mulheres manipuladoras e falsas retratadas em Gaivotas em Terra. Para além disso, é dado a conhecer um lado sombrio, “um submundo tenebroso que se nota em toda a obra” de David Mourão-Ferreira, amargurado por traços “edipianos” mal resolvidos em muitos dos escritos no seu espólio e com que a autora se deparou ao lhe ser delegada pela viúva a responsabilidade de estudar esse legado.

As peças de teatro de que o livro dá conta e em que alguns dos textos são publicados são outra novidade. Teresa Martins Marques referiu que o escritor queria muito ser dramaturgo e romancista, mas a sua exigência estética era tão elevada que não considerava os escritos suficientemente bons para serem publicados, havendo, por isso, muita coisa que ficou por desvendar no seu espólio.

Teresa começou este trabalho em 1993 para a tese de mestrado e acabou por resultar neste livro, “a minha tentativa de aumentar David”, sublinhou, porque “dizer que David é o amor e a mulher é muito pouco, é como dizer que Paris é apenas a torre Eiffel”.

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