Antigo
Ministro das Finanças, entre 1976 e 1978, e analista atento, Medina Carreira
recorreu aos números para suportar a sua análise, que revela um Portugal a
atravessar uma situação económica e financeira difícil e que exige a adopção de
medidas difíceis para evitar problemas ainda mais graves num período de pouco
mais de cinco anos. “O que o país precisa, neste momento, é de conhecer a verdade
e a real dimensão dos problemas que enfrenta e que ainda virá a enfrentar”,
afirmou o fiscalista, acrescentando que “estes problemas não se resolvem ao
trimestre, com o governo a congratular-se da cada vez que a economia melhora
meio ponto percentual”. Para Medina Carreira, uma tal atitude não passa de
estratégia política, uma vez que poucos são os que admitem aquelas que, na sua
perspectiva, constituem as reais dificuldades do país: “a falta de ambição; a
falta de preparação, apesar dos grandes investimentos realizados na educação,
que gera um sistema de ensino em que os alunos não são estimulados a
raciocinar, mas antes a receber, sem questionar, as matérias leccionadas; a
existência de um Estado do qual dependem, pelo menos, cinco milhões de pessoas
(funcionários públicos, desempregados, pensionistas, políticos); o elevado
endividamento público; a grande dependência energética; os poucos factores de
atracção para o investimento estrangeiro; um sistema jurídico lento”.
A sua visão
desapaixonada de um país em dificuldades, suportada por números reveladores do
crescimento do Produto Interno Bruto do país desde 1960 até aos nossos dias e
que permitem também comparar a média de crescimento de Portugal com os
restantes países da União Europeia, acabou por suscitar a intervenção de várias
pessoas do público. A conferência foi, pois, bastante participada, com Medina
Carreira a recorrer sempre aos números que apresentou para suportar os seus
argumentos e contrariar as opiniões da assistência.
O antigo
ministro fez questão de sublinhar o seu afastamento da vida política, o que, na
sua opinião, lhe dá a liberdade necessária para fazer as suas análises e as
suas análises, como ele próprio afirma, baseiam-se na verdade dos números e na
constatação da evolução histórica do país e do contexto internacional em que
este se insere. E, de acordo com os gráficos projectados, Medina Carreira falou
de um Portugal cujo PIB cresceu uma média de seis por cento ao ano, entre 1960
e 1975, porque, segundo ele, “o governo podia, então recorrer aos mais variados
mecanismos para proteger a economia: desde a valorização e desvalorização do
Escudo, a implementação de impostos alfandegários proteccionistas até à
alteração das taxas de juro”. E apresentou depois o declínio entre 1975 e 1990,
com o PIB a crescer já só quatro por cento e, finalmente, o período de 1990 a
2005, com um crescimento de dois por cento. Para tentar explicar este baixo
crescimento, Medina Carreira enumerou uma série de problemas estruturais do
país aos quais acrescem a perda de intervenção do governo na economia, fruto da
integração europeia e da adesão ao Euro. 
Para o conferencista, Portugal
atravessa, pois, uma situação difícil, e só a adopção de medidas duras, no
sentido da diminuição da despesa pública e da alteração de sérias lacunas
estruturais que o país enfrenta, poderão permitir encarar o futuro com o pouco
mais de optimismo.
Henrique
Medina Carreira esteve na Póvoa como convidado do ciclo de conferências “À
conversa com…”, organizado pelo Interact da Póvoa de Varzim com o apoio da
Câmara Municipal.
“Finanças Públicas: o Presente e o Futuro” foi o tema que o conhecido fiscalista
e antigo Ministro das Finanças (entre 1976 e 1978) trouxe ao Salão Nobre da
Câmara Municipal. Licenciado em Direito e Pedagogia, Henrique Medina Carreira
tem ainda formação na área da Engenharia Mecânica e da Economia e é um
reconhecido especialista na área da Fiscalidade, tendo publicado várias obras
sobre o tema. Para além da sua carreira na área do Direito e da política, onde
se iniciou como Subsecretário de Estado do Orçamento, entre 1975 e 1976,
durante o VI Governo Provisório, Medina Carreira dedicou-se também à advocacia,
à consultadoria em empresas e à docência universitária, nomeadamente no
Instituto Superior de Gestão, Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da
Empresa e Instituto Superior de Estudos Financeiros.